Dib Lutfi

Dib Lutfi

Esta página visa difundir o legado deixado por Dib Lutfi ao cinema brasileiro. Página dedicada à memória de Dib Lutfi

02/02/2023

Memorável homenagem a Dib Lutfi ocorreu em 2022, no dia 08 de dezembro, na Cinemateca do MAM Rio. Com a presença de Walter Lima Júnior, Lauro Escorel, Michel Schettert e Hernani Heffner (na mediação), a conversa após a sessão de "Das Unheil" durou 1h30. Transcrevemos o áudio gravado e postamos aqui um pedaço da fala do câmera-pesquisador:

HERNANI – Michel dá pra falar de uma espécie de gramática “dibiana”?
MICHEL – Sim, eu acho que é possível reconhecer um estilo no Dib. A gente vê seus filmes e percebe que é ele na câmera. Isso tem a ver com a corporalidade que cada um tem; uma personalidade corporal, um modo pessoal de se mover, o movimentar-se. E eu acho que o Dib incorporava quando estava com a câmera, ele se integrava com a máquina – lembrando aquele ideal do Vertov, o kinoeye, que funde olho e câmera – ele virava a câmera. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo dentro do quadro, a variação de luz, o que estava fora do quadro, o recorte do mundo. Eu acho que a câmera dibiana tem muito disso e mais um pouco. É curioso quando o Sérgio Ricardo, irmão mais velho do Dib, falava assim: “o Dib era uma pessoa muito intuitiva”. Eu achava aquilo era um conceito muito amplo para colocar na minha dissertação de mestrado. Eu precisava ser mais científico e fui estudar os neurônios-espelho, que é um tipo de célula que nos dá a capacidade de olhar o movimento e segui-lo. É o que o Dib tinha: saber o ritmo da outra pessoa e entrar numa simbiose com aquele outro corpo. É uma habilidade que os dançarinos muito têm. “Então, Sérgio, como assim o Dib era um ‘intuitivo’?”, “Ah, ele sabia muito, mas era muito da prática”. E no meio da pesquisa eu fui entendendo que ele era realmente uma pessoa muito sensível, no sentido espiritual da palavra, sabe, de capturar a atmosfera da cena, de estar antenado em uma outra frequência; nesse sentido de você entrar numa simbiose. Havia uma inteligência interpessoal ali que atingia a máxima expansão da consciência dentro da cena, ao ponto de não mais se distinguir o que está sendo capturado ou não; simplesmente ele se move sabendo o que está ocorrendo dentro e fora da câmera, dentro do corpo dele e fora do corpo dele. Porque, ao mesmo, tempo tem esse jogo da percepção, da corporalidade alheia, da percepção do corpo interno, da docilidade da mão, dos comandos que ele tem que dar pra câmera - algo incrível também - e isso tudo que acontecer ao mesmo tempo, com o diretor dando pitaco... É um monte de estímulo acontecendo. Sem falar na memória, porque ainda tem as marcas do ensaio que ele precisa gravar na memória. Então, como isso não seria uma linguagem? É a linguagem da câmera dibiana.

Photos from Dib Lutfi's post 19/12/2022

O primeiro Festival de Cinema de Belém ocorreu em 1974, logo após o Círio de Nazaré. Nesta ocasião, Dib Lutfi foi premiado com o Muiraquitã de Ouro pela fotografia do longa "A Noite do Espantalho".
Aqui compartilhamos parte da repercussão na mídia impressa da época.

Segunda-feira, 21 de outubro de 1974
-A Província do Pará
Edwaldo Martins
A GRANDE NOITE DO CINEMA BRASILEIRO
A "Noite do Espantalho", de Sérgio Ricardo, acabou sendo o grande vencedor do I Festival do Cinema Brasileiro de Belém, conquistando quatro dos prêmios principais "Muiraquitãs de Ouro" - melhor filme, melhor música, melhor ator coadjuvante (Emanuel Cavalcanti) e melhor fotografia (para Dib Lutfi, irmão de Sérgio Ricardo)...

