Esquizofrenia não é o fim - Dicas de um doente já liberto do mal

Informacoes intensas e completas para quem quer lidar com a esquizofrenia e ajudar o doente a sair d

28/08/2022

Leiam tudo

09/11/2020

QUAL A PRINCIPAL DICA A SEGUIR PARA UMA PESSOA QUE ESTA EM SURTO OU PRESTES A TER UM?

Quando a gente se mete a refletir em doentes de esquizofrenia, em seus mais variados estados, e em como lidar com eles, para resolver problemas pontuais, a gente percebe aos poucos que tudo deve ser dividido em questao de prioridades. Uma pessoa em surto esta aos poucos apagando seus proprios neuronios com a crise, entrando num estado de catatonia que a impede de refletir direito, se distanciando mais e mais das pessoas por meio de um apagamento da memoria (que pode ate voltar, mas somente apos muito esforco), e sendo assim a questao sobre se ela nao toma banho ou se nao esta se comportando direito ou se esta inventando coisas (conspiracoes ou ouvindo vozes, por exemplo) f**a claramente em segundo plano. É preciso evitar que ela continue em surto, fazer com que ela aos poucos se recupere e acalma-la, para que o surto nao cause mais dano do que ja esta causando.

Mas, a pergunta que f**a para muitos ee, como tirar a pessoa do surto? Ou como evitar que o surto piore? Ou ao menos, como fazer com que a pessoa nao sofra tanto com o surto, e possibilitar uma recuperacao menos traumatica? Minha resposta a essa questao ee: compreender, acompanhar e cuidar. Sim, nao considero adequado INTERFERIR (tirando claro alguns momentos mais criticos). A atitude certa a tomar com uma pessoa em surto ee simplesmente compreender que ela esta em surto, em primeiro lugar. Depois, acompanhar a pessoa enquanto evolui e involui no surto, durante ele. E depois, cuidar a pessoa, quando ela estiver tendo ainda efeitos do surto no seu dia a dia, e na sua vida como um todo. Por que considero que interferir nao faz parte do tratamento de uma pessoa em surto? Porque qualquer aproximacao para a pessoa em surto ee excessivamente traumatica e dolorosa. Voce pode estar apenas OLHANDO para uma pessoa em surto que ela nao consegue aguentar o seu olhar, e pode piorar APENAS COM ISSO. Voce pode apenas tentar toca-la que ela comecara a gritar de dor com o toque, apenas com um leve toque. Porque ee assim que o doente muitas vezes se sente. Eu sou doente. Eu sei disso. Eu ja passei por uns 10 surtos, e era bem assim.

Por isso, os familiares precisam antes de mais nada compreender o doente. Depois, cuidar dele aa distancia, e aos poucos cuidar daquilo pouco que ele precisar. SOMENTE ISSO. Nao tentem ao menos naquele momento algo mais. Fiquem restritos a fazer isso que tudo acontecera bem com voces. Este texto poderia ter estado no livro de surtos, que estou vendendo, por pdf, mas ira estar numa nova edicao. Aviso tambem que estou prestes a lancar o segundo volume, sobre Receber o doente, e que estou fazendo os novos, inclusive minha biografia, que ira aa parte, de outra forma de edicao. Os interessados podem me contatar por inbox, por email rodrigo_contrera2@hotmail ou por whats 11 95084-0496.

Bom dia

07/11/2020

RECUPERAR-SE É COMO ATRAVESSAR UMA MARATONA, EM QUE SEMPRE SURGE UMA NOVA PROVA, AINDA MAIS DIFICIL

Lembro-me bem de quando eu fui diagnosticado esquizofrenico. Eu fiquei com vergonha e nao consegui conversar sobre isso com minha esposa. Mas levei com leveza, digamos, na medida em que passei a ser medicado e atendido psiquiatrica e psicologicamente. Eu tinha uma condicao social melhor, entao nao havia problema pagar psiquiatra e psicologa e ir toda semana ao consultorio acho que duas vezes. Minha esposa havia pedido bem antes para fazermos terapia, e faziamos em horarios diferentes, mas no mesmo consultorio. Mas com o tempo o casamento degringolou e eu acabei f**ando sozinho e muito pior em termos da doenca, de depressao e profissionalmente.

