Poesia ultra-romântica, ou talvez não

Mãe

Aquele carinho, aquela meiguice,
aquele beijinho, aquela ternura,
aquela candura, aquela patetice,
o olhar aprovador, o dedo acusador,
aquela força telúrica, aquela compreensão telepática,
aquela expressão enigmática.
Mãe, a palavra mágica, sentida e com sentido,
criada sob o signo da Bondade e da Beleza,
venerada, respeitada, com singeleza!

Quando começaram a morrer os meus dilectos imortais,
percebi que era tão mortal matéria como os demais!
O mais mórbido da situação baseia-se no facto de que, se a minha apreensão da Mortalidade fosse total,
a minha existência remanescente seria insustentável, desprovida de Sal.
A Realidade é já tão precária e caliginosa,
que urge escaparmo-nos dessa nebulosa!
O Passado foi há um segundo,
o Presente é o nosso único e objectivo Mundo,
o Futuro, imprevisível, pode ser vaticinado,
se for trabalhado, planeado, tenteado

Pai

Vai, pai, vai, encontrar-te comigo, no local onde moram o sono e o sonho como abrigo,
reduto inerme, inofensivo, sem perigo, onde a epiderme não é acometida por penalidade ou castigo.
Vai, pai, encontrar-te comigo, onde o clima é ameno e amigo e a lágrima nunca cai. Olha, pai, quando te sonho, olvido este Planeta tristonho e medonho, que encontro, quando desperto e tenho consciência da tua ausência terrena, que tolda a minha clarividência.

Enquanto, em mim, existirem vestígios de uma criança, vai persistir a Esperança, enquanto, em mim, houver vontade para uma dança, vai manter-se a Esperança, enquanto houver tempestade, haverá bonança e não acabará a Esperança, enquanto houver sonhos, haverá Esperança, enquanto houver uma réstia de Sol, haverá Esperança, enquanto houver vida, haverá Esperança, enquanto eu vir um sorriso de uma criança, haverá Esperança!

Alva rapariga,
meu coração castiga,
com olhos cor-de-mel
e sorriso que me afasta do travo do fel

Não lhe disse o quanto por ela estava atraído, mas não a consigo apagar da memória,
de uma incompleta e inacabada estória,
que só será esquecida quando deste Mundo tiver partido

Ideal, ideia que me faz bem
esta moça bela que me entretém,
é pensamento que me rejuvenesce

É verdade que não me tira vintém,
é saudade saudável,
é lembrança agradável!

Feliz Dia Internacional da Mulher!! 👸🌸

O silêncio da noite,
o ruído da boite,
tão díspares nos decibéis,
tão perturbadores das leis

Prefiro o silêncio nocturno,
que me diz tanto,
que me fala em pranto,
num saudosismo soturno, por vezes,

Mas, noutras ocasiões, me enche de euforia,
em arraiais de polifonia,
nesses festivais bem portugueses!

E é nesse desequilíbrio, que busco a estabilidade,
nessa eterna necessidade
de Liberdade...

A indolor dor visitou o meu neutro e morno Coração,
penso que não minto, quando afirmo que nada sinto,
um vazio avassalador que preenche o meu quotidiano de solidão,
imagens indeléveis atravessam a minha conturbada mente,
como projécteis ferindo os meus olhos,
são óbices à minha sanidade e felicidade,
são dias sem dia, nem Luz,
foi aquela Partida que me fez filho pela metade...

Acredito piamente, que te vou ver novamente, meu amado Pai!
Partiste precocemente e deixaste-me mudo, atónito, estarrecido. Embora não houvesse esperança científica na tua recuperação, havia aquela secreta esperança no meu trémulo Coração, porque enquanto há vida...
Nos últimos dias, disse-te que te amava muito, frequentemente. Mas teriam sido suficientes e, minimamente, satisfatórias, essas fagueiras e sentidas palavras? Talvez não. Mas tentei oferecer-te uma ínfima porção, de Amor e Dedicação, daquela que tu me deste.
Foste um pai extremoso, generoso, bondoso, trabalhador, humilde, demasiado honesto para os tempos hodiernos. Amo-te, pai! Vemo-nos em breve! Beijo grande do teu filho

Coração, que é coração, não deixa soçobrar o Amor,
impacienta-se e alimenta-se da Chance do Romance!
Ecoa o Canto Lírico do Namoro, o anzol da Sereia,
a Sedução que se tenteia,
esboroa-se a barreira do Silêncio entre as vítimas de Cupido e surge o enamoramento,
a Paixão avassaladora, vertiginosa, arrebatadora,
nasce um Sentimento,
vincado, vencedor,
venera-se o Amor!

O frio, humanamente acalorado de 24, para 25 de Dezembro, é o mais belo momento de comunhão de que me lembro! Ali, naquela mesa, estamos reunidos em paz, harmonia e amor.
Este ano, sentirei a tua falta, pai, ausente na Unidade de Cuidados Continuados da Misericórdia de Vila Real, orando ao Deus Menino, para que regresses, a breve trecho, a casa!
Neste Natal, trocava Tudo, pela tua diáfana presença, meu cândido pai! Recordo-me das nossas brincadeiras, conversas e piadas Natalícias, das Delícias da Quadra e percebo, só agora, o quão felizes fomos! Mas tu voltarás e dirás adeus à letargia que te inibe o sorriso.
Quando regressares, fará Natal no meu Coração, amado Pai! Feliz Natal!

Mãe, sem contrapartidas, nem contradições, sempre me amaste! Coração enorme e fagueiro, preparado para me dar amor por inteiro, alma pura, imaculada, buscando uma conduta irrepreensível.
Preenches-me, enches-me de alegria, sorvo a tua bondade, a tua paciência, a tua ciência, a tua insistência por me dares consciência da relatividade da Vida! Como te amo! Desinteressadamente, assertivamente, infinitamente. Daqui a meia-hora, fazes anos! Obrigado por tudo, beijo do teu filho!

Memórias,
desenhos da Mente,
frementes, potentes,
urgentes, prementes.
Dias, tardes, noites indeléveis,
vividos com tal intensidade,
propriedade do nosso Eu,
desde a mais tenra idade,
até provecta Primavera.
Memórias, possuo muitas, de mim e dos outros,
mas omnisciência só Deus!
Tempos houve em que descri,
tudo pedi e nada a Ele agradeci,
me revoltei contra Si numa sedição juvenil,
mais tarde me conformei (parcialmente) com a sua Vontade,
Tudo tive e nada tive,
e agora, que nada tenho, tudo tenho!
Tenho Fé, uma Luz que alaga o meu Coração solitário de Felicidade, mesmo quando ela anda arredia de mim!

Nem sempre a Escuridão é Treva,
nem sempre o Silêncio nos quebra,
nem sempre a Luz se celebra,
quando a calma da Alma é regra e impera!
Permaneço nesse esquecimento do Mundo, nesse Mini-Cosmos,
nesse Universo profundo,
onde realmente nos fundamos e Somos.
Indolor, incolor, sem pudor, sem desamor,
me entrego à noctívaga Meditação.
Aproveito a noite, que o amanhecer tarda,
e antes que a clepsidra da vida arda,
agradeço a Deus por estar, momentaneamente, vivo,
que a Treva pode ser um Estado definitivo...