25 de outubro de 1974
-O Estado de São Paulo
Luiz Alípio de Barros
O SIGNIFICADO DE UM FESTIVAL
"A Noite do Espantalho" é um dos mais belos momentos do nosso cinema - pelo seu sentido plástico, com base na fotografia fora de série de Dib Lutfi (mesmo diretor de fotografia de Os Condenados, de Zelito Viana, que ganhou melhor direção)...

29 de outubro de 1974
-Opinião
Jean-Claude Bernadet
CANNES EM BELÉM
Cannes foi transposto para Santa Maria de Belém do Grão-Pará, por oito dias de outubro, só que não se adaptou bem. Belém merecia outra coisa do que um festival de beira de piscina...

fonte: Sérgio Ricardo Memória Viva

08/12/2022

Hoje tem homenagem a Dib Lutfi na Cinemateca do MAM Rio (18h30)

O câmera-na-mão do Cinema Brasileiro fez história ao ser contratado para trabalhar em um filme alemão financiado pela United Artists (a distribuidora dos filmes de Chaplin). "Das Unheil" foi filmado em 1970 e exibido na competitiva do Festival de Cannes em 1972. Essa história vem pela primeira vez ao Brasil, legendada em português, trazendo uma série de assuntos caros àquela e à nossa época, tais como a Guerra e a Poluição.

Após a sessão, haverá conversa com Walter Lima Jr. e Lauro Escorel (assistente de Dib na época)

Apoio:
ABC - Associação Brasileira de Cinematografia
CEG - Casa de Estudos Germânicos de Belém
Goethe-Institut Salvador

07/12/2022

- O que o "A Lira do Delírio" representa para você e para sua carreira?
- Dib Lutfi: Acho que todos os filmes têm sua importância. Coloco "A Lira" junto com "Terra em Transe" e "Os Deuses e os Mortos". Foi tudo muito espontâneo neste filme. A gente chegava em um lugar e fazia. Usei bem pouca luz, foi tudo muito natural. As únicas sequências que foram preparadas com alguma antecedência foram as da Lapa, à noite, e as da casa de dança.*

"Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça" foi o lema tomado pelo diretor de "A Lira do Delírio", Walter Lima Jr. (foto) o qual foi o assistente de Glauber Rocha em "Deus e o Diabo". Ele estará presente na sessão de "Das Unheil", amanhã, às 18h30, na Cinemateca do MAM-Rio.

Será mais uma grande homenagem ao mestre da câmera-na-mão.

*Trecho de entrevista editado do catálogo da mostra "Luz em Movimento - A Fotografia no Cinema Brasileiro" (Centro Cultural da Caixa, 2007)

Homenagem a Dib Lufti – MAM Rio 06/12/2022

Em 1970, a primeira experiência internacional de Dib Lutfi marcaria sua carreira como diretor de fotografia. Já consagrado no Brasil, tendo participado de 8 longas premiados até então, Dib havia viajado para a Alemanha junto a Ruy Guerra e Ruy Polanah, para o Festival de Cinema de Berlim. Era verão e eles acompanhavam a exibição hors concours do filme “Os Deuses e Os Mortos”, do qual Dib era responsável pela fotografia. Naquela ocasião, um jovem cineasta alemão, Peter Fleischmann (1937-2021), figura promissora do Novo Cinema Alemão, percebeu na desenvoltura de Dib com a câmera-na-mão uma possibilidade para realizar seus filmes. Ele entrou em contato com Dib e lhe fez um convite. A proposta inicial era ficar na Alemanha para filmar um documentário biográfico, mas o trabalho se estendeu por 6 meses. Dib acabou dirigindo a fotografia do primeiro longa de ficção do diretor, chamado Das Unheil – ou “a catástrofe por vir”, em português. Este filme foi lançado em 1972, apenas na França e na Alemanha. Nunca veio aos telões do Brasil. Nem mesmo Dib ou Lauro Escorel (seu assistente na época) conseguiram assistir a uma cópia.

