Márcio Estamado

Márcio Estamado

Minha página é sobre os contos que crio e a Arte que embeleza a vida.

Gari poeta de Canoas lança primeiro livro com recursos próprios | GZH 23/09/2021

Isto só a Literatura, só os livros são capazes de fazer. As páginas de um livro provam que sonhar não tem limites.

Gari poeta de Canoas lança primeiro livro com recursos próprios | GZH Jonatã Nunes Amarante, 33 anos, parcelou o pagamento de quase R$ 2 mil pela tiragem inicial de cem exemplares de "Poeta do Asfalto"

08/06/2021

Conto inédito

QUINTA-FEIRA SANTA, SEXTA DA PAIXÃO

Mesas dispostas em fileiras de três ou quatro, com o mesmo número de cadeiras cada. À esquerda o balcão de salgados, logo na entrada, seguido pela caixa registradora cercada por guloseimas. Do outro lado do balcão as frutas expostas nas prateleiras afixadas na parede, em número menor do que prometem os cardápios de sucos.
O piso é de lajotas brancas, sujo com restos de salgados e manchas de bebidas. Ao fundo, coberto por uma tela, na inútil tentativa de proteção às moscas, está o balcão de self-service, a esta hora sem movimento. Observam-no duas águias em um quadro. Ambas têm garras afiadas. A da esquerda usa-as para segurar algo, que pode ser um peixe ou uma cobra. A da direita parece disp**ar a presa com a outra. Têm sob elas ondas de um mar revolto. Ao centro, um sol laranja-avermelhado, reproduzido toscamente. Completam o quadro caracteres orientais, como sempre, inacessíveis à maioria.
Do lado direito, desde a entrada até o fundo da lanchonete, um espelho cobre a parede. Entre conversas e risos, goles e mastigadas, não há quem resista a contemplar, por alguns segundos que seja, a própria imagem refletida.
E foi entre manchas de sujeira e pequenas rachaduras que vi o reflexo de seu rosto. Tinha os cabelos azuis. Piercing no nariz e tatuagem nas costas: a cabeça de um peixe cujo corpo, concluí, devia descer ao longo do corpo. O nariz era afilado e os olhos em um tom de castanho-claro que eu nunca vira até então.
Olhava fixamente para um ponto na mesa, que pela distância não pude distinguir. Uma carta? Anotações?
O barulho do canudo ao sorver o último gole de uma bebida é, para mim, sempre constrangedor. Mas pelo menos serviu, naquele instante, para que eu chamasse sua atenção. Um sorriso bonito.
Retribuí, meu rosto em uma vermelhidão crescente. Só então percebi que segurava minha velha pasta de couro firmemente junto ao corpo. Ela me olhou mais uma vez, pelo espelho. E então fui até ela.
-Com licença. Posso?
-Depende.
Outro sorriso.
-De quê?
-Vai tentar bancar o engraçadinho?
-O que é engraçadinho pra você?
-Depende. Mas senta aí, vai.
-Com licença.
-Você já disse isso antes.
Risadinhas. Olhei para a ponta dos meus sapatos. Ela usava um par de botas pretas e um vestido de cor quase igual à do cabelo.
-Não quis te constranger. Alice.
-Prazer. Sou o João.
-Só João?
-Como assim?
-Não tem Antônio, ou Pedro? Tipo um nome duplo?
-Nome composto.
-É, isso aí.
-Não. Só João mesmo.
-Legal. Você faz o quê? Pra estar em uma lanchonete, a esta hora e com esta roupa...
-O que tem minha roupa?
-Chique. Terno, gravata. Deve ser advogado, algo assim.
-Mais uma chance.
-Não gosto de jogar, não tenho paciência.
O terceiro sorriso me arrebatou por completo.
-Sou funcionário público, trabalho na prefeitura. Parte fiscal.