Lembro-me bem que a separacao acabou comigo. Lembro-me que nada mais fazia sentido, e que eu nao tinha mais pique para trabalhar do jeito de antes. Por outro lado, a empresa ia mal das pernas, e eu passei a ser culpado por atrasos diversos. Fui piorando, me isolando, arrumando encrencas, bebendo, me envolvendo com a noite, e assim fui piorando mais e mais ate que fui demitido e nao tinha mais vontade de nada, entao f**ava bebendo na noite. Depois, passei a atuar em pecas de teatro, fiquei conhecido e achei que tinha futuro na area artistica. Mas nao tinha. Era apenas uma ilusao. Fui f**ando endividado, fui me distanciando das pessoas legais, virei um sujeito meio mulambento, e somente depois, quando me isolei e passei a me cuidar eu comecei a melhorar.

Mas todas as melhoras posteriores foram muito aos poucos. Primeiro, foi com a familia, que passou a me indicar psicologa e psiquiatra. Depois, com os remedios. Depois, com o atendimento em grupo, e depois com o atendimento num CAPS. Passei a melhorar, mas muito aos poucos, e as dividas ainda me incomodavam demais. Mas consegui superar tudo isso, tambem muito aos poucos, e fui saindo da linha de tiro. Mas o processo todo levou mais de 12 anos, no total, sendo uns 5 na recuperacao, mas insisto, muito aos poucos. Sempre surge algo novo com que me preocupar, sempre surge um novo desafio, ee como se a doenca nao me deixasse em paz, realmente. Agora mesmo ouco um zumbido insistente na cabeca e mal consigo me concentrar para fazer cursos. Mas continuo tentando.

A questao ee que para o doente nada parece parar, ou nada pode parar. Tudo ee sempre uma luta constante e incessante para conseguir pequenos passos de melhoras, que nao se sustentam e que podem fazer recair em crises repentinas. Embora estas ocorram menos atualmente, eu sei que preciso manter a calma o tempo todo e me conter com respeito a minhas emocoes. Nao consigo mais chorar normalmente, e os lamentos, culpas e perdas que tenho ainda irao me acompanhar por anos a fio. Inclusive irei escrever sobre elas no proximo livro, que irei vender tambem aqui. Ee terrivel que a vida vire isso que virou, mas eu tenho que entender que poderia estar muito pior. Poderia estar morto, inclusive. Ou sem conseguir sequer viver minha vida isolada mas em paz.

Boa noite

06/11/2020

COMO PODE SE DAR O PROCESSO DE RETOMADA DA VIDA, A PARTIR DA PSICOTERAPIA, PARA UM DOENTE DE ESQUIZOFRENIA?
Nao posso generalizar, mas escolhi esse titulo para passar uma ideia daquilo por que estou passando em termos de recuperacao da ideia e factualidade de minha vida a partir da terapia. Sou esquizoafetivo paranoico desde 2008, tratado por diversas terapeutas desde entao, mas agora acompanhado, num CAPS, por duas jovens muito competentes e atenciosas que teem me ajudado muito a me recuperar dos efeitos mais nocivos da esquizofrenia em minha vida.
Fui convencido a fazer terapia - e a leva-la a serio - por uma delas, ha um ano e meio, mais ou menos. Na epoca, eu nem tinha dinheiro para onibus, e estava descrente de terapia, na medida em que as anteriores nao haviam surtido o menor efeito - ou pequeno, talvez pelo meu carater reativo de autista nivel 1. Ela me convenceu se preocupando sinceramente por mim, e isso me animou no processo, que esta sendo bastante incisivo. Ela nao tem me perguntado nada em especial, mas o processo ee bastante demandante, na medida em que eu reluto em aceitar o passado, as suas consequencias e o meu destino, de homem de meia idade sem emprego nem assistencia sozinho num apartamento abarrotado de livros.
Nao sei bem como isso tem acontecido, mas de repente, com os remedios - risperidona 2 mg e litio 300 mg por dia -, e a terapia, eu tenho conseguido superar diversos obstaculos, indo desde a necessidade de conseguir trabalhos, passando pela autoestima, sociabilidade, relacionamentos, e tal. Mas o maior trabalho tem sido mesmo com o passado. Por acaso, descobri que a musica deveria ser o fator por meio do qual eu iria superar traumas, e por meio dela tenho conseguido, ao mesmo tempo em que tenho admitido erros e me admitido em parte vitima das circunstancias. Mas tudo isso tem redundado no fato de que agora aceito o passado como foi e vejo o presente como uma verdadeira conquista, assim como o futuro como um desafio. Aos poucos, muito aos poucos, volto a me reconhecer como um ser vivo, com sentimentos, desejos e ambicoes, e consigo vislumbrar uma saida em termos de sentido e signif**ado para minha vida. Ee muito gratif**ante.