Minha pesquisa sobre Dib Lutfi se iniciou em 2017 e uma das incógnitas era basicamente: que diabos de “catástrofe” é essa que o Dib se meteu? Foi mais uma ironia na catapulta. Descobri que em 2015, o filme entrou na mira do Deutsches Filminstitut de Frankfurt e em abril de 2016 teve sua restauração concluída. Em 2018 houve uma sessão do filme na sala de cinema do Deutsches Filmmuseum, com a participação de Fleischmann e Volker Schaner (produtor do novo corte). A partir daí entrei com o projeto de cooperação internacional para empréstimo e legendagem do filme junto à Casa de Estudos Germânicos de Belém, ligado ao setor de Línguas Estrangeiras da UFPA e ao Goethe-Institut. Depois de ter assistido ao filme, em agosto de 2021, comecei a costurar um projeto com Hernani Heffner (Cinemateca do MAM-Rio) e com Lauro Escorel (ABC). Fizemos uma reunião e dias depois o Fleischmann veio a falecer. Meus planos começaram a esmaecer. Eu estava planejando uma exposição ampla sobre Dib Lutfi, com uma mostra de filmes, colagem de fotografias de cena (os “coreoesquemas”), mesas de conversa e uma sessão especial de “Das Unheil”, com a possível participação do alemão. Mas o caça-fantasmas parecia sozinho.

Depois de uma trabalhosa negociação com a viúva de Peter Fleischmann, com idas e vindas sobre acordos e licenciamento, conseguimos – com a ajuda de Volker Schaner e Michael Schurig (DFF) – produzir e emprestar uma cópia DCP em 2K para exibir em três sessões no Brasil: Rio, São Paulo e Belém. Pela primeira vez o público brasileiro poderá apreciar um dos pontos mais altos da carreira de Dib que, sem falar alemão – e talvez por isso – conseguiu realizar com maestria diversos planos-sequência, mais uma vez, com a câmera na mão.

Michel Schettert

São Paulo, 24 de novembro de 2022.

Homenagem a Dib Lufti – MAM Rio O MAM Rio é uma instituição aberta ao público que desde 1948 promove a criação artística e cultural

06/12/2022

-Por que “Das Unheil” foi filmado justamente em Wetzlar, essa cidadezinha inofensiva?

Fleischmann: Wetzlar tem 40 mil habitantes, 20 mil são trabalhadores estrangeiros, 10 mil trabalhadores temporários. Esta especificidade da estrutura social consuma a atmosfera desde o início.

-Você descreve “Das Unheil” como um filme total. “Total” em que sentido?

Fleischmann: Queria fazer um filme que fosse como a música, que não tivesse um enredo no sentido habitual, mas que houvesse um suspense. Para mim, o filme é principalmente ritmo, mais parecido com a música ou com a poesia do que com o teatro.

-Martin Walser, o coautor do roteiro que se diz “mero consultor de texto” nos conta:
“É fascinante para mim observar como Fleischmann reúne partículas da realidade, como ele injeta suspense na realidade de uma pequena cidade e dissolve o naturalismo em um material gerador de uma nova realidade.

-Será que o realizador “catastrófico” conhece o seu público de cinema?

Fleischmann: entre os jovens cineastas, sou provavelmente o que mais se entoca nos pubs suburbanos, no Leste ou na Estação Central. Aprendi a não ser juiz nem pedagogo. É preciso acreditar na audiência se o desejo é iniciar um processo de mudança na mesma. O ódio não produz nada.

- Por que o seu filme não foi nomeado para o Festival de Cinema de Cannes?

Fleischmann: Parte da imprensa expôs isso terrivelmente. Para mim, não é uma questão só com o meu filme. A meu ver, há uma manipulação clara. A comissão de seleção alemã considerou até agora apenas um filme, “Trotta”, de [Johannes] Schaaf. Em Cannes, eles próprios sentiram que se trata de uma falta de cortesia para com os outros cineastas alemães.

