Davi Reis - Poesia

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Filho da Minha Vontade (Pra Lá dos Lençóis) - Davi Reis 19/03/2024

𝐅𝐢𝐥𝐡𝐨 𝐝𝐚 𝐌𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐕𝐨𝐧𝐭𝐚𝐝𝐞 (𝐏'𝐫𝐚 𝐥á 𝐝𝐨𝐬 𝐋𝐞𝐧çó𝐢𝐬) [𝟒’𝟎𝟏”]

𝑴𝒆𝒎ó𝒓𝒊𝒂 𝑫𝒆𝒔𝒄𝒓𝒊𝒕𝒊𝒗𝒂:

(É Dia do Pai...) A canção "Filho da Minha Vontade (P'ra lá dos Lençóis)" começou a ser composta no final de 2013, início de 2014, e foi originalmente publicada na página ReverbNation e no blogue Caderno de Corda a 3 de setembro de 2014. O primeiro esboço foi ainda apontado no Micro BR, mas, entretanto, comprei o BR-800, incrementei os meios e as possibilidades e ali concluí a canção. O BR-800 é um gravador de oito pistas, também Boss, irmão mais velho e 'on steroids' do pequenote, que desde então ficou guardado na caixa de origem. Apesar de, à excepção da voz, ter a canção totalmente composta e gravada há muito (provavelmente desde Março ou Abril de 2014), só na madrugada de 2 para 3 de Setembro de 2014 gravei algumas pistas de voz que faltavam, masterizei e de imediato publiquei no quartel-general das canções – a página ReverbNation sob pseudónimo deste que Vos escreve.

A canção terá tido origem quando tocava o Guitalele GL-1, da Yamaha, que comprei no final de 2013, e constitui, até ao momento, a materialização mais sólida de uma ideia original embalada pelo som desta espécie de ukulele barítono acústico com seis cordas de nylon (uma pequena viola com som de ukulele e afinação em LÁ). Apesar do andamento mellow da canção, entre aquilo que à partida poderia ser mais easy going (e listening) e aquilo que seria decorrente da minha experiência directa e das minhas preocupações mais prementes e efectivas, optei por escrever uma letra o mais pessoal possível, de subtexto mais agri do que doce. Dedico-a inteiramente ao meu pai, ainda que ele, tendo acompanhado de perto todo o processo, já não o pudesse aquilatar, pelo menos lucidamente.

Antes de enumerar os instrumentos usados na gravação, devo mencionar a colaboração do meu talentosíssimo, querido e velho amigo Nuno “Dino” Rodrigues, que me recebeu em sua casa, no seu estúdio caseiro, para gravarmos juntos o coro que se ouve entre os 2’35” e os 3’07”. Esse facto torna esta a única das minhas canções caseiras na qual se ouve outra voz que não a minha. À excepção do coro, tudo foi feito no gravador digital de oito pistas Boss BR-800 com o microfone de condensador largo Golden Age Project FC3, uma pandeireta, um shaker artesanal de madeira, um Guitalele Yamaha GL-1 e as guitarras electro-acústica Ibañez EWC-30 de cordas de aço e a eléctrica Duesenberg Starplayer TV.

𝑹𝒆𝒄𝒆𝒏𝒔ã𝒐 𝑨𝒖𝒕𝒐𝒄𝒓í𝒕𝒊𝒄𝒂:

Escrevi acima ter optado por escrever uma letra pessoal, mais agri do que doce. Estava novamente na Calçada de Santo António, em Lisboa, na casa onde fui criado. Depois de ter sobrevivido à inevitabilidade de estar há mais de uma década largado ao mundo sem rede, regressei a casa para me assumir como tutor e cuidador do meu pai, que se encontrava a sofrer de uma demência extremamente precoce, num processo degenerativo muito acelerado que o tornou totalmente dependente muito antes dos sessenta anos, e que terá começado a manifestar-se tinha ele menos de cinquenta anos.

Quis o Universo que, nesse período, o João Trigo, Irmão escrito nas estrelas e na música, me desse a mão e me tenha proporcionado, nesse mesmo período, uma experiência profissional tão intensa como rentável. Trabalhava inteiramente a partir de casa, de onde não me podia ausentar por períodos longos, e o trabalho era tanto (e pago à peça) que dediquei quase inteiramente seis anos da minha vida a cuidar do meu pai e a trabalhar de dia e de noite. Não deixa de ser assinalável, agora que penso nisso, ter conseguido ir buscar energia para escrever canções como esta.