04/11/2020

A ESQUIZOFRENIA DIVIDE A MENTE. QUAIS OS COMPONENTES TERAPEUTICOS DISSO, E QUAIS OS PSIQUIATRICOS?

Na etimologia da palavra esquizofrenia, percebe-se que os antigos ja sabiam e intuiam que havia, no doente, uma divisao interna. Que o doente meio que se sentia puxado para um lado ou para o outro, sobre questoes que podia ou nao podia, queria ou nao queria, conseguia ou nao conseguia falar. Pois bem. Como doente de esquizoafetividade paranoica ha mais de 12 anos (algo que outros considerarao nao esquizofrenia), eu sei que isso realmente acontece. Que essa divisao atinge o doente realmente, que a divisao redunda em problemas de ordem psicologica e terapeutica, que muitos desses problemas nao podem ser ditos pelo doente em muitos casos, e que isso leva aos poucos ou de repente a problemas maiores que acabam no final remetendo aa esquizofrenia.

No meu caso em particular, um rompimento com um curso e a expulsao de uma escola, o posterior rompimento com outra, a sensacao de nao ser bem visto nem bem querido, a sensacao de estar fazendo coisas erradas, a sensacao de estar sendo vigiado (por causa das questoes anteriores), assim como a sensacao de nao ser mais querido pela familia, fizeram com que aos poucos os componentes psicologicos e terapeuticos me levassem a sensacoes estranhas, de nao pertencimento, de estranheza, de incomodo, de me sentir nao fazendo parte, e isso piorou radicalmente depois, quando minha esposa passou a querer se separar de mim e eu entrei numa pegada extremamente agressiva para nao perder o emprego, nao perder a esposa, nao perder as parcas comunicacoes com meus colegas de trabalho, nao perder a autoestima e assim por diante. Tudo passou a ocorrer de forma a que eu tivesse medo por nao perder qualquer coisa, porque afinal ja nao tinha quase nada comigo, e perdendo essas coisas eu iria perder ainda mais em mim mesmo. Vejam que eu nao tinha medo de perder as coisas, mas tinha medo da sensacao que tudo isso iria me render - e rendeu. Tanto que entrei em parafuso e depois quase me matei. Mas superei.

A questao que vem aqui ao caso ee que a esquizofrenia, embora seja uma questao de ordem psiquica que lida com substancias em nosso cerebro, ee muito afetada pela forma como lidamos com as frustracoes, com as conquistas, assim como com as perdas para todo o sempre. Tanto que somente agora, em meu processo terapeutico, comeco a conseguir falar o que sofro e sofri e consigo lidar com as sensacoes derivadas de todas aquelas frustracoes e perdas. E olha, ainda hoje nao ee facil. Meio que todo dia ee uma especie de luta ardua para nao perder o pouco de sanidade que ainda tenho em mim. Pois bem, assim sendo considero que as pessoas com problemas psiquiatricos devem saber lidar um pouco melhor com seus problemas de vida, porque estes sao os que no fim das contas irao resolver para todo o sempre seus questionamentos mais profundos.

boa tarde

26/10/2020

O QUE É MELHOR AO LIDAR COM O DOENTE: DEIXA-LO QUIETO, EM PAZ, OU SE PREOCUPAR COM ELE A TODA HORA?

Dificil f**ar proximo de um doente e nao se preocupar com ele. Dificil porque o doente promove preocupacao em seu favor. Ele costuma aparentar problemas de alimentacao, de sono e de comportamento, por exemplo. F**a dias ou ate meses sem tomar banho. Dorme no mesmo lugar, e nao se preocupa com a higiene de lugares proximos dele. Faz coisas indevidas em lugares inapropriados, e nao liga para o julgamento alheio. Se excita com nada, ou se excita demais por qualquer coisa. O doente parece um sujeito totalmente fora do controle, e motiva que a gente se preocupe com ele. Imaginem lidar meses e ate anos ou mesmo decadas com um familiar que se comporta dessa forma. Isso pira qualquer familia. Nao ee facil.

