Exposição coletiva sobre a influência do disco de vinil na produção de arte contemporânea nacional. D O vinil é (novamente) uma realidade.
Novas Frequências), analisa a influência do disco de vinil na produção de arte contemporânea nacional. Quando se trata da relação entre arte e música, o primeiro objeto a ser analisado são as capas dos discos, isto é, sua parte meramente visual. A exposição proposta vai muito além das capas (ou da superfície), mostrando toda uma ampla gama de usos do objeto enquanto material estético de intervenção sonora, física, conceitual, ritualística e poética. Estão reunidos nos três andares do Castelinho do Flamengo, 35 obras de 23 artistas contemporâneos das artes visuais e sonoras, dentre eles, Cildo Meireles, Antonio Dias, Waltercio Caldas, Dora Longo Bahia, Chelpa Ferro, Brígida Baltar e Chiara Banfi. São esculturas, fotografias, obras interativas, instalações, telas, performances sonoras e “discos de artista” (trabalhos onde o disco é a própria obra de arte) que vão além do uso funcional projetado para o objeto. Nos dias de hoje, o disco de vinil transgrediu sua suposta inutilidade comercial e virou ícone pop. Antes obsoleto com o avanço do CD e da tecnologia digital, atualmente é objeto cult no mundo todo, um símbolo-fetiche muito maior do que o som presente em seus sulcos – um dos principais representantes da nossa identidade social e cultural, o disco de vinil é peça fundamental na história mundial. A cada ano, seu aumento de vendas supera as expectativas (em 2015, bateu o rendimento dos serviços de streaming), o que definitivamente o retira da categoria “revival” ou “item de colecionador”. Além desta retomada pelo valor do som, deixando de ser parte precária do passado e tornando-se qualidade nos novos tempos sonoros, o disco de vinil transcendeu cada vez mais o mundo da música e foi apropriado em diversas frentes das artes visuais, indo além de sua materialidade visual e de seu design para explorar ideias e questões muito distantes do seu uso original. Antes da invenção do fonógrafo por Thomas Edison em 1877, a vida sonora era linear, dependendo da memória biológica e coletiva das comunidades para ser preservada através do tempo. A possibilidade que um aparelho que grava e reproduz sons distorceu completamente a natureza espaço-tempo e o processo de informação, causando uma revolução radical na visão de mundo. Com o gramofone chegando ao mercado em 1894, o som começa, ainda que de forma tímida, a reverberar através do outrora mundo silencioso das artes plásticas. Primeiro com Marcel Duchamp e os dadaístas; depois com John Cage; em seguida com Pierre Schaeffer e a música concreta; posteriormente com Nam June Paik e outros importantes membros do Fluxus, da arte conceitual e dos movimentos intermedia; em paralelo com os jamaicanos e seus sound systems; logo após com a cultura do break beat e do turntablism na Nova Iorque dos anos 70, que transformou o toca-disco em um instrumento musical (ao invés de um reprodutor de sons); depois com as colagens sonoras de Christian Marclay, só para citar alguns exemplos. Disco é Cultura traz um importante papel na aproximação da música com as artes contemporâneas. As convergências são inúmeras. Basta observarmos que, em outros países e instituições, as “caixas brancas” estão cada vez mais híbridas em instituições como Whitney, MoMA, MACBA e New Museum. Convidar o público visitante de museus para, além dos olhos, usar seus ouvidos, tem se tornado uma constante. O som, devido a avanços na tecnologia e também pelo desejo de ultrapassar os limites da arte, passou a ser reconhecido e exibido como uma forma de arte em si mesmo. Lista de obras completa:
_ANDRÉ DAMIÃO: Narva1 (2016)
_ANTONIO DIAS: Record: The Space Between (1971)
_BARRÃO: Aki Onda - golden h (2014)
_BERNARDO DAMASCENO: Silêncio (1998)
_BRÍGIDA BALTAR: Neblina orvalho e maresia coletas (2001)
_CILDO MEIRELES: Mebs/Caraxia (1970-71), Sal sem Carne (1975), Rio Oir (2011) e Pietro Bo (2013)
_CHELPA FERRO: 3 (2012) e Playlist (2014)
_CHIARA BANFI: Em branco - da série Discos vazios (2013)
_DANIEL FROTA: Notação para máquina de escrever (2013)
_DORA LONGO BAHIA: petit a (2011)
_FELIPE BARBOSA: Autógrafos (2008-09) e The record (2011)
_GUSTAVO TORRES: Vitrola e lixa (2013) e Disco contendo o som de sua própria gravação (2014)
_HUGO FRASA: MTFM (2017)
_LETÍCIA RAMOS: Vostok Suite (2014-2015)
_O GRIVO: Dueto de radiolas (2017)
_PONTOGOR: Contraponto (2013)
_RADIO LIXO: Coral tradição (2015)
_ROMY POCZTARUK: A última aventura: suite Transbrasil (2011)
_RAFAEL ADORJÁN: Mulher-Terra Vol.1 (2011), Equalizar (2011), Não tenho tempo de ter o tempo livre de ser (2011), Escuta aqui (2011), Cuore Matto (2011), Do experimental a outros planos (2011)
_SIRI: Discos e manivelas (2017)
_THIAGO SALAS: Ensaio sobre a leveza (2014)
_THOMAS JEFERSON: Objeto mídia 3027 (2017)
_WALTERCIO CALDAS: A Origem do futuro (1974) e A entrada da Gruta de Maquiné (1980)