Mas sei de onde veio o estro, a dita energia. Enquanto compunha e gravava tinha o meu pai silente, muito atento, com olhos de coruja, invariavelmente sentado num banco enquanto comia ou já depois de ter comido, a escutar-me. Batia o pé no ritmo certo, por vezes percutia a mão na coxa, como sempre fizera, com perfeito sentido de ritmo. Sei que quando estava deitado no quarto mantinha-se acordado a ouvir a música que se tocava na sala, e gostava. O “Naninho” ouviu e viu tudo, acompanhou todo o processo. Eu ia-lhe dizendo que a canção era para ele, perguntava-lhe se gostava e sorria, o meu menino (choro, sim, choro enquanto escrevo estas linhas).

Quando masterizei a canção, fui buscá-lo ao quarto para que pudesse finalmente ouvi-la terminada nos fones – ele ouvira tudo, mas tocado e cantado em partes instrumentais, gravadas por pistas, pelo que não tinha a percepção do todo, uma vez que a escuta do BR-800 se encontrava apenas nos meus phones. Foram quatro minutos inesquecíveis, vê-lo de cascos nos ouvidos, durante os quais sorriu, meneou a cabeça e o corpo, como se subtilmente dançasse, e, perdendo a noção do silêncio à sua volta, trauteou a melodia como soube, ele que já não sabia falar e de quem já quase não se ouvia a voz.

Não haja dúvidas: "Filho da Minha Vontade (P'ra lá dos Lençóis)" é uma canção inteira e directamente dedicada ao meu pai, Orlando de Brito Simões, que faleceu na madrugada de 20 de Março de 2020, com 67 anos. Estava então numa casa de repouso em Santarém e, duas semanas antes, havia sido internado no Hospital de Santarém, donde teve alta ao final de três dias com diagnóstico de infecção respiratória aguda, a pesar cerca de quarenta quilos. Não me deram esperanças de melhoria e precisavam de desocupar camas para dar resposta a uma vaga de casos de um estranho vírus de que se começava a ouvir falar nas notícias. Não foi testado para despiste de Covid-19, não havia como ainda.

Nesses dias, o Governo decidiu proibir as visitas a lares e casas de repouso. Não pude mais ver o meu pai, sabendo-o a morrer. A médica que o assistia na casa de repouso, e que prestava também serviço no Hospital de Santarém, foi entretanto testada positivamente. A última imagem que tenho dele: beijá-lo nos lábios, como fazíamos tantas vezes, na sala de convívio da casa de repouso, depois de trazê-lo de carro e nos braços do hospital, como uma pluma. Não houve velório e o funeral, limitado à presença de vinte pessoas, realizou-se de máscara e (quase) sem contacto físico. Se não há curiosidades, mais relevante se torna referir que, ordem do caos e do acaso, este texto tenha sido escrito já a 19 de Março de 2024, Dia do Pai, véspera do aniversário da sua morte.

𝐅𝐢𝐥𝐡𝐨 𝐝𝐚 𝐌𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐕𝐨𝐧𝐭𝐚𝐝𝐞 (𝐏'𝐫𝐚 𝐥á 𝐝𝐨𝐬 𝐋𝐞𝐧çó𝐢𝐬) - 𝐥𝐞𝐭𝐫𝐚

Vem, deixa-te aninhar.
Perdi-me p'ra te encontrares.
És tu quem me viu nascer...
Eu sou Édipo sem querer...

Dorme e come,
deixa a confusão
p'ra lá dos lençóis.

Vais deixar-me sem memória,
olhos fundos, perdidos, a boiar sem glória,
e eu vou ver como a Liberdade
rouba um beijo às portas da cidade
- saudade de sentir saudade,
filho da minha Vontade...

Bem pode chover lá fora
e nem que a terra trema,
estás a salvo sob a minha asa
numa casa que o Amor sustenta.

Mas eu vou ver como a Liberdade
rouba o Sol à tarde...
Nada temas, volto p'ra abraçar-te.

Não estás só. Não estás só...

Come e dorme,
deixa a confusão
p'ra lá dos lençóis.

📽

Filho da Minha Vontade (Pra Lá dos Lençóis) - Davi Reis Videoclip de "Filho da Minha Vontade (Pra Lá dos Lençóis)", realizado por Davi Reis em software gratuito com recurso a imagens ilicitamente obtidas através d...

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