-Ah, então é por isso.
-O quê?
-É por isso que está aqui a esta hora, enquanto a maioria dos mortais trabalha, ah! ah! ah! E você parece ganhar bem.
-Por quê?
-Você se cuida. Tem boa pele, apesar dos cabelos quase todos brancos. Olha não tô te chamando de velho, tá? Voce é alto, bonitão. Tem o que, uns cinquenta?
-Completados semana passada.
-Nossa, sério?
-Sim.
-Você é sempre assim?
-Assim como?
-Calado. Sisudo.
-Nem sempre. Quando estou fazendo aquilo que mais gosto, falo pra caramba.
Pra caramba. Disse isso e ruborizei.
-E do que você mais gosta?
-Ler.
-Ler e falar ao mesmo tempo?
-Eu leio pra mim, mas também para os outros. Vou nas casas das pessoas e leio pra elas.
-Diferente isso. Você cobra?
-Cinquenta reais por hora.
-Caro, hein?
-Não é só a leitura. Tem a conversa, os comentários, dicas de outros livros e filmes...
-Tem muitos clientes?
-Dois, por enquanto. Comecei há apenas alguns meses.
Ela quase engasgou com o refrigerante que bebia. Mais risadas.
-Algum problema?
-Nada. Dois é pouco, né?
-Já disse que comecei não tem muito tempo.
-Os clientes...aposto que são as clientes.
-Sim.
-Você leria pra mim?
-Claro.
-Não tenho dinheiro.
-Pra você eu leria de graça.
Pela primeira vez em alguns minutos ela permaneceu calada. Bebia o refrigerante e me olhava fixamente.
-E você?
-Eu o quê?
-Faz o que aqui, a uma hora dessa?
-Sou universitária, estou aqui fazendo um trabalho.
-E os livros, os cadernos?
-Não precisa. Anoto tudo aqui, ó.
E bateu com a ponta do indicador (unhas curtas, mas bem cuidadas) na têmpora direita. Eu ri baixinho.
-Tá, você me pegou. Tô matando aula. Faço Psicologia.
-E seus...
-Meus pais são separados, ele mora no Canadá, ela gasta a grana dele e arranja um namorado por mês. Eu fico por aí. Satisfeito?
-Não. Mora com ela?
-Alugo um apartamento.
Os silêncios foram intercalando-se com opiniões sobre artistas, política, o preço do sorvete. Apesar, ou exatamente por nossa falta de jeito, a conversa se estendeu. No final, convidou-me para ir ao apartamento dela.
-Nem reparei, já são quase nove da noite.
-Acho que prendi você, né? Nem perguntei...É casado, tem filhos?
-Nem um, nem outro. E não se preocupe quanto ao horário. Amanhã é feriado.
-Ah, sim. Sexta da Paixão. Amanhã ninguém pode pecar.
Gargalhada irônica. Eu gostei.
O apartamento dela ficava longe. Perguntei, com um nó na garganta, se ela gostaria de ir à minha casa. Eu ia e voltava do trabalho a pé, todos os dias.
Caminhamos lentamente. Depois da pizza e dos refrigerantes, ela cobrou de mim o serviço gratuito.
-Lê algo que você gosta.
Li Shakespeare. Isso foi no sofá da sala. No quarto, foi a vez de Petrarca.
Pecamos muitas vezes naquela madrugada de Sexta da Paixão. Enquanto ela dormia, eu a contemplava. E sim, o corpo do peixe descia ao longo das costas, curvilíneo feito o de Alice. Caí em um sono profundo. Ao acordar, seus cabelos azuis já haviam partido.
Com a visão ainda turva, tive a impressão de ver algo sobre a cômoda (mariposa ou pedaço de papel?). Nem um, nem outro.
João, vamos manter as coisas como se encontram. Já basta toda a paixão que há no dia de hoje. He-he-he! Bj. Alice.
O bilhete estava debaixo de uma pequena imagem em mármore do Cristo crucificado, que mantive ali apenas por ter sido um presente de minha finada mãe.

