Sinopse de Coisa Nenhuma

Para quem vê na leitura um transporte para fora do quotidiano. Ficção ou não, aqui f**a a partilha.

08/03/2021

Mulher! Não apenas uma em concreto, nem um grupo específico. Toda e qualquer mulher ao nascer, traz ao mundo a personif**ação da coragem.
Porque é sentenciada desde sempre por duas coisas: por tudo e por nada!
Porque usa um decote vertiginoso e é imoral ou porque não usa, talvez porque não tenha peito para isso. Porque não sabe fritar um ovo (não importa que tenha uma licenciatura em engenharia aeroespacial), ou porque não sabe coser um botão. Porque aos 35 ainda não tem filhos, ou porque é mãe solteira. Porque teve um número de namorados superior àquilo que a sociedade considera aceitável. Porque devia arranjar-se mais, ou porque está demasiado maquilhada. Porque se senta com as pernas afastadas. Porque bebe tanto como um homem e gosta de futebol. E porque isto e porque tudo e mais alguma coisa!
Ser mulher é ser julgada pelo que se veste, pelo que se diz, pelo que se pensa, pelo que se sente! E é preciso ter a coragem de acordar todos os dias e viver na pele de uma.
Ser mãe e dar tudo de si pela sua prole. Ser esposa e cuidar do seu amor, como quem cuida de um tesouro, ainda que esteja cansada de um dia de trabalho. Cuidar da casa, cuidar de todos e no final se ainda houver tempo, cuidar de si própria. É menstruar e ter de lidar com a rotina diária enquanto os ovários parecem andar à porrada um com o outro. É ter dores excruciantes durante o parto e passadas duas horas estar de pé porque o bebé chorou. É ouvir piropos na rua só porque sim.
E ainda assim é o ser mais belo de todos. Inspira canções, embeleza paredes em galerias de arte, arranca suspiros, suscita belos poemas…
Haja coragem para ser maravilhosa!



© Todos os Direitos de Autor reservados nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto
Como autora, autorizo a partilha deste texto, e ou excertos do mesmo, desde que mantido no seu formato original, e seja obrigatoriamente mencionada a autoria do mesmo.

23/02/2021

Esta é a última vez que te deixo.
Infinitas foram as vezes em que o disse, mas em nenhuma fui sincera comigo.

Quantas vezes já bati a porta?
E quantas dessas vezes deixaste essa mesma porta permanecer fechada?

Preciso de me encontrar, sentar-me comigo e esclarecer-me que, como diria Pessoa "Podemos morrer se apenas amámos."; que mereço mais do que encontros fortuitos no rés-do-chão dos teus sentimentos.

Talvez tenha escrito demasiados versos para quem não gosta de ler.
Talvez tenha floreado um amor, que não quiseste regar.
Talvez tenha aceite migalhas, em vez de exigir o pão.

Então quero esclarecer que esta, é a última vez que te esqueço.

(Quem me dera poder!)



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04/08/2020

Caminhei horas na tarde a seguir ao acidente. O céu parecia abrir para mim quando eu chorava mais forte. Eu sei que tive culpa e devia tê-lo dito já que não haviam testemunhas. Era apenas eu e o casal que a minha distração abalroou. Não me sai da cabeça que interrompi duas vidas e como se fosse pouco, um amor.
Depois de prestar declarações, de ver o reboque levar o meu carro, o médico legista dar ordem para remover os corpos e as ambulâncias desaparecerem no fundo da rua, andei sem rumo, pela cidade. As pessoas olhavam-me como se soubessem a verdade. Ou talvez estivessem a tentar perceber o porquê do meu aspeto desorientado.
Em algum momento o céu fechou, a memória do embate do carro contra a tenra carne dos dois amantes, o estilhaçar dos vidros contra a minha cara, o ruído das sirenes, que até ali pareciam surriais, reproduziu-se em loop, diante dos meus olhos. Comecei a hiperventilar, acelerei o passo e refugiei-me atrás de um carro. Ali fiquei, durante mais de uma hora. Até que senti uma palmada nas costas que me fez regressar ao aqui e agora. Era o dono do carro, que me confundiu com um mendigo à primeira vista mas que depressa se ofereceu para me ajudar a levantar.
Desabafar com um desconhecido. Inesperado, mas providencial. Ao perceber que estava a ter um dia mau, ofereceu-se para me pagar uma cerveja. Eu acedi e acompanhei-o num passo monocórdico.
Contei tudo! Despojei toda a culpa em cima da mesa do bar, falei-lhe da mensagem da minha esposa que desviou a minha atenção da estrada para o telemóvel. Algo que me queria contar sobre a nossa filha, assim que eu chegasse a casa.
E agora? Quando chegar, como lhe vou contar que matei a nossa filha?



