Teologia e Capitalismo como Religião
Refletir sobre a dimensão teológica do Capitalismo como religião, inspirados na Escola do DEI e em pensadores críticos heterodoxos.
Resposta estranha de Jesus à Pilatos no interrogatório.
Quase todo mundo, na cultura cristã, conhece o interrogatório que Pilatos fez com Jesus: “você é o rei dos judeus?” O mais interessante nessa conversa é que Jesus não responde diretamente à essa pergunta. Ele diz que Pilatos e os acusadores dizem que ele é ou pretende a ser rei, mas a resposta dele é que ele veio ao mundo para dar testemunho da verdade.
O que tem a ver dar testemunho da verdade e ser rei? Essa é a questão central aqui.
Simplif**ando, no mundo pré-moderno, para que uma pessoa pudesse ser rei ou rainha e ter um reino, a primeira coisa que precisava é (a) ter poder militar para controlar um território e (b) instituir um poder político, Estado, impondo as leis; (c) e ter controle da produção e distribuição dos bens econômicos, seja por meio de impostos, tributos, ou seja por meio de propriedade de toda a terra.
Como comunidades e tribos não gostam de ver o seu trabalho explorado, roubado, e levado às elites do reino, o papel repressor do exército e da religião para justif**ar a exploração em nome de Deus ou dos deuses. Assim, a burocracia do Estado, os generais e os sacerdotes constituem o espinho dorsal do funcionamento do reino a serviço do rei. No fundo, a estrutura militar e a religiosa transformam a forma injusta e opressiva de funcionar da sociedade em uma falsa justiça, E nas sociedades antigas, a religião tinha esse papel fundamental de inverter a injustiça em um pedido de Deus, isto é, a opressão era vista como uma justiça de Deus.
Por isso, Jesus pregava o Reino de Deus para dizer que os reinos que existe, de Roma e de Israel, são injustos e mentirosos. Que o reino que ele prega não está fundada no poder militar da terra, mas na verdade ou de as pessoas são mais importantes do que as leis injustas. Quando Jesus diz que o reino dele não é “deste mundo”, não quer dizer o que entendemos no mundo moderno: uma esfera sobrenatural, após a morte. Pois, na época de Jesus não havia essa ideia de duas esferas separadas e distintas. O RD de Jesus é de uma lógica completamente diferente, é o reino da verdade, isto é, aquele que desvela a mentira do reino do mundo e mostra as novas relações sociais e humanas baseadas na justiça e solidariedade. O RD transcende as fronteiras e as leis dos países pois são baseadas no amor.
João 18, 33b-37 - Resposta estranha de Jesus à Pilatos no interrogatório. Evangelho de João 18, 33b-37.Resposta estranha de Jesus à Pilatos no interrogatório.Quase todo mundo, na cultura cristã, conhece o interrogatório que Pilatos...
O "VII Seminário Interdisciplinar Capitalismo como Religião: A Crítica da aliança idolátrica entre fundamentalismos neoliberal e cristão" aconteceu por iniciativa da Rede de Grupos de Pesquisa sobre o Capitalismo como Religião na Universidade São Francisco USF em novembro. Agora, os vídeos correspondentes às três mesas estarão disponíveis em nosso Canal Youtube Teologia e Capitalismo como Religião. O primeiro estará disponível no sábado, dia 09/11. Os outros dois serão publicados na terça-feira e na quarta-feira.
VII Seminário Interdisciplinar Capitalismo como Religião – 2024 11 01 08 23 BRT – Recording Tema da discussão: “Nacionalismo cristão e neoliberalismo”.Mesa integrante do "VII Seminário Interdisciplinar Capitalismo como Religião: A Crítica da aliança...
https://youtu.be/FllWWUjXEjw Evangelho de Marcos 12, 38-44.
A partir da viúva, Jesus nos ensina a pensar criticamente.