Márcio Estamado

05/01/2021

Imagine-se tendo um professor que lhe abre as portas do mundo mágico e avassalador da leitura; ele transforma-se em uma referência, em um exemplo.

Até você descobrir que ele não só apoiava a ditadura dos anos de chumbo, como também passava informações suas e de seus colegas para os órgãos de tortura do exército.

Esta temática está presente em um dos ensaios deste excelente livro de Alberto Manguel , Novo Elogio da Loucura (eu acho que sem tradução para o Português).

Timeline photos 05/01/2021

A Rafaela V. Carvalho Advogada me honrando com a leitura da Adega. Obrigado pelo prestígio.

Quem me conhece sabe do meu amor pelos livros (não apenas leitura jurídica).

Desde pequena eu e minha irmã@gabihveiga passávamos tardes inteiras na biblioteca (naquele tempo se existia internet, nós não tínhamos acesso).

Os livros sempre foram meus fiéis companheiros. Quando pego um livro para ler, parece que esqueço do mundo, dos problemas, quando não estou muito bem a primeira coisa que penso é"preciso ler alguma coisa", e isso sempre me ajuda.

Se tem uma coisa que tenho certeza, é que um mundo sem livros, seria um mundo pobre, ignorante e sem graça.

O Livro que estou terminando de ler se chama "A Adega do Diabo" escrito por Márcio Estamado

Aceito recomendações de livros, ainda mais agora que estou de quarentena.

29/12/2020

Alguns foram marcados em listas anteriores, outros estavam marcados na memória afetiva. Outros estão à vista e foi mais fácil.
Bom... eu comecei ontem a listar (de maneira ambiciosa) todos os livros que já li até hoje. Recomendo o exercício. É uma maneira de avaliar como as leituras mudam (no meu caso, ao longo de vinte, vinte e cinco anos). E, ao mesmo tempo, um doce regresso. Ao escrever títulos e nomes de autores em folhas de papel, é como se eu estivesse lendo-os outra vez.

04/12/2020

ROSAS (conto inédito)

Sob as unhas, o marrom da terra. Olha para o dorso das mãos, a pele manchada lembra a casca das bananas maduras.
As estufas espalhadas pelo vasto terreno parecem agigantar-se. Ou é ele que está encolhendo?
Nas covas de exatos trinta centímetros, acomoda as mudas de roseira. Espalha a terra adubada em torno da raiz. O ponto do enxerto deve ficar um centímetro para fora, nem mais, nem menos.
E Rosa? Que erro cometeu para que não estivesse mais ali?
Chega o meio-dia, é hora de regar as mudas. E é assim todos os dias, até a floração. De vez em quando, uma lágrima cai no solo macio junto com a água do regador. Rosa, estás viva ou morta? Moras aqui, ou no estrangeiro? Talvez tenha virado freira. Ou p**a.
Rosa, por onde andas?
Mas enquanto ela não volta, as rosas florescem, vermelhas, amarelas, champanhe, brancas. Formam um mosaico colorido e perfumado. Quarenta e cinco dias depois de plantadas, é tempo da colheita. Corta as hastes das mudas novas bem curtas. Nas já formadas, o corte é de até dois terços do comprimento do galho.
E uma vez por semana, vai à delegacia de pessoas desaparecidas. Lá está a foto de Rosa, sorridente. Por precaução leva outra, no bolso das calças surradas e sujas de terra.
Pergunta mecanicamente. Nada. Paradeiro desconhecido, sem informações. Ninguém viu, ninguém vê há mais de dez anos. Rosa saía para o trabalho, quando sumiu.
Volta para casa. Senta na varanda, a foto nas mãos ásperas. Quando um suspiro entrecortado finalmente sai, o relógio da sala bate as horas.
É meio-dia, hora de regar as mudas. De vez em quando, uma lágrima cai no solo macio.