Porem, ao contrario do que podem imaginar, a melhor atitude ao lidar com um doente de esquizofrenia ee, ao menos num primeiro momento, nao importuna-lo, deixa-lo em paz e nao julga-lo, porque assim ele se sente temporariamente melhor. Ou seja, melhor ee aguentar calmamente enquanto o doente continua com seus problemas, e tentar, muito aos poucos, dar-lhe algo para beber ou comer, e cuidar de suas necessidades de forma discreta. Essa ee a melhor forma de lidar, ao menos durante boa parte do tratamento, com o doente. Pode parecer estranho, mas a questao aqui ee que os problemas do doente nao estao sob seu controle, ele nao percebe nem sabe realmente o que faz, e se torna desgastante tentar coloca-lo na linha, quando na verdade ele so precisa aprender lentamente a sair do seu estado rumo a uma situacao um pouco melhor.

Por isso, eu digo para os familiares costumeiramente que eles precisam primeiro entender que os problemas da esquizofrenia sao em parte devidos a questoes que nao da para acessar direito nem resolver, e portanto os familiares precisam ter maior resiliencia e suportar. Pois ee isso mesmo, suportar. Com o tempo, a medicacao e a terapia tudo ira melhorar. Isso nao ee torcida, isso ee fato. Ainda bem.

25/10/2020

UMA SENSACAO DE QUE AS COISAS NAO ENCAIXAM - A IMPRESSAO DE ESTRANHEZA DO MUNDO PARA O DOENTE DE ESQUIZOFRENIA

Ja virou lugar comum afirmar que o esquizofrenico ee, graf**amente, uma pessoa que se quebrou por dentro e na qual os pedacos nao mais encaixam. Isso, de forma generica, pode ate ser considerado proximo da verdade, mas como a doenca se manifesta de muitas formas, com muitas variantes, por vezes sentimos que a imagem nao se aplica tao apropriadamente, ou que falta alguma coisa. Seja como for, o doente, com o passar da recuperacao, sente aos poucos que as coisas voltam a fazer sentido, sim, e que os pedacos antes totalmente quebrados passam a dar-lhe um ar satisfatorio de sentido, como se tivessem sido algo que no limite ee impossivel de tocar com as maos. Ou seja, o doente percebe que as coisas como que querem se encaixar, embora no limite nao o consigam. Ou seja, ee como se na tentativa de fazerem sentido, as coisas batessem as quinas entre si e isso doesse um pouco. Como se a gente estivesse tentando encaixar uma peca redonda num espaco que perdeu a forma, e que nao fosse propriamente mais redondo.

A questao ee que a esquizofrenia ja podia ser prenunciada naqueles momentos passados em que ela nao estava na pessoa. A questao ee que aquela viagem de que o futuro paciente nao gostou ou para a qual teve que se esforcar muito para curtir talvez tenha prenunciado uma incapacidade de adaptacao que depois iria levar aa doenca. A questao ee que os motivos para uma quebra interna ja estavam naqueles anos de viagens, e naqueles momentos em que o futuro doente sabia que as pessoas em questao nao iriam mesmo se entender, embora ele insistisse no esforco. Porque na verdade o rompimento interno ja estava la em algum momento na vida daquele cara que iria adoecer, e que iria sofrer com algo que jamais iria encaixar, porque talvez nao fosse mesmo para encaixar (embora ele o tentasse tao desesperadamente). Essa estranheza de nao encaixe ee a meu ver o que mais caracteriza o momento de recuperacao, na medida em que ele resume uma tentativa de acobertamento da dor por algo que faca sentido e que nao cause mais esse rompimento interno, que ficou no doente para sempre contudo. Ou seja, ee como se o doente estivesse agora tentando resolver por meio de esparadrapos a questao de perda de orgaos de um corpo quase em destruicao interna e se esgoelando no meio da rua. Mas esse tipo de situacao ee no fundo natural e a unica possivel para o doente, que agora precisa de calma para tentar, com muito esforco, se REFAZER.