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📷 iStock

28/07/2020

Acalma-te! Ficará só entre nós…
Não lhes direi que escolheste o meu ventre para te aninhares enquanto brotas como uma linda flor. E não, não é por vergonha e muito menos por não me orgulhar de ti. É porque talvez eles não mereçam saber. Cá fora as pessoas são ruidosas. E quando se faz demasiado barulho torna-se muito difícil ouvir os outros, ouvir-se a si mesmos e ouvir o que o nosso interior nos quer dizer.
Então, guardar-te-ei só para mim até onde eu puder. Vou debruçar-me sobre ti e deixar que as minhas costas sirvam de escudo, para te amparar dos golpes da vida. Não f**arás às escuras! Enquanto houver vida em mim, haverá energia para te iluminar, nesse cantinho que é só teu.
Sei que é uma questão de tempo até descobrirem. Enquanto não souberem ler pensamentos, será um segredo só nosso, guardado como uma pérola dentro de uma ostra. E tal como uma pérola, serás admirado quando te mostrares ao mundo. Antes disso, eu e tu, seríamos apenas uma co**ha vulgar, que numa maré qualquer foi largada ao abandono, numa praia ao acaso.
Sossega. Porque estás no melhor lugar do mundo. O sítio para onde todos nós quisemos voltar, pelo menos uma vez na vida, quando esta nos beliscou ou nos sacudiu: o ventre da nossa mãe. Aí não há bicho papão. Não há monstros, não há medos nem inseguranças, não há espaço para temores.
Nesse lugar, o leito é feito de amor, alimentas-te de carinho e estás envolvido em ternura. As paredes são caiadas de segurança e as portas são blindadas com a força de uma mãe leoa.
Quando nos descobrirem, não terão descoberto tudo.
Nunca saberão o tamanho da força do laço que nos prende.
Nunca saberão que caminharemos juntos, até não haver mais caminho.



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19/07/2020

O dia em que Tu disseste para eu descer à Terra e nela viver durante décadas, foi o primeiro dia em que senti o amargor do arrependimento.
Nesse dia disseste-me que viesse com o coração cheio de Paz e a espalhasse ao longo do meu caminho. Pediste-me que oferecesse amor, bondade, fraternidade e empatia por onde passasse.
O dia em que Tu disseste que eu estava preparada para vir ao mundo, foi um erro no calendário.
Esqueceste-Te de me avisar porque seria necessário que carregasse comigo tamanho fardo de bondade. Porque o lugar para onde vim está vazio de tudo o que é dar sem esperar nada em troca. São poucos os que estendem a mão sem ser para receber.
O ego é de um tamanho incomensurável, de forma que não lhes permite ver muito além de si mesmos.
Ainda assim, dei o que trazia comigo e não raras vezes, dei conta que regressei de mãos vazias. Mas continuei a dar tudo. E quando pensei que não tinha mais para dar, Tu fizeste com que houvesse sempre mais. Mais amor, mais compaixão, mais amizade.
Quis desistir, mas Tu ensinaste-me que quanto mais damos, mais abarcamos em nós também!
Desde o dia em que Tu disseste para vir e fazer com que o amor se reproduzisse em mim, como se eu fosse uma fonte, onde os que amam apenas o ego possam beber, passei a ser água, alimento, colo, apoio, sustento e tudo o que não são uns para os outros.
Sobretudo sou espelho, para que vejam em mim o reflexo de um sítio melhor para viver. Um lugar onde seja possível olhar em volta e não só para dentro de nós. Onde todos os homens dão as mãos, ainda que de diferentes cores e cantem a mesma canção.



