Espaço Cultural Rute

Em 8 de dezembro de 1980, por volta das 23 horas, Mark David Chapman atirava e matava o ex-Beatle John Lennon na frente de seu prédio, em Nova York. Mark. Aos 25 anos, tinha Lennon como ídolo e era fã dos Beatles, mas como se considerava cristão, começou a odiá-lo depois de falas do cantor sobre Deus, religião e de suas desavenças com os outros Beatles. Ele foi até o prédio do cantor, conseguiu um autógrafo na capa do álbum "Double Fantasy", sacou um revólver e efetuou 5 disparos contra Lennon, que foi atingido por 4 tiros.

Um ano antes, Belchior lançara "Comentários a respeito de John", coautoria com José Luiz Penna, música do álbum "Era Uma Vez Um Homem e Seu Tempo" (1979). A letra é repleta de referência a Lennon. Já no início, os autores parecem apoiar a decisão de Lennon ao deixar a banda The Beatles, seguir a carreira solo e viver com a cantora japonesa Yoko Ono:

"Saia do meu caminho.
Eu prefiro andar sozinho.
Deixem que eu decida a minha vida.
Não preciso que me digam
de que lado nasce o Sol (Leste/Oriente)*,
porque bate lá meu coração"
*Grifo nosso.

E o que dizer desse trecho?

"John, eu não esqueço (Ohno! Ohno!):
a felicidade é uma arma quente!"

Aqui, a referência direta é a canção "Happiness Is a Warm Gun" (A felicidade é uma arma quente) de John Lennon e Paul McCartney. Segundo Lennon, a música fazia referência ao insano slogan de uma propaganda de armas, algo que ele combateu tanto, defendendo a paz, e o não uso de armas.

É clara a intenção de Belchior homenagear seu ídolo. Todavia, essa frase, coincidentemente, vai se encaixar de maneira quase premonitória com o triste acontecimento do assassinato de Lennon.

"Ouvir Belchior e Lennon nos faz voltar ao tempo em que a boa música caminhava de mãos dadas com a poesia, e nos conduzia aos sonhos mais belos e utópicos. O trovador cearense deixou implícito o seu recado, que serve para os dias de hoje. Facilitar o acesso às armas de fogo é recuar na busca da paz, pela qual John Lennon tanto lutou, e atualmente, tanto lutamos, num pais de retrocessos como o nosso, onde temos que defender o óbvio." Thiago Gonzaga

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