Nesta passagem, temos Jesus ensinando em dois lugares distintos: diante de multidão, provavelmente em uma praça, e no Templo. Na praça, Jesus ensina os discípulos a pensar de forma crítica, isto é, a ver criticamente como a multidão vê, admira e valoriza pessoas “importantes” da sociedade. Jesus toma como exemplo doutores da lei, pessoas muito importantes na época, que gostam de se aparecer como importantes e bem respeitados, ou, como poderíamos dizer hoje, que recebem muito “likes”. E as pessoas que admiram essas pessoas, reforçam o prestígio deles e gostam de estar perto dessas pessoas. Esse ciclo cultural de adorar um “ídolo”, sem saber bem o porquê, e se sentir importante porque está perto do ídolo é uma lógica vazia, do tempo de Jesus e também do nosso.
Diante disso, Jesus critica esses doutores da lei (da Bíblia) a partir da prática ética deles: eles “devoram as casas das viúvas” fingindo que fazem longas orações em favor delas. Para romper com esse ciclo de mentiras, Jesus oferece o critério da vida real: ações eticamente boas ou más.
No Templo, Jesus compara as oferendas dadas pelos ricos com a da pobre viúva. É claro que, para pessoas religiosas ou não, a oferta dos ricos é muito maior e mais signif**ativa, seja para a manutenção do Templo ou seja para ajudar os pobres. Só que nessa cena em que Jesus está ensinando, além dos ricos e a pobre viúva, está Deus. E o olhar de Deus é diferente. Jesus ensina que Deus não pensa somente na quantidade ou no cumprimento da lei, que são elementos “objetivos” da vida na sociedade, mas o mais importante é o contexto e os que as pessoas podem e estão agindo. No contexto da perspectiva teológica, da Aliança do povo com Deus, e da vida e ações concretas desses ricos e da pobre viúva, Jesus diz: a viúva é a que mais ofertou a Deus.
O interessante é que essas duas histórias terminam falando de viúvas, mulheres que por não terem mais o seu marido são vulneráveis aos desejos impuros dos homens “de bem” e das pobres viúvas piedosas que não tem quase nada para viver.
Para aprendermos a ver e pensar criticamente a realidade da vida, o ponto de partida deve ser a vida dos pobres e oprimidas.
Marcos 12, 38-44 - A partir da viúva, Jesus nos ensina a pensar criticamente. Evangelho de Marcos 12, 38-44. A partir da viúva, Jesus nos ensina a pensar criticamente.Nesta passagem, temos Jesus ensinando em dois lugares distintos: dia...
Evangelho de Mateus 5,10-12 (Bem-aventuranças).
"Os pobres em espírito e a opção pelos pobres".
Esta passagem de Mateus é de a famosa “bem-aventuras”, que começa dizendo: “bem-aventurados os pobres em espírito”. A interpretação dessa expressão “em espírito” é objeto de muita discussão. Há muitos cristãos que dizem que esses bem-aventurados são pessoas, não importando se ricas ou pobres, que têm alma “pura”, porque são religiosas. Isto é, o tema da pobreza ou a fome dos pobres não teria relação nenhuma com evangelho. Pior, há cristãos que dizem que a riqueza dos ricos é a comprovação de que são os verdadeiros bem-aventurados no ensinamento de Jesus; e que a pobreza dos pobres seria a maldição enviada por Deus. Uma perversão do evangelho!
O interessante é que quase ninguém fala da versão das bem-aventuranças que está no evangelho de Lucas, onde não há expressão “em espírito”. Lá Jesus diz: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (6,20), e para deixar claro do que está tratando, ele completa dizendo, “Mas ai de vós, ricos! Porque já tendes a vossa consolação” (Lc 6,24).
Ou Jesus estava confuso e ensinou duas ideias opostas, ou temos um problema de interpretação do que está escrito no evangelho de Mateus. Eu penso que uma chave de interpretação que nos ajuda a entender melhor essa passagem de Mateus, em especial a “os pobres em espírito”, é a parte final em que Jesus diz: “bem-aventurados quando, por minha causa, forem insultados e perseguidos ... pois assim perseguiram os profetas...” (5,12) Profetas foram perseguidos pelos líderes religiosos e políticos do seu tempo porque defendiam os direitos e justiça em favor pobres, viúvas, órfãos e estrangeiros. Ter fome e sede de justiça, que fala Jesus, é essa luta pela defesa da vida e dos direitos dos pequenos, porque os poderosos, como sempre, mudam as leis conforme os seus interesses e pervertem a justiça.