Barbara Bronnem
Abendzeitung, Munique, 20 de março de 1972.
(tradução nossa)

Na foto: Hille (Vitus Zeplichal) e Roswitha (Frédérique Jeantet)
Acervo Peter Fleischmann

06/12/2022

Jornal Abendzeitung, de Munique, em conversa com Fleischmann:

O SUFOCO DOS PEQUENOS BURGUESES
Fleischmann tornou sua catástrofe em obsessão

“A Catástrofe se aproxima” – este slogan já se tornou uma ameaça para o segundo longa-metragem de Peter Fleischmann, “Das Unheil”. “Muito mais que um filme graças ao seu bolso” foi o lema adotado pelo diretor, que pode tê-lo criado pensando tanto nos financiadores quanto no público pagante. Desta vez, em comparação com seu primeiro longa “Cenas de Caça na Baixa Baviera”, o diretor realizou um filme de indicadores audaciosos, distribuído pela United Artists. Material fílmico utilizado: 48mil metros; Custo de produção: cerca de 1 milhão de Marcos. A estreia mundial - antes de ir para França, Itália e EUA - será dia 23 de março no Luitpoldkino em Munique. Conversamos com Peter Fleischmann (realizador, argumentista, produtor) e com o corroterista Martin Walser.

O tema do filme é a enorme ameaça à nossa sociedade, que Fleischmann mostra através do tique-taque de uma bomba-relógio. “Possuído pelo diabo”, dispara “The Calamity” durante quatro meses na cidade provinciana de Wetzlar. Fleischmann coloca isso como um pedaço da Alemanha Ocidental, a BRD, que está política e economicamente sentada num barril de pólvora. Um país em que as próprias pessoas se tornaram dispositivos explosivos, faltando apenas duas coisas: fio e detonador.

O filme tem como ponto focal uma perspectiva inflamada: a família de um pastor protestante cuja pátria era a antiga Silésia. A situação psicossocial desta família pequeno-burguesa é apresentada por todos os ângulos – do ponto de vista do filho – em parte por flashbacks, em episódios reproduzidos abruptamente ou em passagens de estilo documental, com atmosferas altamente densas, que só podem ser descritas como um sufocamento.

(CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM)

03/12/2022

Por que Peter Fleischmann não obteve o mesmo sucesso em "Das Unheil" tal como o meio, atmosfera e trama conquistadas tão bem em "Cenas de Caça"? Fleischmann filmou o "Cenas de Caça" a partir do conto popular da Baixa Baviera de Martin Sperr, em que as pessoas e a paisagem ressoam entre si e a catástrofe da aldeia se torna subliminarmente visível. Peter Fleischmann escreveu o roteiro de "Unheil" em primeira pessoa e caiu em clichês que se adequavam ao meio das pequenas cidades. Para mostrar as travessuras, o realizador e o operador de câmera batem literalmente no tambor. O colorido típico que deveria aparecer se restringe ao alto som de sinos e trombones, e mesmo quando a câmera se desvia para o silêncio dos cantos idílicos da pequena cidade, o rufar de um helicóptero afoga este silêncio. Assim se afasta a armadilha da ar**ha que espreita suas vítimas; o que resta são imagens coloridas do lar, da feira da vida, compostas na sala de edição, perseguidas pela câmera sem empatia e ritmo cinematográfico.

Assim, o segundo grande filme de Peter Fleischmann sobre o desastre humano da atualidade é uma repetição ineficaz do seu primeiro grande lançamento cinematográfico, ao qual lhe faltou força para incrementar - embora o recurso da “pequena cidade” oferecesse com os seus tipos a oportunidade de desvendar uma catástrofe em novos formatos. Inserindo questões como proteção ambiental e gente abandonada, esta imitação da oposição parlamentar no estilo provinciano apenas leva Fleischmann a avançar por caminhos demasiadamente familiares que não deixam nada para trás a não ser o tédio.