Boa tarde.

23/10/2020

A RETOMADA DA VIDA SE DA IMEDIATAMENTE COM A MEDICACAO, OU A TERAPIA LEVA TEMPO ATE SURTIR EFEITO?

Todos nos sabemos que para um doente de esquizofrenia sair do seu estado precisa de remedios, ausencia de substancias psicotropicas, terapia e muito esforco. Ocorre que muitas vezes a familia nem o doente sabem claramente como tudo acontece, como a doenca ee deixada para tras, e como a retomada da vida acontece. Ou seja, o que vai antes e o que vai depois, se da para confiar apenas nos remedios ou se a estabilizacao leva muito mais tempo do que uma terapia bem conduzida. Eu lhes digo que de forma geral o que me acontece ee que com os remedios e cuidados eu evito cair em surtos e outras ocorrencias, que a terapia serve para me estabilizar no humor e nas questoes pessoais, mas que a retomada da vida so aparece mesmo bastante tempo depois, na medida em que o proprio doente assume como suas as questoes que o levaram aas crises e aos momentos complicados com a doenca.

Nao sei se isso ee para todo doente. Sei que apenas agora, apos uma terapia longa e conduzida com duas psicologas, eu consigo finalmente voltar aa estaca zero, qual seja, ao momento em que havia f**ado antes dos surtos e da piora do meu estado. Minhas questoes eu abordei com frequencia com as psicologas, mas somente agora, quando me sinto tao bem que pareco retomar verdadeiramente a vida, eu consigo vislumbrar meus problemas de trabalho, de familia e de casamento com maturidade. Eu finalmente ENTENDO algo do que me aconteceu, mas isso nao surge de repente, mas em sonhos, em situacoes de vigilia, em situacoes de reflexao bastante consciente. Somente com essas ocorrencias eu volto a assumir como minha a minha vida, somente assim eu sinto que o que me aconteceu tinha explicacao, nao vinha apenas da doenca, e tem a ver com a forma como eu tratava o mundo, e sentia que o mundo me tratava. Ou seja, somente agora eu volto a assumir minha identidade.

Boa tarde

22/10/2020

O PROCESSO TODO ATE CONSEGUIR UMA ALTA
Acabo de falar com minhas terapeutas. Sao duas, que me atendem ha uns dois anos. Num determinado momento da fala, uma delas quase falou em termos de alta. Mas eu neguei. Sinto que o processo de recuperacao avanca fortemente, que eu consigo superar obstaculos, que ja me sinto nos locais mais ou menos aa vontade, que minha relacao emotiva com o mundo se estabiliza, e isso leva necessariamente a um processo de alta. Mas nego, porque ainda me sinto um pouco enfraquecido, e porque ha tanto, mas tanto, a fazer. Entao me nego a acreditar. Mas o fato ee que a alta se avizinha, que eu saio do meu estado psiquiatrico demandante e que consigo tocar a vida, realmente. Como encarar isso, a nao ser com um pouco de medo, logo eu, que tanto escrevi a respeito e que tao bem pareco conhecer minha doenca?
A alta ee possivel. Semana que vem falarei com elas novamente e falarei disto que comento aqui, dos meus engulhos e minhas dificuldades, mas tambem de meu progresso e de minha necessaria saida do estado de doente. Porque eu nao me considero mais como tal, nem me sinto, nem ninguem me ve, tirando um ou outro amigo que me considera muito, digamos, especial. Ocorre que saio de meu estado de doenca e comeco a ver a vida como ela realmente ee, e que entendo meu processo como para valer, e que vejo minha vida como um enigma a ser vivido e que vai para a frente, nao que volta o tempo todo para eventos que me deixaram trauma. Estou ha anos querendo isso e tenho que enfim abracar a vida, porque ela tambem ee para nos, esquizofrenicos. Porque sair ee possivel e lindo, creiam-me, ee lindo.
boa tarde