Márcio Estamado

02/12/2020

Rodopia, flutua.
Para.
Para no ar.
Para no ar, para brincar.
Flutua.
Pra que eu, cansado
Eu e o mundo, possamos ver.
O mundo é o quintal
O quintal é um mundo.
(Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima
Ou uma reles tentativa
De ser amigo do Drummond?)

Flutua
E desafia.
A física.
O vento.
Desafia um sentimento
Que é o de não sentir.
Me desafia a sorrir.
Flutua e leva
Leveza
Mas traz de volta
Que sem ela
Tu não existes.
E nem esse poeminha
Feito às pressas.

(Márcio Estamado)

04/07/2020

É bom quando a gente encontra novas inspirações.

Está definido o enredo para o próximo conto. Que já tem nome.

O Voo do Urubu

05/06/2020

Este é um conto meu que está disponível para download gratuito. Faz parte do projeto Brevíssimos, da Editora Bestiário.

CRIAÇÃO

O ajuste no colarinho engomado foi o ato final. Saiu da casa antiga e atravessou o pátio, que recendia a eucalipto, desde a véspera. As árvores, no entanto, haviam sido cortadas quando ele ainda era um adolescente.
Que obra de amor divino é nossa memória olfativa! Que reminiscências, que sensações um cheiro guardado em nossa mente pode trazer!
Mas os devaneios tinham de esperar. Entrou na sacristia ainda sob os últimos raios de um tênue sol de inverno. A batina pendurada aguardava, soturna. Vestiu-a e logo uma sensação de conforto o fez estremecer. Viu seu rosto no espelho, com as mesmas faces imberbes de quando entrara no seminário.
Persignou-se, pedindo luz para a celebração daquela noite. Foi apenas quando levantou-se que seus olhos detiveram-se na reprodução, um presente do monsenhor: A Criação de Adão, de Michelangelo.
Padre Roberto já tinha visto a obra dezenas de vezes, durante seus estudos no seminário, em filmes e em uma visita à Santa Sé, pouco antes de assumir a paróquia de sua cidade natal. Na quietude da sacristia, porém, o quadro parecia ganhar em beleza e força.
Nele, Deus Todo-Poderoso está cercado de anjos; a barba longa e branca dá ao Senhor um ar temível e ao mesmo tempo aconchegante, como o tio que mora longe e nos visita de surpresa; braços musculosos cumprem cada qual sua função. O esquerdo enlaça uma figura feminina que, entre anjos, observa com certa angústia o que o direito acaba de conceber: o primeiro homem. Criador e criatura tem seus dedos indicadores separados por curta distância. O porte robusto de Adão contrasta com seu ar lânguido, como se ao invés de nascer, tivesse acabado de sofrer um triste abandono.
O sacerdote contempla a reprodução com a boca aberta e os olhos arregalados. É a representação perfeita de Gênesis 1:27, “E Deus criou o homem à sua imagem e semelhança.”
Sente faltar-lhe o ar, o nó na garganta e as lágrimas prestes a irromper. Emociona-se também durante a homilia, cena incomum aos fiéis.
À noite, aconchegado sob o cobertor, Padre Roberto luta contra os próprios impulsos. Vem à memória os detalhes da obra, o corpo musculoso da criatura e o semblante austero do criador. E a barba. Longa e branca, como aquela do senhor simpático da fotografia. Está na capa do livro que Padre Roberto oculta sob o travesseiro.
Por fim, não resiste. Com as mãos trêmulas, o padre abre o pesado tomo. Vai iniciar o capítulo quatro, intitulado “A seleção natural ou a perseverança do mais capaz”.

04/06/2020

As inscrições para o Concurso Literário de Prudente estão abertas e seguem ate o dia 15 de julho, no site www.culturapp.com.br No concurso, cada participante poderá inscrever até duas obras inéditas de tema livre, em cada uma das modalidades, sendo elas: conto, crônica e poesia.