Carl Schuster
publicado no jornal Die Rheinpfalz, em 01.04.1972
(tradução nossa)

Foto: Ingmar Zeisberg e Vitus Zeplichal. Still de Das Unheil.

03/12/2022

Artigo de Carl Schuster publicado em 01.04.1972 no Die Rheinpfalz (tradução nossa)

RETRATO ATUAL DA SOCIEDADE?
A pequena cidade no espelho distorcido da câmera
Estreia mundial do filme de Peter Fleischmann, "Das Unheil” - Clichês do meio provinciano

Munique. A longa jornada do novo filme de Peter Fleischmann, Das Unheil, terminou com vaias e aplausos na estreia, no Luitpoldtheater, em Munique.
Inicialmente, o longa deveria ter estreado em Wetzlar, pequena cidade alemã que serviu de cenário para o herói hessiano. No entanto, a cidade olímpica teve prioridade. Após seu primeiro trabalho crítico em “Cenas de Caça da Baviera”, o diretor – que vem de Zweibrücken – tentou agora criar uma imagem espelhada da sociedade atual alemã, em uma pequena cidade do interior.
“Das Unheil” é, por assim dizer, uma continuação cinematográfica de suas críticas. Enquanto em “Cenas de Caça” a gaiatice do campo se torna evidentes através de um “desviado”, as travessuras da cidade ocorrem em meio a um ambiente poluído pela indústria local, cujo diretor da fábrica é casado com uma mulher defensora da liberdade sexual. Há também uma catedral cujo pastor gosta de reunir os silesianos excluídos à sua volta, numa cidade onde há muita sujeira, um mercado encalhado e os sinos a tocar em conflito com as bandas de heavy metal. No meio disso tudo, há um rapaz que se vê às voltas com a vida e com os exames finais da escola.

Peter Fleischnann e Martin Walser criaram o roteiro do filme pensando no pequeno burguês alemão. Walser escreveu o diálogo e o fotógrafo brasileiro Dib Lutfi ficou com a câmera. Fleischmann não contratou nenhuma estrela. Seu elenco conta com Vitus Zeplichal, Ingmar Zeisberg, Reinhard Kolldehoff, Werner Hess - o diretor da Rádio Hessenfunk - e outros, além dos habitantes de Wetzlar, entre eles os mais antigos da cidade. Igreja, cozinha e pub são os centros sociais onde o pastor, seu filho Hille, seu amigo industrial e a sua esposa se destacam da multidão. Eles brincam de "pequena cidade", que é onipresente, como nas "Cenas de Caça da Baviera".

(continua na próxima postagem)
Foto: still do acervo Peter Fleischmann

02/12/2022

Crítica de Glauber Rocha sobre Das Unheil, em 17.03.1972
(Acervo Peter Fleischmann, tradução nossa)

CATÁSTROFE, DESTRUIÇÃO, POLUIÇÃO

O primeiro bárbaro cineasta alemão depois de Fritz Lang, Peter Fleischmann aterrissa na cidade onde Goethe escreveu “Werther”, um ensaio sobre a Alemanha burguesa contemporânea. Psicanálise, exorcismo e inserção de uma família de pequenos burgueses em uma sociedade europeia marcada por tabus religiosos, um colonialismo inconsciente e a culpa. O que fazer? Ir aos Andes, viajar para o Oriente, make a trip, esquecer das cidades industriais da civilização moderna? O novo Werther de Fleischmann não se suicida e acho que ele poderá se libertar de todos os males do seu tempo.

Um operador de câmera genial, o brasileiro Dib Lutfi, colabora com Fleischmann em sua execução física de planos, demolindo as estruturas clássicas da mise-en-scène. Anárquico, violento e pulsante, Fleischmann rompe com a mediocridade de um jovem cinema europeu castrado por complacência estética ou por teorias políticas. Gosto de DAS UNHEIL. Lotte Eisner ficará feliz em ver que a herança dos mestres renasce junto à Fleischmann.