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11/07/2020

Toma de mim os olhos,
Para que em ti possas ver
Com que cores pinto os meus sonhos.
Se te olhares por dois segundos,
Vais querer tomar-me o coração
E guardá-lo em lugar seguro.
Nesse momento,
Terás descoberto onde vives…



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28/06/2020

Com licença! Tirem por favor a vossa felicidade da frente e deixem-me passar, porque vou carregada.
Levo nos braços todo o peso de não me sentir desejada onde estou e de me sentir diferente por quem sou. Cansada de pedir que me aceitem como nasci, quando afinal, é um direito meu! Exaurida de ter de explicar porque penso diferente, porque sinto diferente, porque sou diferente.
Somos TODOS!
Então, apenas saiam da frente e deixem-me largar este fardo!
Pousar, ou se tiver força, atirar para bem longe de mim. Para um lugar onde não existam raças, etnias, géneros, opções se***is, classes sociais, modelos a seguir como se fossemos bonecos em linhas de montagem.
Quero viver sem rótulos, porque nasci e irei morrer como ser humano, não como objeto.
Tenho um nome, que foi escolhido pela minha família quando nasci. E esse sim, é algo que me define, mas mesmo assim não é só meu!
De resto, sou um livro em branco e só eu posso escrever e apagar o que sou hoje, e amanhã talvez já nem seja.
Podem tentar fazer-me sentir diferente, mas nunca me farão sentir inferior.









📸 Diálogo Psi

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21/06/2020

Porquê Pedro?
Eu pergunto, porquê oquê?
Ele também não preferia este desfecho. Mas só ele sabia o peso da cruz que carregava diariamente.
Não adiantava, ainda que o próprio cá estivesse para explicar, tentar com que percebessemos porque o fez.
Sabem por quê? Porque o lugar mais difícil de estar é e será sempre o lugar do outro.
Respeitemos a sua opção.
Resta-nos desejar que tenha conseguido desta forma triste, a paz que tanto buscou em vida.
Descansa agora, Pedro. 🖤




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19/06/2020

Não sei em que momento se deu a mudança, mas algures no tic-tac dos ponteiros do relógio da minha existência, algo me disse que já era demasiado tarde.
Não custa tentar, dizem eles!
Será?
Está a custar a minha vida, a minha paz e o meu tempo. Assim sendo, é demasiado caro.
Quantas vidas terei eu além desta?
Quantas noites estou disposta a passar acordada, enquanto dormes tranquilamente no conforto de saber que estou sempre aqui?
Quanto tempo me resta, para lhes dar ouvidos e correr atrás daquilo em que não acredito, mas queria tanto que fosse verdade?
Tenho apenas uma certeza. Quando demorámos a fazer uma escolha, a vida fá-la por nós. Pensa em mim como se eu fosse um comboio. Certamente passarei por ti outras vezes, enquanto te manténs parado no apeadeiro que é a tua vida. Eu paro, abro as portas para que entres, vezes sem conta.
O que esperas? Que alguém te obrigue a fazer esta viagem, certamente.
Não funciona assim.
Apressa-te a embarcar, ou um dia parto sem ti.

📸 Nídia Fernandes



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14/06/2020

É um vai e volta, tal como numa dança.
Imagino-nos como duas aves no céu, a rodopiar uma em torno da outra. Sem se tocarem nunca, mas como se estivessem amarradas por um fio invisível.
Dão voltas e voltas, não saem desse movimento tolo e cansativo.
Para quê? Com que finalidade?
Caminhos que levam a algum lugar, são por norma em frente! Nunca às voltas.
Estou cansada.
Preciso arranjar forma de conseguir ver o fio invisível e então cortá-lo, para que cada um de nós possa voar para longe um do outro, ganhar um rumo e deixar de andar às voltas.
Se o vires primeiro, corta-o por favor.