Os ricos e os seus aliados amam a riqueza e o poder acima de tudo, até mesmo do Deus, e são movidos pela ganância. Ao contrário, as pessoas que são movidas pelo Espírito de Deus (a palavra espírito da expressão acima é “pneuma”, que se refere ao Espírito Santo) defendem a justiça, têm coração puro sem ganância e ódio e, por isso, são capazes de ver a Deus. Assim, os “pobres em Espírito”, socialmente pobres ou não-pobres, são bem-aventurados porque fizeram, o que dizemos no nosso tempo, “a opção pelos pobres”. Isto é, o seu coração não está cheio de amor ao dinheiro, mas sim pela justiça e a solidariedade para com pessoas sofrem.
Mt 5, 10-12 - Os pobres em espírito e a opção pelos pobres. Evangelho de Mateus 5,10-12 (Bem-aventuranças)."Os pobres em espírito e a opção pelos pobres". Esta passagem de Mateus é de a famosa “bem-aventuras”, que com...
Convite para o VII Seminário Interdisciplinar Capitalismo como Religião.
Tema deste ano: "A Crítica da aliança idolátrica entre fundamentalismos neoliberal e cristão".
Informações no site da USF, link no comentário!
https://youtu.be/_b_UubrotRE
Evangelho de Marcos 10, 46-52
Que tipo de fé curou o cego mendigo?
Esta passagem de Marcos nos ensina algo estranho sobre a fé que cura-salva. (Em grego não há diferença entre a palavra cura e salvar.) No mundo de hoje há pregadores, pastores ou padres que ensinam que a fé do próprio ministro ou da Igreja é que cura-salva, mas para Jesus o que cura-salva é a fé da pessoa que pede salvação ou a cura. Qual é essa fé do cego mendigo que lhe curou?
Bartimeu, ao ouvir que Jesus estava por perto começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tenha compaixão de mim!” Essa é a chave: a compaixão. Ele reconhece que Jesus é um enviado por Deus e grita por compaixão, isto é, crê que Deus tem ou pode ter compaixão dele e que o seu sofrimento de ser cego e mendigo não é da vontade de Deus. Enquanto que para a multidão, esse homem não merece a atenção de Jesus, pois ele deve ser duplamente pecador: cego e mendigo. Porém, Bartimeu insistiu e repetiu o pedido: tenha compaixão de mim; como se dissesse: eu também sou filho de Israel. Ele não aceita a visão religiosa da multidão e dá um salto de fé, porque ouviu falar do que pessoas comentam sobre Jesus.
Após Jesus pedir que chamem o cego, ele faz uma pergunta estranha: “o que você quer que eu lhe faça?” É óbvio que este cego está pedindo a cura da cegueira; até parece que Jesus não é um profeta de verdade, pois não sabe o que ele, assim como todos outros cegos, quer. Na verdade, o que Jesus oferece ao cego é, em primeiro lugar, a Palavra, a possibilidade de ele se afirmar como um ser humano em um diálogo que se reconhecem mutuamente. Bartimeu responde: “que eu possa ver de novo”. Antes de dar a visão, Jesus lhe resgata a Palavra que lhe confirma a sua dignidade humana.
A confirmação da sua dignidade como ser humano, um filho de Israel e, diríamos hoje, um filho de Deus, se dá no final do diálogo: é a sua própria fé lhe curou-salvou. É a fé dele que lhe salva, a fé de que Deus não é insensível aos sofrimentos humanos, de que as ações dos enviados de Deus ao mundo são marcadas de compaixão.
Marco 10, 46-52 - "Que tipo de fé curou o cego mendigo?" Evangelho de Marcos 10, 46-52Que tipo de fé curou o cego mendigo?Esta passagem de Marcos nos ensina algo estranho sobre a fé que cura-salva. (Em grego não há...