Incidente em Antares em Literatura - educação 01/05/2020

Muito pertinente.

http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/incidente-em-antares.html

Incidente em Antares em Literatura - educação Incidente em Antares de Érico Veríssimo. Resumo e download do livro, seus principais personagens, relevância histórica e tudo que você precisa saber para o vestibular e para o ENEM.

16/04/2020

Hoje o dia finda mais triste. Uma inspiração para mim, Rubem Fonseca se foi. Muitos dos contos que escrevi ou escrevo tem muito de sua influência. Abaixo, um dos trechos de sua obra que mais aprecio. Fonseca era tudo isso: cru, direto, realista, irônico. Mas também era sensível, apreciador das mulheres, dos vinhos, da vida. Obrigado, Mestre Zé. Tua obra é eterna.

"Vi na televisão que as lojas bacanas estavam vendendo adoidado roupas ricas para as madames vestirem no réveillon. Vi também que as casas de artigos finos para comer e beber tinham vendido todo o estoque.
-Pereba, vou ter que esperar o dia raiar e apanhar cachaça, galinha morta e farofa dos macumbeiros.
Pereba entrou no banheiro e disse, que fedor.
-Vai mijar noutro lugar, tô sem água.
Pereba saiu e foi mijar na escada.
-Onde você afanou a TV?, Pereba perguntou.
-Afanei p***a nenhuma. Comprei. O recibo está bem em cima dela. Ô Pereba! Você pensa que eu sou algum babaquara para ter coisa estarrada no meu cafofo?
-Tô morrendo de fome, disse Pereba.
-De manhã a gente enche a barriga com os despachos dos babalaôs, eu disse,só de sa*****em.
-Não conte comigo, disse Pereba. Lembra do Crispim? Deu um bico numa macumba aqui na Borges de Medeiros, a perna ficou preta, cortaram no Miguel Couto e tá ele aí, fudidão, andando de muleta.
Pereba sempre foi supersticioso. Eu não. Tenho ginásio, sei ler, escrever e fazer raiz quadrada. Chuto a macumba que quiser."

09/02/2020

Tenho orgulho de ser leitor de um dos escritores censurados em Rondônia, Rubem Fonseca. Ele escreveu romances como Agosto, A Grande Arte, Bufo e Spallanzani, além de contos memoráveis como A Força Humana e Passeio Noturno.

Lembro de ter lido uma vez (Rubem Fonseca, quem sabe?) que "ler é transgredir".

10/12/2019

-Mas então vivemos num lugar esquecido por Deus - eu disse, desanimado.
-E encontraste porventura algum em que Deus se sentiria à vontade? - perguntou Guilherme, do alto de sua estatura.

(Umberto Eco, in O Nome da Rosa)

Photos from Márcio Estamado's post 04/12/2019

Depois de ouvir um podcast sobre Poe, resolvi lê-lo no original. O livro de Eco é uma releitura. Desfiz-me d'O Nome da Rosa em 2012. Agora, o recupero.

29/10/2019

"Sabemos que estamos lendo, mesmo quando suspendemos a descrença; sabemos porque lemos mesmo quando não sabemos como, mantendo em nossa mente, a um só tempo, o texto ilusivo e o ato de ler. Lemos para descobrir o final, pelo prazer da história, não pelo prazer da leitura em si. Lemos buscando, como rastreadores, esquecidos de onde estamos. Lemos distraidamente, pulando páginas. Lemos com desprezo, admiração, negligência, raiva, paixão, inveja, anelo. Lemos em lufadas de súbito prazer, sem saber o que provocou esse prazer 'O que é, no fim das contas, essa emoção?' - pergunta Rebecca West depois de ler o Rei Lear.
'Que poder têm as grandes obras de arte sobre minha vida para fazer com que eu me sinta tão contente?' Não sabemos: lemos ignorantemente. Lemos em movimentos longos, lentos, como que pairando no espaço, sem peso. Lemos cheios de preconceitos, com malignidade. Lemos generosamente, arranjando desculpas para o texto, preenchendo lacunas, corrigindo erros. E às vezes, quando as estrelas são favoráveis, lemos de um único fôlego, com um arrepio, como se alguém ou algo tivesse 'caminhado sobre nosso túmulo', como se uma memória tivesse subitamente sido resgatada de um lugar no fundo de nós mesmos - o reconhecimento de algo que nunca soubemos que estava lá, ou de algo que sentimos vagamente, como um bruxuleio ou uma sombra, cuja forma fantasmagórica ergue-se e instala-se em nós sem que possamos ver o que é, deixando-nos mais velhos e sábios."