02/06/2020

Ele não tinha o direito,
De por uma nota falsa
Roubar-te o que mais tinhas de teu!
Colocar o joelho no teu pescoço
Até implorares por oxigénio.
Ver a vida a dissipar-se nos teus olhos,
E ainda assim, envergava a farda da supremacia branca,
Não a de um agente de autoridade!
Pediste água, não ouviram.
Pediste para respirar, não ouviram.
No fim da linha, fizeste o que todos fazemos
Quando já não há solução:
Chamaste pela tua mãe que já havia partido
E ela veio buscar-te!
George Floyd, descansa agora, longe do inferno!



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31/05/2020

Hoje acordei com saudades.
Saudades de ser eu e vestir a minha pele
De falar por mim, com certeza nas palavras
E sentir tudo intensamente
Cores, aromas e temperaturas.
Há tempos que não sei de mim
Desde que tento saber de ti
Mas chego à conclusão que não sei nada!
Perdi-me no espaço que existe entre nós
Que é pouco na distância geográf**a
Mas imenso em outras coisas.
Quais?
Sei lá!
Há tempos que não sei nada…
Há tempos que não sei de mim.



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18/05/2020

Remexia os sentimentos dentro do peito em busca de algo que lhe faltava, mas não tinha noção do que era. Era como alguém que remexe a carteira, na fila do supermercado, à procura dos 10 cêntimos que lhe faltam para pagar a conta. Mas nesse caso específico, sabemos o que procuramos. Os 10 cêntimos.
É conveniente, que antes de remexermos os sentimentos, seja no próprio peito ou no peito dos outros, saibamos o que estámos a procurar!
Corremos o risco de encontrar algo que não queríamos.
Corremos o risco de encontrar um peito ausente de sentimentos.
E corremos o risco de encontrar algo fantástico. Algo bom, que nos surpreende de tal forma, que não sabemos lidar. Procurávamos 10 cêntimos e acabámos por encontrar uma nota de cem! Aí surge a dúvida se merecíamos tanto. Quando a esmola é grande…
Ficar com medo de aceitar o que nos surge, quando nem sequer sabíamos o que procurávamos é perigoso. Raramente a vida dá a mesma oportunidade duas vezes.
E se tivermos a certeza que gostámos daquilo que encontrámos, se é algo que nos faz sentir bem e ainda assim desperdiçamos a oportunidade, viramos as costas a achar que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar, aí já é presunção! Não vale a pena continuar a remexer nada, principalmente no peito dos outros.
Quem não sabe o que procura, dificilmente percebe quando encontra. Não vai saber dar o devido valor. Facilmente vai perder.
A pior sensação é a de ser a nota de cem nesta história .Ela sabe o valor que tem. Estava no seu canto até ser encontrada por alguém que não lhe soube dar valor e lhe deu mau uso.
Quem remexe sentimentos continuará uma procura interminável.
A nota de cem, mantém o seu valor e f**a na esperança de não voltar a cair nas mãos de quem não o sabe reconhecer.



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14/05/2020

Tínhamos combinado no jardim em frente à biblioteca. A seguir aos primeiros abetos. Cheguei primeiro, antes da hora. Ainda não estavas. A minha barriga deu três voltas. Que nervoso miudinho! Tantas mensagens trocadas e agora que finalmente te vou encontrar, sinto-me completamente desalinhada.
A hora está próxima e nem sinal de ti. A barriga voltou a reclamar. Será que te arrependeste? Não acredito! Não me farias isso! Ou será que farias? Pois…
Resolvi andar um pouco para ajudar o tempo a passar. Caminhei até à estátua de mármore e toquei-lhe. Não sei qual das duas estava mais fria e pálida, se eu ou ela! E num arrepio saí dali.
Estavas atrasado vinte minutos. Será que te aconteceu algo? Um acidente?! Subi ao coreto para ver melhor. Com atenção e como quem espreita, dei a volta toda. E nada. Nem sinal de ti. Se não viesses, avisavas-me, certo? A menos que…
Será que te distraíste a ver os cisnes? Claro que sim! Adoras animais. Fui até ao lago. Dei uma volta. Duas. Ia dar a terceira. Não estavas.
Uma hora? Tento arranjar uma justif**ação lógica. Arrependimento? Falta de coragem ou falta de respeito?! Perdeste o autocarro ou a vontade?
Sentei-me num banco. Dizem que espera melhor quem espera sentado. É estranha a sensação de esperar por alguém ou algo que não sabemos se irá chegar algum dia, em algum momento. Em que momento devemos desistir e ir embora? A partir do momento em que um jardim coberto de lindas flores, coloridas e perfumadas passa a ser um lugar desconfortável, onde não queria estar agora! Onde as árvores, os cisnes, as estátuas e os bebedouros parecem rir-se de mim, como se soubessem que não virias.
Desisti! Desatei a correr e no meio da fuga, ao passar os primeiros abetos, fui contra ti.







