Juliana Navarro Psicoterapeuta Alquímica

“O mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz.
Depois árvore.”

Manoel de Barros.

No universo tudo é dual e quando aprendemos a compreender que luz e sombra coexistem, conseguimos ter mais facilidade em aceitar que a completude reside na integração de tudo. Assim como o feminino e o masculino precisam coexistir, assim como há dia, mas também há noite (e tantas outras dualidades), assim como a alegria só existe porque podemos sentir a tristeza, assim como a coragem só existe porque o medo também dá contorno, a esperança só existe porque o risco também se faz presente.

A fé é o impulso, a força de vontade, mas a esperança é o ato em fé e a atitude demanda aceitar o risco que todos os movimentos envolvem, principalmente abraçar o desconhecido. Então, sempre que você se ver diante do risco, lembre de como ele é importante para dar contorno à esperança e deixar ele ter o lugar que ele precisa ter, sem necessariamente te paralisar.

A vida existe e pulsa em sua máxima potência no encontro dos dois lados. De mãos dadas as polaridades criam caminho para a energia fluir.

Uma das coisas que mais percebo em consultório é a busca incessante pela perfeição. A necessidade de se estar “pronto” ou se chegar a um estágio que não demanda mais nenhuma alteração para poder seguir. 

Mas se ser perfeito significa estar 100% pronto, não há mais espaço para evolução, certo?

Agora… Você não acha meio contraditório (e até curioso) o fato de que tanta gente ainda se apegue à ideia de perfeição “100%” para poder dar os passos que almeja, sendo que o UNIVERSO segue em expansão (ou seja, ainda não está “pronto”)?

A verdade é que muitas vezes o ideal de perfeição é um mecanismo de defesa que esconde o medo de lidar com as incompletudes, faltas e imperfeições da vida. E essa ideia é bastante egóica, afinal se até o universo ainda está evoluindo, se transformando, aprendendo e é imperfeito, porque cargas d’água a gente tem que buscar esse ideal de perfeição de que algo precisa ser 100%?

Ao observar a natureza e toda a Criação, estamos abertos a enxergar a Vida em nuances que sequer imaginamos.

E de bônus, deixo uma informação para você refletir: as últimas medições do universo que os pesquisadores realizaram indicam que ele está se expandindo mais rápido do que o previsto pelos cálculos iniciais… Interessante né? E você, que assim como eu, faz parte desse universo, já parou para pensar em como isso influencia a sua vida, seus processos e a sua própria expansão?

A verdadeira perfeição demanda a imperfeição para existir.

Drª. Jean Shinoda Bolen é uma psiquiatra e analista junguiana norte-americana, cujo trabalho é muito baseado no desenvolvimento do conceito junguiano de arquétipos psicológicos da mulher e do homem e as implicações disso no desenvolvimento mental e espiritual dos indivíduos.

Sua obra também é muito reconhecida pela facilidade em traduzir os aspectos que dizem respeito ao olhar em relação à mulher e a correlação que faz com a mitologia.

Junto ao marido James Bolen foi co-fundadora em 1969 da revista “Psychic” (que eu 1977 foi rebatizada como “New Realities” e cujo enfoque é a abordagem de temas parapsicológicos e a relação mente-corpo-espírito.

A facilidade em traduzir assuntos profundos e transformadores para uma linguagem acessível e prática é o que mais me encanta no trabalho dessa mulher incrível.

À medida que vivemos, vamos colecionando experiências, relações, conquistas, comportamentos e isso vai nos dando rótulos aos olhos da sociedade. A profissão, a religião, a família, amizades, os estudos, os hobbies, os desafios, os traumas... São muitas as vias através das quais vamos ganhando esses rótulos e por isso eles são importantes, afinal nos ajudam a nos apresentar perante as pessoas e assim vamos costurando tantas outras novas experiências a partir disso.

Mas para viver de forma sadia, sem se deixar escravizar pela necessidade de sustentação de um rótulo (principalmente quando ele não faz mais sentido), é preciso ter sempre a lembrança atenta de que um rótulo não nos define. Ele nos ajuda a contar nossa história e a dizer um pouquinho a respeito de nós, mas ele é só um recorte.

Nossa definição maior é aquela que diz respeito à nossa essência. E ela transcende palavras, pois ela é o motor da vida. É energia pura que está sempre totalmente à nossa disposição. Nossas atitudes vão moldando o direcionamento dessa energia e assim vamos definindo nossos caminhos, nossa história. Por isso, a maneira mais íntegra de viver é saber honrar a história que nossos rótulos contam sem nunca esquecer que o que nos movimenta de verdade é nossa essência.

Hoje o post é só uma reflexão que veio para o feed.

Robert Fludd foi um médico, alquimista, astrólogo, matemático e cosmologista inglês. Profundamente influenciado pela obra do alquimista Paracelso, Fludd contribui muito para o estudo e principalmente para os registros sobre as correspondências entre macrocosmo e microcosmo e o desenvolvimento de experiências alquímicas que pudessem auxiliar no tratamento de doenças e na evolução do Ser humano.