Glauber Rocha

01/12/2022

Trata-se de uma omissão, porque estes filmes têm um atrativo, uma tensão, uma falta de esforço que de outra forma era bastante estranha ao Novo Cinema Alemão. No entanto, “Herbst der Gammler” (Outono dos Vagabundos) é um filme documentário sem qualquer insinuação espetacular. Fleischmann deixa simplesmente os chamados vagabundos falarem, e falarem de si próprios; A imagem quase irresistível de um sonho de liberdade se forma a partir daí. Isto deve-se ao fato de que a produção nunca pretendeu por um segundo conhecer nada melhor. Ou porque o olhar da câmera parece tão enamorada dos rostos e dos movimentos dos jovens. O filme provavelmente nem precisava dos espiões malvados que queriam colocar todo mundo num campo de trabalho.

Já “Jagdszenen aus Niederbayern” (Cenas de Caça na Baixa Baviera) é a versão cinematográfica de uma peça de Martin Sperr, o que a torna um pouco fácil demais para si própria, com a história dos caipiras obcecados que não toleram um homem homossexual. E o fato deste filme ainda hoje nos comover deve-se principalmente ao fato de Fleischmann - juntamente com Angela Winkler e Hanna Schygulla - serem verdadeiros caipiras a brincar consigo mesmos. Isto é particularmente belo e complexo na medida em que o roteiro não dita o que eles têm de fazer.

Dirigir significa renunciar ao controle total - e se um filme pode ficar fora de controle no processo, isso é algo que Fleischmann experimentou e sofreu com a sua superambiciosa co-produção germano-soviética "Es ist nicht leicht, ein Gott zu sein" (Não é Fácil Ser um Deus) de 1990. Depois disso, procurou tarefas mais fáceis. Por exemplo: salvou o Estúdio Babelaberg da ruína. Na quarta-feira, Peter Fleischmann, 84 anos, morreu em Potsdam. A imortalidade seria o mínimo que ele poderia ter.

Claudius Seidl em 11 de agosto de 2021
(Frankfurter Allgemeine Zeitung, tradução nossa)

01/12/2022

Artigo sobre a morte de Peter Fleischmann (por Claudius Seidl)

"A Irresistível Imagem de um Sonho de Liberdade"
A morte dele é um escândalo:
Peter Fleischmann, o subestimado realizador de cinema morreu

O diretor Peter Fleischmann morreu - e o escândalo desta notícia é que muitos dirão: Quem é esse? Nunca ouvi falar. Isto deve-se em parte ao fato da indústria cinematográfica ser injusta e caprichosa (felizmente os seus julgamentos são passíveis de revisão) e de a indústria cinematográfica alemã ser uma história de ignorância. Mas também parece ter algo a ver com o fato de que este Fleischmann poderia ser visto por muitos como alguém invencível, mas não ele próprio: um homem amigável com um nome íntegro, um rapaz de rosto cândido que falava um dialeto do Palatinado, de aspecto inofensivo. E aparentemente não tinha qualquer interesse em estilizar-se como um brilhante jovem cineasta, pois se desconhece qualquer atuação que poderia competir com a impertinência de Rainen Werner Fassbinder, a sensibilidade tentadora de Wim Wenders ou a eloquência mundana de Volker Schlondorff. E foi apenas nos seus últimos anos, como bem escreveu Schlondorff no obituário, que a sua disposição adquiriu uma grave semelhança com Orson Welles. Tinha-se tornado mais pesado e mais digno, fumando um charuto, esperando que a história do cinema o redescobrisse e finalmente celebrasse a sua coragem...

Para além de Munique, tinha também estudado em Paris, tinha sido assistente do peculiar Jacques Rozier e tinha testemunhado de perto como os cineastas da Nouvelle Vague saíram às ruas para trazer mais vida, mais presença, mais movimento às suas produções. No entanto, embora os filmes do jovem Godard ou do ciclo Antoine-Doinel de Truffaut estejam presentes na memória do público alemão, apenas especialistas se lembram dos primeiros filmes de Fleischmann, “Outono dos Vagabundos”, de 1967, ou o “Cenas de Caça na Baixa Baviera”, de 1969.

