Bruno Ferreira

mecei a ter medo deles, nem as funcionárias me ajudavam a mandá-los parar de me perseguir. Batiam-me e cuspiam-me na cara assim que me apanhassem, e nesse instante, fiquei com medo de entrar na escola. As novas rotinas que tinha era ficar sempre ao lado da funcionária e via as outras crianças a se divertirem. Não percebia o que tinha feito a eles se nunca os conheci, era só a mim que me queriam. Comecei a ficar para trás nas matérias, só pensava na hora do recreio o que me podia acontecer, nem os colegas me ajudavam a lutar contra eles, não queriam-se envolver. Quando passei para o 4º ano, tinha entrado um colega novo para a minha turma, ele perguntou-me o que fazia no recreio e eu respondi que não fazia nada. Então eu passeei com ele por todo o recreio, ensinou-me até a subir para o telhado da cantina e ganhei confiança, achei que era o meu melhor amigo. Houve uma altura que vi os rúfias no recreio e contei para ele que me batiam e ele foi a correr atrás deles e eles viram-no e fugiram e fiquei contente por aquela atitude! Uns tempos depois ele várias vezes dizia à professora que tinha uma consulta e pedia para sair mais cedo e eu não me questionei porque não me importava. Só que um certo dia eu ia para a casa a pé como fazia todos os dias quanto terminava a escola e vi-o a fumar com os rúfias todos que estavam todos sentados no muro, eu não quis acreditar naquilo e como não se aperceberam de mim eu aproximei-me e escondi-me. Ele contava todos os detalhes de mim que eu lhe contava por confiar nele e eu perdi toda a confiança e fiquei bastante desiludido ao descobrir aquilo. Na semana a seguir, ele reparou que eu estava mais estranho, eu não sabia disfarçar e começou a desconfiar de mim, a partir daí ele ficou mais arrogante e riscava os meus livros a caneta por não obedecê-lo. Perdi todas as esperanças e decidi desistir de brincar no recreio. Foi assim que eu aprendi a desenhar quando não ia para o recreio, as funcionárias até me deixavam sempre que quisesse ficar na sala de aula para fazer desenhos. Já não pensava em fazer amigos com o medo que tinha, nem acompanhava as matérias e estava ansioso por mudar de escola. Quando passei para o 5º ano, fui transferido para a escola de Alfena em 2005. A história foi muito idêntica, a primeira vez que fui comprar um Kitkat, era preciso comprar uma senha na cantina e um miúdo estranho olhou para mim e fez-me 3 rasteiras e eu não tolerei isso, fui obrigado a lutar. Consegui defender-me e consegui bater mas saí a chorar com raiva! Não percebia o porquê de tanto ódio em mim. Nunca tinha feito mal a ninguém e fui obrigado a ter uma psicóloga para me ajudar, mas nem em 5 anos me ajudou muito, eu não sabia explicar como eles só me queriam o mal… foi muito duro a vida. Achei que estava tudo perdido e fiz um amigo chamado Rafael. Foi graças à minha tia que veio comigo para a escola quando ia receber um horário e ela falou com ele. Ele era inteligente e ajudou bastante a endireitar-me e fiquei mais confiante, nós até chegamos a apanhar abelhas por diversão. Mas ele só levava porrada por andar comigo, então teve de deixar de andar comigo e também mudou de escola… eu fiquei destroçado e não estava a imaginar o pior que estava para vir. Quando passei para o 7º ano eu queria contar aos meus pais o porquê que odiava a escola mas não devia ter-me explicado corretamente com as razões certas e acharam normal que era só uma fase da vida. Nas reuniões de pais alguns da minha turma que só me massacravam com palavrões e deixar o meu auto estima ainda pior, mentiram aos meus pais que estava a adaptar-me à turma, ainda por cima acreditaram. Começei a ficar muito gordo, nem me arranjava direito e tinha um penteado feio. Deixei de responder a qualquer pessoa e fui conhecido como o mais esquisito da escola. Durante essa fase eu fugia e nunca almoçava na cantina, ia para o café comer sempre um bolo. Os meus pais durante 3 anos pensavam que estava a usar o dinheiro na cantina da escola que era mais saudável. Quando as aulas eram de história eram muito aborrecidas e então toda a turma tinham um jeito de olhar para mim e eu sentava-me na mesa da frente, senti tantos olhares e a falarem sobre mim, só ouvia a dizerem a palavra “Defeciente”. Eles eram todos unidos, falavam constantemente mal de mim. Eu