21/10/2020

QUAIS SERIAM OS PRIMEIROS PASSOS A TOMAR QUANDO SOMOS DIAGNOSTICADOS COM ESQUIZOFRENIA?
Nao me concentrarei aqui nas respostas mais comuns dos doentes quando sao considerados como tal. Sabemos que eles recusam, que se negam a admitir, que acham que esta tudo bem, ou que mesmo admitindo que teem a doenca nao a levam suficientemente a serio. Para eles, em geral parece ser algo passageiro (o que dificilmente ee). Mas tenho sido consultado por amigos que teem amigos com esquizofrenia, jovens, e que nao sabem o que fazer, a quem consultar, e que atitudes tomar a respeito. Falarei o que costumo achar como melhor, mesmo que nao tenha sido claramente o que fiz (ao menos integralmente), nem muito menos aquilo a que estive disposto a fazer.
Quando fui diagnosticado, num consultorio, eu ja fui medicado, e ja comecei a tomar remedios e a retomar a terapia. Mas nao conversei com minha esposa a respeito. Deixei passar. Esperei que tudo fosse se desenrolando normalmente, quando nosso casamento ja estava combalido, coisas negativas continuariam a acontecer e teriamos de lidar com elas. Ou seja, mesmo que eu tenha assumido a doenca e me medicado e tratado terapeuticamente, nao conversei com minha familia, de forma madura, a respeito. Isso fez com que a doenca fosse uma coisa eminentemente minha e nao nossa, e portanto com que eu estivesse por conta propria lidando com os aspectos negativos da doenca. O resultado foi que o casamento foi se enfraquecendo, com que eu nao fosse necessariamente melhorando, com que ela fosse f**ando cada vez mais insatisfeita, e com que tudo fosse assumindo a cara de um fim.
Outro aspecto ee quando a se informar a respeito da doenca. Eu nao procurei saber o que ela era. Eu simplesmente passei a deixar tudo, a medicacao e a terapia, na mao dos meus psiquiatras e psicologos e portanto nao passei a ter um controle eu mesmo daquilo que acontecia. Ou seja, a doenca eu passei a terceirizar como se fosse algo que nao me dissesse respeito. Nao me informei entao nao soube o quao ela era grave e os cuidados que eu deveria ter com ela. Muito ao contrario, continuei me comportando indevidamente, mesmo que tomando os remedios e fazendo terapia. A doenca nao era minha, era alheia, era de outra pessoa, que por coincidencia era eu. Ou seja, nao me informando eu nao vim a saber que ela nao teria cura, que eu teria de o tempo todo estar atento a ela, que os efeitos perniciosos da doenca iriam me acompanhar para sempre, e que eu provavelmente mereceria me aposentar por causa dela. Nao fazendo isso, pequei novamente, e posteriormente eu iria pagar caro por tudo isso.
Boa noite

20/10/2020

EM QUE MEDIDA O COMPONENTE AFETIVO CONTRIBUI PARA DIFICULTAR A RECUPERACAO DO DOENTE?
Um aspecto comum a quase qualquer variante de esquizofrenia, depressao e outros disturbios é o componente afetivo. A emocao ee algo que quase sempre envolve a ocorrencia de surtos, a dificuldade de diagnostico, a incapacidade de lidar com questoes aparentemente simples e assim por diante, indo ate a recuperacao. Esse aspecto emotivo ou afetivo foi um dos principais componentes que causaram a doenca em mim, e eu noto que diversas outras pessoas passam tambem por isso. Ocorre que o aspecto afetivo nao ee apenas uma superacao de trauma, mas ee algo que avanca para muito alem na vida da pessoa, se intrometendo inclusive em seu comportamento cotidiano.
No meu caso, em certo momento da doenca e da recuperacao eu desenvolvi uma compaixao exagerada por pessoas de rua, dado que nao sentia nada com respeito a pessoas mais proximas, e depois passei a me aproximar de objetos que queriam dizer algo para mim, quando o ambiente como um todo nao me dizia pratiamente nada. Era como se eu pegasse emprestado o carinho que queria ter por pessoas da familia, amigos ou namoradas e o substituisse pelo carinho por um pedaco de plastico que servia como piso no meu banheiro. Por isso tambem passei a acumular coisas aos montes, achando que elas traduziam uma emocao que eu havia perdido. Isso acontece ate hoje. Acontece inclusive com um pequeno espelho que eu comprei com meu ultimo dinheiro e que ocupou o lugar de outro, maior, que a minha mae havia querido me dar. Porque o espelhinho dizia respeito a um carinho que eu passei a nutrir por mim. Era simbolico.
Esse tipo de coisa acontece ainda hoje. Eu fico proximo de porteiros, de gente de rua, de cachorros, de passarinhos, de coisas a que ninguem da importancia, porque quero com isso preencher um buraco que ainda sinto em mim com respeito a emocao. Nao sei explicar direito, mas a relacao com pessoas mais proximas nao me diz praticamente nada. e somente lidando com pessoas ou coisas muito pequenas eu me sinto bem comigo e com meus sentimentos.