(O artigo de Claudius Seidl continua na próxima postagem)

“Das Unheil”: filme alemão fotografado por Dib Lutfi será exibido no Brasil pela primeira vez 26/11/2022

Estreia neste domingo, 27/11, às 20h, na Cinemateca Brasileira.

A sessão será apresentada por Lauro Escorel.

Entrada gratuita, compartilhe.

https://abcine.org.br/site/das-unheil-filme-alemao-fotografado-por-dib-lutfi-sera-exibido-no-brasil-pela-primeira-vez/

“Das Unheil”: filme alemão fotografado por Dib Lutfi será exibido no Brasil pela primeira vez “Das Unheil”: filme alemão fotografado por Dib Lutfi será exibido no Brasil pela primeira vez Últimas Notícias Lauro Escorel, Dib Lutfi e Peter Fleischmann No dia 8 de dezembro, às 18h30, a Cinemateca do MAM-Rio fará uma homenagem ao diretor de fotografia Dib Lutfi com a exibição de “A...

24/11/2022

Hoje é dia de ajuste técnico.

A equipe da Cinemateca Brasileira está fazendo os te**es para a projeção de "Das Unheil" no domingo.

Na foto: Dib Lutfi com o fotômetro na mão. À esquerda, o Dr. Hauchesein (Werner Hess); Atrás do fotógrafo, o pai (Reinhard Kolldehoff) e a mãe (Helga Riedel-Hassenstein) de Hille. (fonte: Acervo Dib Lutfi)

A primeira sessão de "Das Unheil" no Brasil será na .brasileira, com apresentação do diretor de fotografia Lauro Escorel, ABC.

É neste domingo! 27 de novembro, às 20h.

curadoria: Michel Schettert
amparo à pesquisa: CEG_UFPA e Goethe-Institut
apoio: ABC

Photos from Dib Lutfi's post 23/11/2022

"Sua 'Catástrofe' é maior do que o filme da Bíblia"

Artigo de jornal encontrado no acervo pessoal de Dib Lutfi.

Essas e outras informações encontradas sobre "Das Unheil" serão detalhadas nas sessões do filme no Brasil:

27/11, às 20h na Cinemateca Brasileira
08/12, às 18h30 na Cinemateca do MAM-Rio
22/12, às 19h no Cine Líbero Luxardo em Belém

pesquisa e curadoria:
.brasileira

23/11/2022

Artigo de jornal encontrado no acervo pessoal de Dib Lutfi. Tradução nossa:

Fleischmann e o Brasileiro

“Das Unheil” é o nome do segunda longa-metragem que o jovem realizador de Munique, Peter Fleischmann, está rodando atualmente em Wetzlar. Seu operador de câmera: o brasileiro Dib Lutfi, de 34 anos. Fleischmann assistiu à sua contribuição fotográfica em "Os Deuses e os Mortos", no Festival de Cinema de Berlim, e convidou-o para filmar "Das Unheil". Dib Lutfi aceitou.

Antigo técnico de rádio, Lutfi foi para a televisão em 1959, onde trabalhou como operador de câmera durante três anos. Depois realizou o seu primeiro longa-metragem: "Esse Mundo É Meu". Foi dirigido pelo seu irmão Sérgio Ricardo. Lutfi trabalhou principalmente com a câmera na mão, caminhando com ela através das favelas, subindo e descendo escadas, e assim ficou conhecido como um excelente operador de câmera-na-mão.

Até hoje, o brasileiro já fotografou 4 curtas-metragens e 23 longas-metragens. Entre eles: "A Opinião Pública" (dirigido por Arnaldo Jabor, 1964) e "Terra em Transe" (dirigido por Glauber Rocha, 1967).

"Das Unheil", de Peter Fleischmann, é o primeiro trabalho de Lutfi no exterior. E aqui também volta a rodar principalmente com a câmera na mão.