não aguentava aquilo todos os dias e começei a ficar com muitos nevrites no corpo, não conseguia relaxar e tremia muito assim do nada. Era o mesmo que uma presa estar no meio de muitos leões. Enfrentei todo mundo sozinho, mesmo até ao ir para casa da minha avó na hora do almoço ameaçavam-me! Um que fazia parte da escola disse: “Esta rua é minha! Queres levar porrada?” Eu nem respondi e segui a minha vida e ele sempre a olhar para mim, mesmo assim safei-me. Eu só queria ter tido uma vida normal como os outros, mas não consegui. Fui o escolhido no meio desta história, e ainda me pergunto, porquê eu!? Estragaram a minha infância sem se importarem nada! Quando passei para o 10º ano, fui transferido para a escola de Ermesinde em 2010. Já era um milagre ter chegado ao 10º ano sem saber muita coisa. Finalmente as coisas estavam muito calmas, só que continuava um gordo com um penteado feio e sem saber ter uma vida social. Eu já não tinha qualquer hipótese em nada. Nem fazer amigos e nem acompanhar nenhuma matéria…
Depois deste pesadelo todo, no fim de 2011, abandonei a escola porque já era impossível de acompanhar a matéria. Só estava a ocupar espaço, não era inteligente a nada. Só sabia dar despesas aos meus pais…
Foi assim que perdi tanto tempo da minha vida a desenhar que nem era o meu interesse nem sonho… mas agarrei-me ao que me restava senão para quê que teria sido esta tortuda toda?!
É normal querermos entrar na vida aquelas pessoas populares e cheios de classe, nem que tenham de pisar em alguém. Esses têm estilo e vão sempre ganhando mais auto estima, essas pessoas nunca mais ficam sozinhos na vida. Mas porquê eu? Que mal lhes fiz? Como foram capazes de me baterem sem sequer pensarem se tinha problemas? Já tinha mau aspeto e mesmo assim nunca era o suficiente para eles. Fiquei em casa 3 anos para me recuperar mentalmente e precisei de muito tempo e experiência para voltar a ser o que era à 10 anos atrás, mais alegre e orgulhoso por ter conseguido superar tudo sozinho. Eu sou uma pessoa muito forte e agora não sou mais um sensível e inocente. Aprendi a analisar uma pessoa falsa, percebo algumas atitudes estranhas que suspeito e a maioria no fim batem certo. Agora quando descubro que a pessoa é falsa, brinco com elas e faço-me de b***o para analisar a fundo a sua personalidade. Não é que esteja sempre a observar e a tentar ver as más qualidades, é que capto a pinta das pessoas com mais facilidade, pode uma só frase relevar a personalidade delas. Fiquei sozinho neste mundo solitário, sentia-me inferior a um s**o de plástico, mas nunca desisti, nunca pensei em suicídio. Nasci para alguma coisa, pensei eu. Eu mostrei ao mundo o quanto eu era forte! Perdi 15 quilos em um ano, nunca me meti no álcool, experimentei o primeiro cigarro aos 9 anos e detestei, nunca tive telemóvel sequer para disfarçar grandes vergonhas. Preparei-me muito para casos se enfrentasse um vilão, enfrentei-os e saia todo empenado, mas também dava-lhes porrada. Agora atualmente todos têm tecnologias e estão todos sossegados. Eu chegava a casa e chorava muitas vezes, quando chegava a hora de ir dormir já ficava com medo do dia de amanhã, foi assim durante 7 anos. Vi o mundo de forma cinzenta, nem 1 amigo consegui manter. Não consegui desabafar com ninguém para me explicarem o que poderia ter feito… foi uma situação que não havia caminhos para escolher, fiquei sem saída…

O grande problema atualmente é que todos os meus familiares, tias, primos, etc… nunca me deram o devido valor, nem sabem pelo que passei e toda a vida pensaram que eu era “Especial!”
Conheceram-me de um jeito diferente quando tinha entre os 9 anos, nunca souberam pelo que eu estava a passar na escola. Quem sou eu para reclamar? A vida é mesmo assim, cheio de imprevistos. Sai da escola desgraçado da vida, não sabia quase nada, era impossível continuar a estudar e agora desvalorizam-me por ter sido b***o. No meu tempo ninguém usava telemóveis e eu fui um dos seus brinquedos favoritos, esses gozaram bem a vida à minha custa. Todas as pessoas que fizeram-me mal deveriam gastar o dinheiro todo em medicamentos, eram o que me mereciam…

Enfim, a vida continua e ensinou-me a nunca criticar ninguém. Nunca subestimei ninguém até agora, nem mesmo um sem abrigo. Todos temos histórias por trás da capa do livro.