19/10/2020

A RECUPERACAO PSICANALITICA DEMORA MAIS QUE A PSIQUIATRICA, PARA O DOENTE?
Sim, demora mais. E mais, é algo complicado no sentido de complexo. Tem muitas idas e vindas, tem muitos avancos e retrocessos, e é preciso de muita insistencia e persistencia para nao desistir. Digo isso por mim mesmo. Por vezes, me sinto bem e acho que posso parar com a terapia. Mas uma voz la no fundo me diz que é errado. Eu ate acho que a insistencia de alguns doentes de beberem ou de fumarem maconha vem do fato de que eles nao se convenceram do potencial terapeutico da terapia, e por isso recaem na medida em que nao se conhecem o suficiente. Mas isso ee apenas achismo, nao posso provar nada. Seja como for, o processo de recuperacao psicanalitica vem levando anos, no meu caso, ee algo lento e doloroso, e algo que muda minha concepcao do passado e ate do presente. Eu me sinto algo mais dono de mim, mas isso somente muito aos poucos. Diria que a reabilitacao mesmo so deve advir desse tipo de recuperacao, que tem a ver com muita fala, muita escuta, muita reflexao e muitas atitudes de carinho conosco mesmos.

14/10/2020

Boa noite
Estou vendendo o livro em pdf "Esquizofrenia não é o fim - Surto (1)" já há alguns dias e estou tendo ótima aceitação. Posso entregar por email ou inbox, após o comprovante de pagamento (de trinta reais).
Vejam o depoimento da psicóloga LMN, abaixo, sobre o livro. A psicóloga não é minha, e deu o depoimento livremente.
"Oi, boa tarde! Li o livro em pdf, gostei bastante o modo como racionalmente e de forma prática você ensina as pessoas a lidarem com uma pessoa com transtorno mental. Só não gosto da repetição da palavra “doente”, embora eu veja o motivo por você ter escolhido utilizar dessa palavra para a conscientização da doença mental, acredito que existem palavras mais adequadas para descrever um transtorno mental. Concordo em muito com o que está descrito no livro e te agradeço pela oportunidade de ler ele tanto pela sua superação em expandir a tua vivência em forma de livro.
Concordo em grande parte (com o fato de o doente f**ar vulnerável) mas acredito que cada pessoa tem as suas particularidades aí em lidar com elas. Mas vejo que é um grande avanço você poder escrever esse livro de forma que pode ajudar muita gente sim a lidar melhor tanto com pessoas que conhecem quanto a si mesmos. Os pontos que não concordo são que nem todo mundo aceita e lida bem com ser contido, me parece algo rígido, mas sim existem pessoas que precisam ser contidas mas nem todas. Ainda é uma doença muito delicada e imprevisível muitas vezes. Deixar a pessoa em paz muitas vezes é a melhor opção mesmo e isso você fala no livro muito bem. Grata!"
Quem tiver interesse em receber uma amostra (um capítulo do livro), pode me pedir por inbox.
Obrigado!

10/10/2020

QUAIS AS SENSACOES SIMILARES ENTRE O DOENTE QUE ESTA EM SURTO E O DOENTE EM SITUACAO MAIS CONTROLADA?

Eu considero que a esquizofrenia pode ser diagnosticada a partir de uma crise, de um surto, ou mesmo de caracteristicas pontuais que fazem com que a familia peca um diagnostico da pessoa. Porem, sinto que existe um continuum, um aspecto que aparece ora mais ora menos, e que tem a ver com uma percepcao da realidade de forma distorcida que pode acontecer mesmo com a pessoa ainda nao diagnosticada. Esse continuum vira crise quando situacoes e aspectos internos se tornam mais criticos. Mas, em ultima instancia, uma pessoa em estado mais ou menos normal pode se sentir de forma parecida com um doente, nas sensacoes mais sutis e dificeis de expressar. Vou tentar explicar como sao essas sensacoes.