O filme de Fleischmann (em que atuam, entre outros, Ingmar Zeissberg e Werner Hess, diretor da estação de rádio Hessischer Rundfunk) retrata o confronto do jovem Hille (Vitus Zeplichal) com o seu entorno. O aluno fracassado, cheio de medo da degradação humana pela industrialização, torna-se um mero observador do ambiente.

O filme está agendado para estrear nas salas de cinema na próxima primavera.
F.H.

23/11/2022

Dib Lutfi e Peter Fleischmann. Um brasileiro e um alemão. A diferença de idade entre os dois era de apenas 9 meses. Este encontro resultou em um dos filmes mais preciosos da filmografia de Dib Lutfi: "Das Unheil", ou "A Catástrofe". F**a a pergunta: como é que os dois se comunicavam durante as filmagens?

Sessões:

27/11, às 20h na Cinemateca Brasileira
08/12, às 18h30 na Cinemateca do MAM-Rio
22/12, às 19h no Cine Líbero Luxardo em Belém

curadoria:
_Michel Schettert ()
apoio:
_Casa de Estudos Germânicos de Belém ()
_Goethe-Institut ()
colaboração:
_ABC ()

22/11/2022

Em "Das Unheil", a irmã mais velha de Hille se chama Dimuth.
Ela volta para sua cidade depois de ter sido enganada por um agente de moda.
Sem dinheiro, a jovem modelo busca se reencontrar no meio de uma família conservadora.

"Das Unheil" ou "A Catástrofe"

Exibições especiais no Brasil:

27/11, às 20h na Cinemateca Brasileira
08/12, às 18h30 na Cinemateca do MAM-Rio
22/12, às 19h no Cine Líbero Luxardo em Belém

Curadoria: Michel Schettert
Colaboração: ABC
Apoio: Casa de Estudos Germânicos de Belém + Goethe-Institut

22/11/2022

Em "Das Unheil", o narrador é o jovem Hille.
O protagonista vive a crise do vestibular pela segunda vez.
Suas paixões saltam entre uma senhora casada e uma mocinha da igreja.
Embora o pai seja o pastor da cidade, Hille se envolve com colegas que querem explodir o sistema.

"Das Unheil" - ou "A Catástrofe" - foi lançado há 50 anos e agora vem ao Brasil para as primeiras exibições:

27/11, às 20h na Cinemateca Brasileira
08/12, às 18h30 na Cinemateca do MAM-Rio
22/12, às 19h no Cine Líbero Luxardo em Belém

Curadoria:
_Michel Schettert ()
Apoio:
_Casa de Estudos Germânicos de Belém ()
_Goethe-Institut ()
Colaboração:
_ABC ()

#2022

21/11/2022

"Das Unheil" foi dirigido por Peter Fleischmann (1937-2021), que conheceu o Dib em 1970, na ocasião do Festival de Berlim. Dib estava acompanhando o longa "Os Deuses e os Mortos", do qual foi diretor de fotografia. Quem o apresentou ao alemão foi o diretor Ruy Guerra.

Este projeto é uma cooperação internacional Brasil-Alemanha, com apoio da Casa de Estudos Germânicos da UFPA e do Goethe-Institut. Curadoria: Michel Schettert

Exibições agendadas:
27/11, às 20h na Cinemateca Brasileira
08/12, às 18h30 na Cinemateca do MAM-Rio
22/12, às 19h no Cine Líbero Luxardo em Belém

18/11/2022

O filme “Das Unheil” sempre foi uma incógnita na filmografia de Dib Lutfi.
Filmado na Alemanha e lançado no Festival de Cannes, em 1972, a obra nunca veio ao Brasil e nem mesmo o Dib pode assisti-la.
Hoje temos a alegria de anunciar as primeiras exibições do longa-metragem em São Paulo (27/11), Rio (08/12) e Belém (22/12).
Acompanhe mais informações nas próximas postagens.

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