Evangelho de Marcos 10, 35-45.
Entre vocês deve ser diferente.
É do ser humano, especialmente quando participando de uma luta social ou religiosa, querer tornar-se grande. Assim, Tiago e João pediram a Jesus ser escolhidos a sentar à direita e à esquerda dele quando chegar ao poder e glória. A resposta de Jesus é estranha: “vocês não sabem o que está pedindo”.
Tiago e João, como sempre estão equivocados, e pensam que sabem o que Jesus está falando e dizem que são capazes de passar o “batismo” de Jesus, de sofrimento. A resposta de Jesus tem duas partes: na primeira, ele vê que, pelo processo que está ocorrendo, ele vai ser morte e os discípulos vão ser também perseguidos, beber desse cálice. A segunda parte da resposta é estranha: nem ele sabe o que vai acontecer no futuro, pois não há como saber esse tipo de futuro. Só a Deus.
O mais importante aqui é o ensinamento de Jesus aos discípulos após a confusão por conta da disputa pelo poder entre eles: os poderosos dominam ou tiranizam o povo, mas entre vocês deve ser diferente. O que Jesus propõe não é não haver organização na sociedade, como anarquia, mas que os dirigentes devem estar a serviço do povo, especialmente dos que sofrem. No mundo de hoje, o Templo ou a Igreja não tem e não deve ter esse poder político que havia na antiguidade, mas seguidores de Deus devem nas igrejas, na sociedade e nos governos estar a serviço a serviço do povo.
Para muitos cristãos, isso não faz sentido pois para eles o bom do ter poder e prestígio é exatamente ser superiores e ser os “primeiros”. Esses cristãos perderam a diferença entre o que é ser discípulos de Jesus e o que é ser “do mundo”. Ser cristão é colocar se ao serviço dos que sofrem.
Jesus não veio ao mundo para ser servido, como os poderosos, mas sim para servir às pessoas pequenas, as que sofrem. Essa é a novidade e a diferença do cristianismo.
Marcos 10, 35-45 "Entre vocês deve ser diferente". Evangelho de Marcos 10, 35-45.Entre vocês deve ser diferente.É do ser humano, especialmente quando participando de uma luta social ou religiosa, querer torna...
Evangelho de Marcos 10, 17-30.
A inversão dos ensinamentos de Jesus no mundo de hoje e o “jovem rico”.
Esta passagem do “jovem rico” tem uma pergunta dos discípulos, “quem pode ser salvo”, que é fora das conversas sobre porque é difícil os ricos entrarem no Reino de Deus.
O diálogo começa com o homem ajoelhando-se a Jesus e perguntando “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Pergunta fundamental para as comunidades cristãs.
Jesus, antes de responder, faz uma afirmação muito estranha para nós: “Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus”. Isto é, nem Jesus se considera plenamente o “bom”. O que Jesus quer nos fazer aprender é que ser bom (ou uma pessoa melhor) é um caminho em direção ao objetivo que nunca se chega. Podemos ser melhores, mas não perfeitamente, pois todos seres humanos, incluindo Jesus, somos seres com limites. Só Deus é perfeitamente bom. Não nos exijamos ser Deus, somos humanos.
Explicado isso, Jesus responde à pergunta específ**a do jovem: relacionar-se com as pessoas na comunidade de acordo com os mandamentos de Deus. Jesus não faz referências aos mandamentos explicitamente religiosos porque é pelas ações que se comprova se adora a Deus. Nesse sentido, o modo como se vive esses mandamentos é a medida para ver quão uma pessoa é mais ou menos boa.
A resposta do jovem e o seu desejo implícito de ser melhor do que já tem sido agrada a Jesus, que lhe diz com amor: “só falta uma coisa... dê tudo aos pobres e me siga...”