O doente, em primeiro lugar, sente aos poucos um alheamento em relacao aos lugares, coisas e pessoas. Elas nao lhe dizem respeito. Estao distantes. Ele nao tem como se aproximar delas, inclusive. Tudo o que as pessoas fazem o atinge como se fosse uma chuva leve, que nao lhe causa nada, a nao ser a impressao de que algo esta la. Mas ele nao sabe o que seria. Tudo o que diz respeito à realidade é assim suave demais, inexpressivo e ee o unico que ele tem em maos para descobrir o que esta ao seu redor. Ou seja, ee como se ele estivesse sozinho o tempo todo, mas ao mesmo tempo ele nao sente solidao alguma. Ee como se ele apenas estivesse acompanhado por coisas que estao distantes demais dele, entao nao lhe dizem nada de relevante.

Por outro lado, tudo o que esta ao redor dele ee forte demais. Sei que pode parecer contraditorio. Como ee que as coisas podem ser inexpressivas e fortes ao mesmo tempo? Pois ee. Mas essa contradicao faz parte da forma como o doente se sente. Tudo ee pouco e muito demais, e ele nao sabe entao o que fazer, dado que tudo o atinge tao fortemente que ele nao consegue reagir, e nao consegue entender o que esta fora dele. Por causa de tudo isso, ele se volta PARA DENTRO. Ele nao quer mais saber aos poucos, e prefere esquecer o que acontece para se concentrar na sua crise, que lhe causa muita dor e desconforto. Por causa de tudo isso, ele quer fugir para algum lugar dentro de si, e ele nao encontra nada para isso. Dai que ele f**a o tempo todo dominado por uma sensacao de desconhecimento, de dor e de desconforto e alem de tudo isso de solidao.

Boa tarde

Estou vendendo o livro "Esquizofrenia nao é o fim - Surto (1)". Basta contatar inbox. O livro é por pdf.

09/10/2020

OS SURTOS OCORREM SEM A GENTE ESPERAR? DA PARA PREVER? EXISTEM CUIDADOS A TOMAR?
Quem ee doente sabe que boa parte do esforco de lidar com a doenca esta em uma especie de espera. A gente esta tudo bem, quando de repente o zumbido ataca. Uma pessoa aparece perto da gente e a gente sente algo estranho, como se uma tecla tocasse no fundo da gente e algo se mexesse. Uma pessoa comenta algo e a gente percebe que os pensamentos comecam a se mexer e que a gente pode comecar a criar conspiracoes (como no meu caso, que tenho esquizoafetividade paranoica). Uma pessoa nos liga e a gente comeca a f**ar com a respiracao ofegante, como se algo estivesse nos atacando ou nos ameacando. A gente nunca sabe quando algo acontece e comeca a nos atacar, por meio da doenca, e no fim das contas pode, sob determinadas circunstancias, render um novo surto. A gente nunca sabe e por isso precisa f**ar o tempo todo atento/a, e desconfiado, e mesmo afastado de todos, o tempo todo. E isso parece nao acabar. Agora mesmo o zumbido comecou a crescer, e nao sei por que.
O surto acontece por meio de circunstancias que sao quase sempre graves e impossiveis de prever, mas que se prenunciam e deixam suas marcas aos poucos, quando aparecem. Ou seja, embora sejam imprevisiveis, as circunstancias que promovem o surto aparecem muito aos poucos, e passam impressoes que nos atacam, se tivermos percepcao suficiente para isso. Dificilmente algo que acontece nao se deixa prenunciar por algum detalhe. Uma pessoa inconveniente normalmente aparece de longe, uma pessoa que fala demais ja fala de longe, uma situacao inconveniente nao aparece bem do lado de fora do bar, uma empresa nao liga por determinado motivo, que dava para prever. Tudo ee possivel de prever, e por isso tudo ee passivel de precaucao. O doente pode prever quase tudo, pelo que noto, basta f**ar atento. E com isso os surtos podem se tornar apenas algo menor, distante, dificil de ocorrer. Mas ee preciso f**ar atento. Eu fico atento o tempo todo. Nao saio quando algo pode ocorrer, nao falo com certas pessoas, nao me deixo atrair por circunstancias perigosas para mim, e assim por diante.

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