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10/05/2020

Vivia aturdida com os constantes atropelos da vida. Enquanto se erguia, com as pernas trémulas e o cabelo empoeirado, lá vinha a vida, a alta velocidade e passava-lhe por cima sem dó,sem olhar para trás, deixando-a a agonizar. Fora assim desde sempre, ou desde que tem memória. Ou talvez as escassas boas memórias tenham sido eliminadas por falta de espaço, num coração melindrado.
Alugou um espaço imaginário, onde se sentia confortável com a sua amargura e por lá se deixou repousar por largos anos. Alimentava a ideia de que não merecia mais do que o fel que lhe azedava os dias.
E tudo era cansativo e exasperante! Tudo era negativo. Não conseguia, nem fazia questão de ver o lado positivo de cada situação. Um dia descobriu, que tudo não passava de puro egoísmo, consigo e com os outros!
Dias maus todos temos, mas alguns optam por ver os acontecimentos como situações, simples e aleatórias, que acontecem hoje mas amanhã já nem sequer são memórias. Outros optam por ver essas mesmas situações como um gigante Adamastor, que cria uma tempestade de nevoeiro ao nosso redor e nos impede de ver as mil e uma soluções disponíveis. Amarra-nos com enormes grilhões, impossibilitando-nos de agir. E constrói muros à nossa volta, para que ninguém se consiga aproximar e estender-nos a mão.
Aí descobriu que a cura para a tristeza era despir a armadura, que não servia para proteger, mas para isolar! A cura era viver e correr riscos. Risco de perder ou ganhar. Risco de se magoar e aprender com isso, ou o risco de ser feliz!
Não personif**ar a vida como um temível vilão. Pelo contrário! A vida é como uma bateria. Enquanto durar, é-nos permitido fazer tudo. Cabe-nos a nós escolher de que forma a gastamos. Vivemos ou apenas esperamos acabar.



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10/05/2020

Na manhã em que regressei do mundo dos mortos, senti uma certa algazarra à minha volta, por parte dos profissionais que cuidavam de mim há anos. Senti verdadeira energia positiva e percebi que me olhavam como se de um milagre se tratasse.
Fizeram questão de me pôr a par do que me tinha acontecido há vinte anos, na véspera de Natal. Disseram-me que saí e não mais voltei. Tinha sido assaltado, baleado e o resto do Natal, foi o que foi.
Eu ouvi tudo, quiescente. Mas na realidade, quase nada do que me foi dito era novidade. Embora tivesse jazido numa cama por tantos anos, tinha muitas memórias. Memórias auditivas.
Durante vinte anos fui ouvinte, fui moleta de quem precisou de se apoiar. Começavam por dizer que sentiam a minha falta. E acabavam por me contar os seus problemas e alegrias. A minha mãe chorosa pelo falecimento do meu pai, a revolta do meu filho pela minha ausência, principalmente nas noites de Natal. Mas também a primeira namorada… e a segunda! Quando terminou o mestrado e eu queria tanto levantar-me e abraçá-lo! Foi por ele que soube também do novo namorado da mãe. Sim! Aquela que até à fatídica data era minha esposa. Aquela que me fez sair em plena noite de Natal, porque lhe apeteciam os sonhos da padaria. E como os sonhos dela eram os meus, eu saí para os comprar.
Raramente me visitava. Quando o fazia queixava-se de tudo. Cheguei a desejar que não me visitasse mais! Ouvi-a dizer várias vezes que eu nunca iria acordar, ou caso acordasse, nunca sairia daquela cama.
Eu não merecia!
Pedi ajuda à enfermeira que cuidava de mim. Ela acedeu! Acompanhou-me a casa da minha esposa, mas antes passámos na padaria. Fui entregar-lhe os sonhos. Embora atrasados, sou homem de palavra.

