Prof. Flávio Ricardo Vassoler

Pessoal, há pouco, o Fábio, um rapaz que acompanha o meu trabalho no YouTube me mandou o seguinte e excelente comentário, a partir de uma foto que tirei aqui em Buenos Aires, hoje pela manhã, e postei em minhas redes: uma estátua de um casal bailarino, muito poética e romântica. Como texto em diálogo com a minha foto, escrevi o seguinte:

A beleza deveria salvar o mundo, mas, sob essa bela estátua, no bojo de uma fonte desativada, havia um sem-número de moradores de rua tentando dormir sob rajadas de vento a 8 graus centígrados.

Buenos Aires, Argentina, agosto de 2024.

Aqui vai o excelente comentário do Fábio, que me fará, tão logo eu esteja de volta ao Brasil, ministrar uma aula a respeito (o tema é importantíssimo e visceral).

MUITO OBRIGADO, Fábio, um abraço, amigo!

Almoço em La Recoleta, no coração de Buenos Aires: bife de Chorizo e creme de espinafre e batatas.

Amém.

A beleza deveria salvar o mundo, mas, sob essa bela estátua, no bojo de uma fonte desativada, havia um sem-número de moradores de rua tentando dormir sob rajadas de vento a 8 graus centígrados.

Buenos Aires, Argentina, agosto de 2024.

Por um momento, senti que a Dancing House, que f**a à beira do rio Vltava, em Praga, havia sido teletransportada para Buenos Aires.

Que este edifício seja visto como uma síntese do entrecruzamento antropófago de culturas, bem ao estilo de um Oswald de Andrade, que constitui a capital portenha: Paris e Chicago/Nova Iorque, primeira e segunda metades do século XX, Belle Époque e Guerra Fria, cafés literários e lojas de conveniência/shoppings.

Buenos Aires como um ornitorrinco, um mamífero que bota ovos (e toma mate).

A sede do Judiciário argentino, em Buenos Aires, circundada por protestos contra a destruição do Estado promovida pelo fascista Javier Milei. Vale frisar que, em cada órgão/repartição/instituição pública, cartazes e bandeiras de protestos e greves se espraiam como as necessárias barricadas contra as políticas de um aloprado que pretende destruir as bases civilizatórias na Argentina.

Sentinelas da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires.

Quem afirma que a concentração é um substantivo abstrato nunca sentiu ao redor de si a atmosfera densa e absorta de quem lê como que a entregar a alma.

Biblioteca Nacional Argentina, Buenos Aires, agosto de 2024.

O edifício da Biblioteca Nacional Argentina, em Buenos Aires, me levou, a bordo do tapete voador do déjà vu, aos prédios da Faculdade de Arquitetura e da Faculdade de História e Geografia da USP, cujas feições mais sisudas de concreto se veem amenizadas pelos respectivos vãos, que parecem incluir e transformar os estudantes na base mesma (as pilastras) das instituições e seu sentido (o MASP, por sinal, me traz essa sensação).

Pessoal, compartilho com vocês um dos maiores presentes que eu já recebi nestes meus 42 para 43 anos: o comentário de Jacyelle Dutra no vídeo "Vassoler responde: O que eu penso sobre Sílvio Santos?".

Jacyelle não só demonstra profundo conhecimento da obra do meu pai espiritual Fiódor Dostoiévski, em um de seus capítulos mais fundamentais, como o correlaciona com a vocação e o amor com que eu vivencio as humanidades - além de entrever minha trajetória como rematada contraposição à indústria cultural.

Muito obrigado, querida Jacyelle! Pessoas com a sua inteligência, sensibilidade e fraternidade acalentam a valer a minha vida. Um grande abraço!

Flávio Ricardo Vassoler

A beleza ocre, altiva e austera (em suma, a beleza anglo-saxã) deste edifício de uma das faculdades de Engenharia da Universidade de Buenos Aires (UBA), em face do escorregador, cujo laranja vivaz parece reclamar para si todo o amanhecer, me remeteu, sem mais, a um aforismo nietzscheano da minha inteira e eterna predileção: "Maturidade do adulto: recuperar a seriedade da criança ao brincar".

Where the rainbow ends.

Buenos Aires, agosto de 2024.

Porque a elegância, em Buenos Aires, é como uma libélula coagulada em âmbar.

Pais e filhos.

Fundação Internacional Jorge Luis Borges, Buenos Aires, agosto de 2024.