Esta resposta de Jesus entristeceu o homem. Ele poderia ter vivido bem, com a consciência de seguir as leis de Deus. Mas, quis ser como “bom mestre” e descobriu que o caminho dele é tortuoso, com lógicas que invertes os valores sociais. Os poderosos do mundo não serão os primeiros, mas os últimos no Reino de Deus.
Pelo menos esse homem que entristeceu e foi embora, não foi como muitos líderes cristãos de hoje que invertem o ensinamento de Jesus e pregam que a riqueza e prestígio do mundo são bênçãos, que os ricos e poderosos são abençoados e os pobres amaldiçoados por Deus.
Os discípulos também não entenderam o comentário de Jesus sobre como é difícil os que amam a riqueza entrar no Reino de Deus. O comentário dos discípulos, “quem pode ser salvo” não se refere somente aos ricos, mas sim a todos que são tentados a amar a riqueza. Riqueza deve estar a serviço da vida humana e não o contrário.
Marcos 10, 17-30 - A inversão dos ensinamentos de Jesus no mundo de hoje e o “jovem rico”. Evangelho de Marcos 10, 17-30.A inversão dos ensinamentos de Jesus no mundo de hoje e o “jovem rico”.Esta passagem do “jovem rico” tem uma pergunta dos discí...
Evangelho de Marcos 10, 2-16
Jesus defende a vida das mulheres.
Nesta bem conhecida passagem sobre o divórcio, é interessante ver que a narrativa termina com Jesus dizendo que devemos receber o Reino de Deus como uma criança. Por quê?
Para entendermos isso, precisamos acompanhar o debate de Jesus com os fariseus.
Fariseus, querendo colocar Jesus em dificuldade frente ao povo, faz a pergunta: “é lícito repudiar a sua mulher?” Na época, havia diferentes opiniões “teológicas” sobre os limites no direito dos maridos expulsar a sua mulher da casa (desde simplesmente não gostar de como ela cuida da casa até o caso mais grave de adultério), o que signif**ava sempre muito sofrimento para elas e crianças. Assim, as mulheres viviam com medo sob o domínio dos maridos.
No diálogo, Jesus discute com fariseus sobre a “carta do divórcio” ordenado por Moisés. Para Jesus, essa lei do divórcio não vem de Deus (apesar de estar na Bíblia), mas de Moisés por causa da dureza do coração do povo, isto é, dos homens. Se nem essa lei existisse, as mulheres “repudiadas” seriam vistas como prostitutas ou outras categorias de pecadoras. A lei de Moisés tenta minimizar a injustiça contra mulheres.
Jesus, para defender a vida das mulheres em uma sociedade profundamente machista, resgata o antigo ensinamento de que o que Deus uniu, não se pode separar. Isto é, tira do marido o direito de expulsar a sua mulher por sua vontade. Mais do que isso, Jesus iguala a mulher ao marido também no direito ou no “erro” de recasar, após o divórcio. Mais do que a lei do divórcio ou do casamento indissolúvel, é a igualdade entre os homens e mulheres que está em jogo.
Por detrás dessa discussão o que temos é a relação entre a lei e o Reino de Deus. As leis são necessárias na sociedade, mas elas não veem de Deus. A Bíblia nos ensina o processo histórico do anúncio do Reino de Deus, que nos ensina que para Deus não há diferença na dignidade entre homens e mulheres ou livres e escravos.
Crianças sabem bem que as regras são importantes para “brincar”, mas o mais importante é a amizade. Esse espírito de relativizar as leis é a base para entrarmos no Reino de Deus, onde se realiza os direitos e a dignidade de todas .
https://www.youtube.com/watch?v=XRJZjptTEZQ
Marcos 10, 2-16 - Jesus defende a vida das mulheres Evangelho de Marcos 10, 2-16 Jesus defende a vida das mulheres.Nesta bem conhecida passagem sobre o divórcio, é interessante ver que a narrativa termina com ...
https://youtu.be/Bdhff9fICBw Evangelho de Marcos 9,38-48.
Quem não é contra, é a favor de Jesus.
Essa narrativa nos coloca uma pergunta fundamental para nós que pertencemos a uma igreja ou algum grupo que se define como cristão: qual é o critério para essa identif**ação? Quem somos nós?