26/10/2019

“Letras Soltas” pela cidade

Na semana em que se comemora o Dia Nacional do Livro (29/10), o projeto “Letras Soltas” aparecerá em diversos pontos da cidade entre os dias 28 e 31 de outubro. Livros serão propositadamente deixados em locais com fluxo de pessoas para que sejam encontrados e lidos. Após a leitura, os livros poderão ser deixados em outros pontos da cidade para que sejam encontrados por novos leitores.
O projeto é inspirado no “bookcrossing”, surgido nos Estados Unidos e Europa e consiste na prática de deixar livros em locais públicos, como bancos de praças, telefones públicos, ônibus, etc.
O projeto “Letras Soltas” propõe uma ação individual que gera um resultado coletivo; uma comunidade de leitores que pode transformar nossa cidade em uma biblioteca a céu aberto.



Governo de Presidente Prudente

INFORMA – SECRETARIA DA CULTURA
Presidente Prudente, 25 de outubro de 2019

20/09/2019

Neste dia 20 de setembro, “Dia do Gaúcho”, a ACADEMIA URUGUAIANENSE DE LETRAS, no seu papel de entidade cultural e fomentadora da arte literária, vem prestar sua homenagem aos seus acadêmicos, que de uma forma ou de outra fazem o Rio Grande do Sul se orgulhar, e se autoconhecer, através da sua história, da sua literatura romancista e poética, das suas imagens e das mais variadas formas de expressão. Saibam todos que se não fosse pelo que ficou escrito, jamais existiria tanta gente se orgulhando deste dia especial na vida de tantos gaúchos. Agradecimento e gratidão a cada literato, que conta pela sua arte as passagens de vida do nosso povo. FELIZ DIA DO GAÚCHO!

Photos from Márcio Estamado's post 11/09/2019

Antes tarde do que nunca. Participação no Festival Literário de Presidente Prudente, no Bate Papo com o autor. A Força do Hábito.
Obrigado mais uma vez pelo convite!

03/09/2019

Dois trechos de dois textos de mesmo nome: As Quatro Estações. O primeiro é de um poema de Vinicius de Moraes. O segundo é de um conto (inédito) escrito por este humilde contista.

Ouve, Lila, como trila
A cigarra no mormaço
E sente como, devasso
Meu corpo todo destila
Volúpia, ausência e cansaço
Do amor que tivemos, Lila.
(Vinicius de Moraes)

A cigarra trilava, insistente. E seu canto alongava-se no mesmo ritmo das gotas de suor que escorriam por meu corpo cansado. Naquele mormaço de um final de tarde, Lila jazia ao meu lado, os seios brancos e muito redondos subindo e descendo ao compasso de sua respiração. O s**o que me dera fora de mulher experimentada, cheia de malícia.
-Me fala mais de ti, Lila.
-Precisa mesmo que eu fale?
Não precisava. Iluminou o quarto sufocante com um sorriso de quentura e me beijou outra vez.

Eu queria, me esforçava para ser notada. Ele teve medo, como todos os outros. As perguntas saíam tímidas, quase apagadas. Então eu pouco dizia. E quando Romeu fazia as perguntas certas, aí então é que eu me calava. Não queria que tudo viesse à tona e não queria especialmente que ele me expulsasse dali.
(Márcio Estamado)

11/08/2019

"...as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração - ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas."

flitpp2019.com.br 23/07/2019

Será uma honra participar, pela primeira vez, do Flitpp. Já havia feito parte da programação do Salão do Livro, agora rebatizado e renovado. Adiante!

flitpp2019.com.br

04/07/2019

A Força do Hábito ainda tem um pouquinho de força.