📸 Clara de Sousa



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10/05/2020

O espelho estalou ao ver o seu reflexo, grave e sombrio, de mulher-menina que desistiu de sonhar.
Não entendeu que ali começava uma nova jornada.
Assim como as cobras trocam de pele deixando para trás uma parte de si, para poder expandir-se, ela teve de largar as amarras, desancorar, para se permitir renascer. Para se permitir navegar através das brumas e transcender-se.
Emendou-lhe as fendas, para que não partisse de vez. Tirou de si própria largos pedaços de força e determinação e com elas o restaurou! Precisava dele! Precisava que dali em diante, refletisse outras cores, outras vidas, outros amores!
Precisava de olhar para ele e num momento de paz, lembrar-se de quem era e por mais que a vida tentasse, podia ter padecido, mas continuava a ser gente. Daquela gente que vai ao fundo, mas emerge com a força de um vulcão e se ergue perante as cinzas, sacode a poeira e segue.
Às vezes é preciso ressurgir. O tempo não pára, por estarmos agarrados aos ponteiros do relógio. Por isso, devemos escolher muito bem onde o desbaratamos. Não é preciso rasgar a página, basta não a voltar a ler.
Daquele dia em diante, a imagem refletida naquele espelho passou a ser refulgente.
Passou a ser luz, como os raios de sol que resurgem após severa tempestade. Passou a ser doce, como a melodia de uma guitarra, saída dos dedos macios de quem lhe faz vibrar as cordas. Passou a ser leveza, daquele abraço onde nos demorámos. Passou a ser aconchego de quem é recebido com ternura em casa dos velhos pais. Alegria na gargalhada dos gaiatos ao sair da escola… e cores alegres, fragrâncias suaves, sons quentes… e tudo, tudo que há de bom e signif**a estar vivo!
Espelho, objeto inanimado, que apenas reflete o quisermos ver nele…

📸 Saber Jung



© Todos os Direitos de Autor reservados nos termos da Lei 50/2004, de 24 de Agosto
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10/05/2020

Atirou os dados e neste simples rolar, ficou sem a última nota que trazia no bolso. Já era tarde. Veio embora! Tinha chegado sem fé e regressou sem fé nem sorte!
Estes últimos dias têm sido difíceis, de forma que também tem chovido um pouco dentro dele.
Ele é bom rapaz, tem um olhar terno, é bem sucedido, mas tem um grande problema: vive para trabalhar!
E quem lhe lê os olhos, vê profunda tristeza e não entende! Então com tanto mérito, tanto dinheiro, tanta visibilidade, o que é que lhe falta?
Falta-lhe tempo! Tempo para sentar e fazer uma refeição descansado, tempo para se encostar no sofá a fazer zapping, tempo para abraçar os velhos pais, brindar com os amigos, tempo para desperdiçar! Falta-lhe tempo para viver!
Mas o que mais faz chover dentro dele, é que não tem tempo para ELA!
Quando se deita na almofada, debate-se com a ideia de abrir o coração contra a ideia de que não vale a pena, porque não lhe conseguirá dedicar o tempo que ela merece! Então nunca lhe contou!
E sujeita-se então, a f**ar à chuva sozinho, imaginando que ela está em algum lugar, feliz e rodeada de gente bonita, sem sequer se lembrar dele. Imagina-a a dançar, em câmara lenta, com um vestido rodado e florido. E o sorriso dela ilumina quem está à volta! Todos se voltam para a ver rodopiar e aplaudem ao som da música!
O coração dele, abre-se a meio num dilúvio de ciúme, de uma imagem que nem sequer aconteceu, mas que o faz temer que aconteça!
Ele nem imagina, que ela sempre esteve ali, com um guarda-chuva de esperança, à espera que ele decidisse abrigar o seu coração junto ao dela! Ou que lhe pedisse para dançar com ela na chuva!