Os discípulos tinham orgulho de ser membro do grupo do “nós”, os que seguimos Jesus. Por isso, ao ver alguém que não é do grupo, proibiram a fazer algo que era bom para uma terceira parte que estava sofrendo, provavelmente de alguma doença que o povo explicava com a noção possessão demoníaca. Para os discípulos, a defesa do “monopólio” de ser do “grupo de Jesus” era mais importante do que o bem que estava sendo feito. Isso até parece discussões do nosso tempo em que igrejas ou religiões estão mais preocupados em disputar quem é do grupo “escolhido” por Deus do que fazer o bem para pessoas que sofrem.
A resposta de Jesus é desconcertante: “quem não é contra nós é a favor de nós”. Enquanto os discípulos pensam em uma perspectiva de exclusão ou de afunilamento, Jesus pensa em perspectiva de ampliação. Porque o que Jesus faz e ensina em nome de Deus (fazer o bem para pessoas que são consideradas pecadoras, merecedoras do sofrimento e exclusão social) rompe com os valores da sociedade do seu tempo, e também do nosso, e a tendência de todos é ser contra o que Jesus faz. Por isso, não importa se é ou não do grupo dos discípulos, só o fato de não ser contra ele signif**a que entendeu a boa-nova de Jesus.
Após essa explicação mais geral, como bom pedagogo ele dá um exemplo: dar um copo de água a um sedento. Não porque são amigos ou porque a pessoa que pede é poderosa ou rica, mas dar água (em uma região quente com pouca água) a uma pessoa “pequena” porque aprendeu com Jesus (ou com o Espírito de Deus que se espalha no mundo) é sinal de que ele ou ela pertence ao grupo do Cristo.
Ao contrário desse exemplo, Jesus critica aqueles que geram escândalo ou “fazer tropeçar os que creem na boa-nova do Reino”. Ele está falando de pessoas que desprezam ou maltratam os “pequenos” em nome de Jesus. Diante disso, Jesus f**a muito bravo. Infelizmente, isso ainda acontece, pessoas serem menosprezadas nas comunidades porque são pobres ou consideradas “pecadoras”.
Evangelho de Marcos 9, 38-48 - Quem não é contra, é a favor de Jesus. Mc 9,38-48.Quem não é contra, é a favor de Jesus.Essa narrativa nos coloca uma pergunta fundamental para nós que pertencemos a uma igreja ou algum grupo que ...
https://www.youtube.com/watch?v=1yliX3NPNE0
Evangelho de Marcos 8, 27-35.
Querer uma luta messiânica pela justiça social sem uma cruz é satânica.
No evangelho desta semana temos a versão de Marcos sobre o diálogo de Jesus com discípulos sobre o que o povo pensa sobre ele e a resposta de Pedro: tu és Messias esperado. (No evangelho de Mateus16: 13-19 –que tratamos na última semana de junho– há um tema que não está em Marcos: a escolha de Pedro como o líder dos apóstolos e da Igreja.) Como no texto da semana passada, Jesus adverte os discípulos para não falar sobre isso. Por que?
Porque Jesus quer ensinar que ele é o Messias, mas não da forma como eles e o povo esperavam. O povo de Israel, assim como outras religiões que esperam a vinda do Messias, pensam e desejam que o enviado por Deus virá com “poder e glória” e impor sobre a terra a vontade de Deus e expulsar os governantes e sacerdotes injustos. É por isso que os discípulos discutiam entre eles quem seria o braço direito de Messias, isto é, o “primeiro ministro” do novo reino.
Mas, Jesus sabia Deus verdadeiro não é assim. Os deuses dos impérios agem com poder imperial impondo sobre o povo uma “paz”, que na verdade é submissão e opressão. Para Jesus, esses são ídolos e não Deus. Deus é Amor e age na história de modo muito diferente. A missão de Jesus foi a de anunciar esse Deus e a chamada do povo para justiça, liberdade e vida para todas pessoas. Por isso, governantes, poderosos e líderes religiosos que adoram poder e riqueza eram e ainda são hoje contra a missão e as práticas de Jesus e impõem sobre Jesus e seus verdadeiros seguidores sofrimentos injustos, até mesmo a morte.