“Na casa de meu Pai há muitas moradas.”

Jesus Cristo

“Toda Causa tem seu Efeito, todo Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei; e o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida.”

O Caibalion

É comum que as pessoas me perguntem qual a diferença entre o tratamento psicoterapêutico alquímico e outras linhas de tratamento, como a própria Psicologia, por isso criei esse post.

O tratamento psicoterapêutico alquímico não concorre com o tratamento psicológico e tampouco com o tratamento psiquiátrico e sim os ajuda a partir da complementaridade. Por isso, ele está mais para um compilado de vários dos recursos terapêuticos das chamadas PICs (Práticas Integrativas e Complementares em Saúde) além de outras ferramentas que dialogam também com o os conhecimentos científico, filosófico e mítico.

O fato é que a Alquimia é uma Escola de Pensamento muito plural e por isso há muitas vertentes e possibilidades de enxergar o mundo, a natureza, o Ser, a conexão entre todos esses elementos e como podem ser revertidos em Cuidado. E, assim, conseguimos ampliar o olhar acerca da compreensão do indivíduo e atuamos em questões que algumas vezes não são alcançadas por outras abordagens.

Minha prática de consultório busca essa multidisciplinaridade e inclusive procuro (e gosto de!) entrar em contato com os demais profissionais que atendem meus pacientes (quando ambos me dão abertura) para poder traçarmos, juntos, estratégias terapêuticas.

O resultado é sempre muito rico. Percebemos uma necessidade de medicação que se reduz com o tempo, inclusive chegando ao desmame de medicamentos em alguns casos, visualizamos uma amplitude no olhar e percepção do paciente a respeito da vida, e uma recuperação mais rápida na imensa maioria dos casos.

No momento em que escrevo isso, estava há pouco me sentindo assim… Um vazio sem sentido que ocupou tudo aqui. Não tinha nenhuma razão de ser, só mesmo uma sensação de vazio que chegou. Mas já há um tempo que entendi o quanto essa sensação é importante e linda de ser sentida.

Infelizmente aprendemos a brigar com o vazio e estacionar nele. Não nos foi ensinado que o mais importante em sentí-lo é abrir espaço para poder ver como a natureza adora um vazio, pelo simples fato de que ela precisa ocupar espaço, preencher de vida e dar movimento àquilo que outrora parecia inerte.

Aprendi a olhar para o vazio como um presente: a oportunidade de ver a natureza entrar em ação. E é lindo e surpreendente ver o que ela nos apresenta quando assim deixamos que ela atue.

Neste instante, logo após a sensação de vazio que sentia, fechei os olhos e conversei com o meu mais íntimo: “estou sentindo vazio, então que meus olhos e meu coração estejam abertos para contemplar a beleza do preenchimento”.

E tão logo abri meus olhos, acabei de ser apresentada a um caso de um ser humano que ajudou a outro que estava em profunda dor sem pedir absolutamente nada em troca. Quando a ele disseram “moço, você merece o que há de mais lindo na vida!”, ele respondeu “muito obrigado, eu já tenho!”. Não importa que moço ou que situação sejam essas. O que importa para mim é que essa história de esperança no ser humano e nas belezas que somos capazes de criar foi o que encheu o vazio que me ocupou hoje.

E assim sigo aprendendo a admirar todos os lados e coloridos, dores e delícias que a vida traz. A sensação de vazio foi só o preço e compensação para depois poder sentir uma esperança que transbordou na alma.

Um dos pontos de vista mais bonitos que a Alquimia nos traz é a beleza em se perceber como há uma dinâmica perfeita e comum a tudo e este elemento em comum é o comportamento da energia. Tudo na Criação é formado pelos quatro elementos: Fogo, Terra, Ar e Água. A observação da diferença de comportamento é o que molda a matéria em seus aspectos sutis e também materiais.

Por exemplo, quando vemos um vaso de cerâmica, percebemos claramente o elemento Terra devido a sua constituição. Mas precisamos lembrar que a moldagem da argila só foi possível graças à Água, o cozimento devido à presença também do Fogo e ao Ar, que inclusive se faz presente nos poros da cerâmica quando a vemos em um microscópio.

E o comportamento destes mesmos elementos molda nosso próprio corpo e nossa própria energia. Quando os compreendemos em essência, também temos a oportunidade de enxergarmos a nós mesmos nos nossos aspectos mais primordiais.

Incrível, não é?

Nicolas Flamel foi um importante Alquimista francês, que hoje é tida como figura emblemática e referenciada em filmes e livros de ficção, mas que foi um homem real que se dedicou a estudar e praticar Alquimia com muita verdade, prática e entrega.

Mais do que pensar no aspecto concreto do encontro da Pedra Filosofal, essa frase de Flamel nos lembra o quanto a Alquimia precisa se fazer presente na nossa essência, na nossa alma. Lapidar a alma é a chave do verdadeiro tesouro que um alquimista busca.