📸 Pinterest



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10/05/2020

Quando vi que eras tu, aquele pedacinho de quase nada, que há meses se aninhou no meu ventre e nele escolheu abrigar-se dos golpes da vida, para poder brotar como uma linda flor…
Quando eu vi que eras tu, qual bolinha cor de rosa, encolhida e enrugada, o ser maravilhoso que me escolheu para chamar de MÃE!
Nesse momento ofereci ao mundo a minha alma, em forma de gente. E gente essa impossível de não amar!
Foi aí que a minha vida fez uma pausa, tudo parou, para te ver viver. E só continuará quando tiver tempo para mim, SE o tiver!
Desde aí és flor que perfuma os meus dias mas és também o medo da perda!
És o meu coração fora do peito! Consegues ser a minha coragem e a minha maior fraqueza!
És amor puro, daquele que rasga o coração , só de pensar!
O teu sorriso é como um banho morno, no fim de um dia difícil. A gargalhada então é uma explosão de cores numa paisagem cinzenta.
E eu que nunca tinha percebido o sentido da vida! É tão simples!
Contigo pretendo ser um nó, um laço que ninguém consiga desatar e ao mesmo tempo deixar-te livre.
Quero ser o pilar onde te apoias, quando a vida te tentar passar a perna, sem impedir que aprendas a lição que ela tem para te ensinar.
Quero ser a brisa fresca, quando o ar se tornar pesado ou te sentires sufocada.
Quero ser calmaria, no meio do mar revolto, um porto seguro para a tua embarcação.
Seremos um ser em dois corpos, sempre que as nossas almas se encontrarem. Serei colinho sempre, enquanto eu respirar! Quando não respirar, serei luz. É só procurares no céu a estrela mais brilhante.
Caminhemos sempre juntas, até não haver mais caminho…

Nota:Por norma os textos publicados são reflexões, contos ou pura ficção.
Este em especial é dedicado à minha querida filha Laura.
A flor que perfuma os meus dias.



📸 Nídia Fernandes

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Porto, 4050

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Berço Das Palavras Berço Das Palavras
Porto

Escrita Literária

ᴘᴀᴛʀíᴄɪᴀ sɪʟᴠᴀ 𓂀ᴄᴏʀᴘᴀʟᴍᴇɴᴛᴇ𓂀 ᴘᴀᴛʀíᴄɪᴀ sɪʟᴠᴀ 𓂀ᴄᴏʀᴘᴀʟᴍᴇɴᴛᴇ𓂀
Porto

ᴛᴇʀᴀᴘɪᴀ ɪɴᴛᴇɢʀᴀᴛɪᴠᴀ ᴛʀᴀɴsᴘᴇssᴏᴀʟ ᴠɪsãᴏ ᴛʀᴀɴsɢᴇʀᴀᴄɪᴏɴᴀʟ ᴄᴏɴsᴛᴇʟᴀçãᴏ ғᴀᴍɪʟɪᴀʀ ʜᴜᴍᴀɴ ᴅᴇsɪɢɴ sʏsᴛᴇᴍ ᴀsᴛʀᴏ

Contos ao Balcão Contos ao Balcão
Campanhã
Porto, 4350-350

contos ao balcão, são contos que comecei a escrever a 2 anos agora vou colocar nesta página os t?

Jacinto-Thor Goibá Jacinto-Thor Goibá
Porto, 4000242

Escrita com amor

Kuskos Kuskos
Porto, 22

Evidenciar o tacão de ferro a que estamos sujeitos na actualidade

Bocas Perversas Bocas Perversas
Porto

Uma página de escrita, de devaneios, confissões e de desejos. As tuas histórias. Os nossos pensam

Rodolfo P. C. Barros Rodolfo P. C. Barros
Porto

Orador motivacional, palestrante, escritor sobre temas motivacionais. Leia o livro " Qual o Preço