Pedro repreende Jesus com uma teologia errada de que Deus age com poder e que, por isso, Jesus iria vencer sem sofrimentos. Daí a bronca de Jesus: você não entendeu as coisas de Deus. A visão religiosa satânica de Pedro e de muitos é a “dos homens”, a do poder e da imposição.
Quem busca a vida de “poder e glória” humana a perde, diz Jesus; o que salva a nossa vida é a luta pela liberdade, justiça e vida para todos, o caminho que nos leva à cruz por conta da reação dos poderosos e do satanás. Mas, ao final a vida eterna.
Marcos 8, 27-35 - Toda luta messiânica por justiça social leva à cruz. Evangelho de Marcos 8, 27-35.Querer uma luta messiânica pela justiça social sem uma cruz é satânica.No evangelho desta semana temos a versão de Marcos sobre ...
https://www.youtube.com/watch?v=5LD-YnMBlEA
Jesus não promove o espetáculo que a multidão quer.
Nesta narrativa da cura do surdo-gago, há duas questões que me faz pensar. Em primeiro lugar, o evangelho diz que o povo levou uma pessoa que era surdo e gago para que Jesus o curasse. Nesse sentido, ele não é surdo, como entendemos hoje. Naquela época não havia fonoterapia para ensinar um surdo aprender a ler os lábios e falar. E Marcos diz que com a cura, ele deixou de passou a falar sem problemas.
Eu não quero discutir o aspecto médico da surdez ou gagueira, mas há muitas pessoas, que por terem sofrido muito, – seja na infância ou na juventude, na sua família ou na comunidade, ou por preconceitos sociais ou injustiças– têm muita dificuldade em expressar as suas dores e esperanças. Assim como a sociedade também não entendem ou não querem entende-las. É o problema da comunicação e diálogo. O primeiro passo para a superação disso é a pessoa ser aceita e amada e as pessoas a começarem o processo de aprendizagem de ouvir e dialogar com quem sofre. É isso que Jesus nos ensina.
O segundo ponto é: por que Jesus ordenou que ninguém falasse dessa cura e por que a multidão divulgava mais? Normalmente, os líderes religiosos gostam de divulgar o milagre porque isso lhes dá mais prestígio e poder. E a multidão também gosta do espetáculo dos milagres. Exatamente por isso mesmo, porque Jesus não quer que o foco da atenção seja ele próprio, mas sim a situação e as relações sociais que causaram o sofrimento do surdo-gago e o modo como ele e a comunidade, nós, podemos curar ou diminuir a dor das pessoas. Mesmo nos casos de surdez-surdez, em que ninguém tem “culpa”, o aspecto do sofrimento social do abandono ou preconceito é fruto do pecado das pessoas e da sociedade, o de não viver na perspectiva do Reino de Deus.
A multidão que admirou Jesus é a mesma que depois vai abandoná-lo. Em geral, eles querem soluções mágicas e rituais espetaculares, que muitas das religiões do passado e de hoje oferecem ao povo, mas Jesus oferecem o “caminho” de vida de solidariedade.
Marcos 7, 31-37 - Jesus não promove o espetáculo que a multidão quer. Evangelho de Marcos 7, 31-37Jesus não promove o espetáculo que a multidão quer.Nesta narrativa da cura do surdo-gago, há duas questões que me faz pensar. Em ...
Evangelho de João 6, 60-69.
“Palavras de Jesus escandalizam os religiosos”.
Uma das palavras chaves desse evangelho é “escândalo”. As pessoas que seguem Jesus f**am escandalizados com as palavras dele a tal ponto que até mesmo muitos dos seus discípulos dizem que não suportam esses ensinamentos e preferem ir embora. Por que o seu ensinamento escandaliza tanto a tradição religiosa dos seguidores e ouvintes?