Maria Benícia Vieira foi uma mulher muito forte. No mesmo dia em que dava à luz seu oitavo filho, seu marido era enterrado após falecer em virtude da gripe espanhola. Conta-se que seu irmão queria retirar dela o único pedaço de terra que ela tinha como herança. Diante disso, ela se organizou e conseguiu apoio junto a um dos advogados mais prestigiados no lugar e defender sua terra. Era uma mulher muito caridosa e muito firme.

Como era uma das poucas mulheres alfabetizadas do local - e isso era uma raridade na época - ganhou, após o falecimento do marido, um livro do Doutor Luizinho, um dos médicos de Santa Bárbara, e assim começou a aprender muito sobre as plantas medicinais.

Era uma estudiosa sem igual, uma mulher de grande sabedoria e muitas pessoas vinham de longe para se consultar com ela. Quando seu filho Sebastião Teodorico se viu viúvo pela segunda vez, a chamou para morar com ele na Fazenda do Rio Claro, onde ficou até o fim da vida. E eram muitas as pessoas que iam até lá, vindas dos mais diferentes lugares, para se consultarem com ela. Eram muitas as histórias de como ela conseguiu ajudar pessoas que estavam muito doentes a se curarem, com relatos até de câncer ou doenças mais difíceis.

Quando ela prescrevia algo e mandava para os farmacêuticos da região, todos não só levavam muito a sério o que ela recomendava, como davam ciência ao que ela dizia e muitas vezes perguntavam a ela. Ela ficava boa parte de seus dias cuidando de plantas medicinais e, em um tempo em que não havia geladeira, passava os dias reduzindo as ervas, conservando-as e produzindo seus preparados.

Ela era a mãe do meu bisavô materno e faleceu cinco dias antes do nascimento da minha mãe. Neste dia, as pessoas se reuniram para fazer uma passeata em homenagem a ela.

O saber sobre as plantas e a habilidade em cuidar delas é algo que sempre foi muito natural para a minha família e poder escrever sobre como essa herança me habita é algo que me realiza e aquece o coração.

Julgar é fácil. E todos nós já estivemos neste Lugar e, por muitas vezes, seguimos nos colocando nessa posição. Julgar é preguiçoso, pois basta nos valer do que nos é conhecido e a partir dali, rotular e definir como vamos nos sentir e nos posicionar diante de algo. É cômodo. Mas é também reducionista e sempre cobra o seu preço.

Quando julgamos nos apequenamos em relação ao mundo, ao que nos rodeia, à Criação. Julgar nos posiciona de tal forma como se nossa verdade fosse maior, suprema ou absoluta e, na verdade, ela é somente um ponto de vista. É só nosso modo de ver o mundo.

Quando abrimos mão de julgar e optamos por observar, conseguimos sair de uma posição cômoda - mas muito pouco engrandecedora - para uma posição que se desvela mais rica, colorida e, por incrível que pareça, muito mais confortável, pelo simples fato de que é leve.

Observar nos integra ao Todo. Julgar nos separa, nos segrega de toda a Criação e essa é uma das maiores ilusões que vivemos: a de que estamos à parte de tudo.

Honestamente, não ouso aqui ter a pretensão de nunca mais julgar. Até porque muitas vezes vamos nos pegar, em primeiro lugar, nos valendo deste comportamento e isso faz parte de ser humano. Como eu disse, é fácil. Julgar de forma rasa é cômodo e, muitas vezes, é o primeiro movimento que faremos. A chave está em não nos limitarmos a essa atitude e, ainda que se julgue, que pelo menos se tente acionar o comportamento da observação. Não só porque é plural e nos engrandece o olhar, mas também porque é mais leve e compassivo, inclusive com nós mesmos.

Julgar, de verdade, é difícil. O malhete, famoso martelo que, junto da deusa Thêmis e da balança, é um dos símbolos mais representativos da justiça, tem dois lados, justamente por remeter à ideia de ação e reação e, principalmente, porque os movimentos do que ocorre do lado de fora possuem ressonância do lado de dentro. Por isso, mais uma vez, a ideia aqui não é de nos isentarmos de qualquer julgamento, pois muitas vezes teremos que encará-los na vida, precisaremos nos posicionar. Mas que, quando for necessário, o façamos de verdade, de forma íntegra e lembrando da ressonância, de como isso sempre vai reverberar no nosso mundo.

Paracelso é o pseudônimo adotado por Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, alquimista, médico e filósofo suíço, que revolucionou a medicina de seu tempo ao estudar as plantas e minerais de forma muito profunda, a ponto de lançar bases para o que seriam os estudos que Hahnemann desenvolveu na Homeopatia.

Criativo, inovador, questionador e muito observador, Paracelso conseguiu desenvolver uma série de estudos e trabalhos a partir de seu olhar único sobre o homem e a natureza e isso proporcionou a cura de doenças tais como o surto de sífilis que acometeu a Europa em 1530 e o tratamento da silicose, doença que acometia os mineiros de algumas regiões da Alemanha e Áustria e que até então era vista como castigo divino.

Controverso para muitos e várias vezes perseguido por ser forte em seus posicionamentos, foi um alquimista que deixou um legado extenso e impressionante.

Imagem: Quentin Matsys