Em agosto tem mais...

17/06/2019

Recomeçando...despacito.

"Chazarreta, que trabalha de ajudante na feira, grunhiu:
-Se não existe mistério, o que existe?
Como o diálogo se desencaminhava, Badaracco, famoso por sua imparcialidade, conteve os polemistas.
-Rapazes-advertiu-os-, não estão na idade de desperdiçar energias.
Para ter a última palavra, Toledo repetiu:
-Se há mistério, virá à luz."

(trecho de O Calamar Opta por Sua Tinta - Adolfo Bioy Casares)

06/06/2019

Rubem Fonseca, Rubem Imortal

-Pereba entrou no banheiro e disse, que fedor.
-Vai mijar noutro lugar, tô sem água.
Pereba saiu e foi mijar na escada.
-Onde você afanou a TV?, Pereba perguntou.
-Afanei p***a nenhuma. Comprei. O recibo está bem em cima dela. Ô Pereba! Você pensa que eu sou algum babaquara para ter coisa estarrada no meu cafofo?
-Tô morrendo de fome, disse Pereba.
-De manhã a gente enche a barriga com os despachos dos babalaôs, eu disse,só de sa*****em.
-Não conte comigo, disse Pereba. Lembra do Crispim? Deu um bico numa macumba aqui na Borges de Medeiros, a perna ficou preta, cortaram no Miguel Couto e tá ele aí, fudidão, andando de muleta.
Pereba sempre foi supersticioso. Eu não. Tenho ginásio, sei ler, escrever e fazer raiz quadrada. Chuto a macumba que quiser.

(trecho de Feliz Ano Novo, Rubem Fonseca)

31/03/2019

Estou afastado das minhas leituras de ficção. Da minha escrita, há mais tempo ainda, por motivos que, espero, possam valer a pena.

Mas tudo aquilo que lemos ou escrevemos, deixa em nós cicatrizes nas quais às vezes passamos as pontas dos dedos. São troféus indeléveis.

31/03/2019
Timeline Photos 02/03/2019

How are you avoiding conversation this weekend (what are you reading) ?

Photos from Márcio Estamado's post 01/03/2019

Quando você descobre que seu ator favorito é também um contista! ❤

Photos from Secretaria de Cultura de Presidente Prudente's post 07/02/2019
07/01/2019

Que bonito!

7 de janeiro •

07/01/2019

Parabéns pelo nosso dia! Todo dia é dia de ler!

05/01/2019

"... nosso inconsciente é tão inacessível à ideia da própria morte, tão ávido por matar estranhos, tão dividido (ambivalente) em relação à pessoa amada como o homem das primeiras eras. Mas como nos afastamos desse estado primevo em nossa atitude cultural-convencional diante da morte! Todo homem é um assassino. Eu era um homem comum. "

Caixa automático entrega contos literários em vez de recibos 27/12/2018

Caixa automático entrega contos literários em vez de recibos Empresa francesa está levando criação para diferentes partes do mundo

21/12/2018

Olá! Posso dar uma sugestão? Em Presidente Prudente há o Sebo Prudente, o Alexandria Livraria Sebo e o Livraria Sebo Graúna. Em Uruguaiana, há a livraria Mundo dos Livros.

Nestas festas de Natal e Ano-Novo, dê livros de presente, incentive outras pessoas a fazer o mesmo. Valorize o comércio de livros local, valorize os escritores de sua cidade ou região. Mas, acima de tudo, valorize o gesto de ler. Somos e estamos, especialmente, carentes de fomentar a informação, a cultura, o debate de ideias.

Dar livros é dar amor.

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