O escândalo não vem do fato de que Jesus pede mais rigor ou mais aprofundamento das doutrinas já conhecidas, mas porque ele propõe algo totalmente novo, a “boa-nova aos pobres”, aos que estão sofrendo. A salvação vem do participar da vida de Jesus, de “comer e beber”, nas práticas de Jesus que acontece na nova comunidade; comunidade essa em que o importante não é a vaidade, prestígio ou riqueza (o que é da “carne”), mas a vida compartilhada por amor ao próximo (o espírito que d[a vida).
Jesus não tem medo de perder seus discípulos e não entra na lógica do “mercado” (mudar o discurso para manter os seus consumidores), pois sabe qual é a sua missão que recebeu de Deus. Por isso a pergunta aos discípulos: “vocês também não vão embora?” A resposta de Pedro, em nome dos que sobraram: “A quem iríamos nós!” É uma resposta de fé, baseada na experiência de ter vivido com ele. Não é uma resposta que vem de uma certeza doutrinária, mas da fé que vem da experiência.
João 6, 60-69 - “Palavras de Jesus escandalizam os religiosos” Evangelho de João 6, 60-69.“Palavras de Jesus escandalizam os religiosos”.Uma das palavras chaves desse evangelho é “escândalo”. As pessoas que seguem Jesus ...
https://www.youtube.com/watch?v=2_uaI9e7m48 Evangelho de João 6, 24-35.
O comer é uma ação espiritual.
No evangelho da semana passada vimos como Jesus fez o sinal do Reino pela multiplicação dos pães, porque estava preocupado com a fome das pessoas. Mais do que isso, preocupado em ensinar como as pessoas, nas comunidades, a resolver os seus problemas. Nesta passagem do evangelho, temos a explicação de por que Jesus se retirou da multidão.
Frente às pessoas que foram atrás dele, Jesus, sem medo de perder os seus seguidores, faz suas criticas com clareza: vocês não estão me procurando porque viram os sinais, mas f**aram satisfeitos com o pão. Sinal do Reino de Deus, esse é o tema desde a semana passada. O pão que Jesus promete não é, como muitos pensam ou pregam, um pão que só satisfaça a alma porque seria o pão da alma, para a eternidade da alma. Se Jesus estivesse preocupado somente com a alma, não faria sentido a multiplicação dos pães e peixes que matou a fome de tantas pessoas.
O que Jesus ensina é que esse comer os pães, assim como o comer o maná no deserto, não pode ser reduzido a um problema do estômago. O ser humano é mais do que fome do estômago, mas também a fome de amor, solidariedade, compaixão e perdão. E isso não se encontra em um restaurante famoso, por mais gostoso seja um prato, mas na experiência de partilhar a comida e afeto, amizade, com seus amigos e amigas da comunidade. Preocupar-se com a fome dos outros e compartilhar a comida com amizade são ações espirituais que mostram os sinais do Reino. Isto é, o comer é mais do que comer a comida, o comer deve ser também uma ação espiritual.
Na final da sua vida, Jesus compartilha a última ceia como expressão da eucaristia, a experiência da graça na comunidade junto com Deus. Ele é o Pão da Vida que compartilhamos no amor com outras pessoas e “comemos” na comunidade e nas práticas de compaixão e solidariedade. Pois, o corpo espiritual do ser humano precisa se alimentar desse Pão da Vida.
João 6, 24-35 - Comer é uma ação espiritual Evangelho de João 6, 24-35.O comer é uma ação espiritual.No evangelho da semana passada vimos como Jesus fez o sinal do Reino pela multiplicação dos pães, po...
https://www.youtube.com/live/sSCmF7NanUc?si=HC3TYP5Wm6SGtPS6
Novo livro de Jung Mo Sung: "Desejo e conversão: a Ilusão do eu desejo' e a aposta do evangelho Live ao vivo com Jung Mo Sung para discutir o seu novo livro que acaba de ser publicado pela Editora Recriar.Jung é nascido em Seul, Coreia do Sul, vindo peq...