Psicóloga Danielle Nuernberg

É um assunto muito delicado pois ainda temos poucos estudos que conseguem quantif**ar essa correlação. Uma dificuldade que existe provavelmente pela resistência do paciente em admitir ou vergonha de falar que está com esse problema. Guidelines de revisão da sociedade americana de cirurgia bariátrica e metabólica apontam um índice de 6,5% de abuso de álcool dos operados. Mas também existem estudos que mostram que alguns pacientes melhoram das suas dependências depois da cirurgia. Geralmente prestamos atenção nas coisas que dão muito errado e não nas que dão certo. A grande maioria se recupera de uma série de quadros psicológicos após a cirurgia, uma parcela pequena piora, mas essa f**a em evidência.

》O importante é considerar o abuso como um grande problema e informar o paciente que procure ajuda o quanto antes. Entre as possíveis causas do abuso, a principal é a mudança na absorção do álcool pelo organismo após a cirurgia. Como altera a fisiologia do estômago o álcool passa direto para intestino e é absorvido mais rápido e também demora mais a ser eliminado. Alguns estudos também apontam que a soma de uma não metabolização gástrica com a maior absorção seria como se a dose de álcool fosse dobrada. Não tem como prever, quem pode desenvolver o abuso, a orientação é muita cautela ou não beber. Isso porque não existe nível seguro de consumo, o que para um pode ser inofensivo para outros pode ter impacto maior. Quando o padrão de consumo muda, ou seja passa de um consumo eventual para um consumo habitual, podemos dizer que existe a dependência. No início a busca é pela via do prazer mas depois vira necessidade.

》O tratamento da dependência do álcool é bem complexo, não só pela falta de recursos, mas também por sofrer influência cultural (como se trata de uma droga lícita possui grande aceitação social). Portanto cautela e autoconhecimento é o mais coerente. No início beber é como um ato de liberdade, e pode continuar sempre assim, porém requer atenção quando caminha para o hábito, pois é desse modo que aumentam as chances e o perigo de se tornar uma dependência!

Psicóloga Danielle Nuernberg
Membro COESAS - SBCBM

Tratar a obesidade vai muito além do "fechar a boca e fazer exercícios"!

Tratar Obesidade vai muito além do "fechar a boca e fazer exercícios"

👉Muitos pacientes com compulsão alimentar buscam na psicoterapia uma tentativa dentre as muitas que já fizeram para conquistar o emagrecimento. O que pode ser um equívoco, tendo em vista que o tratamento não é baseado em peso nem em forma corporal, mas no comportamento e sobre como você se vê. Pensando bem, o sofrimento existe independente do formato do corpo.
👉Anos de dietas e restrições acabam alimentando crenças disfuncionais sobre alimentos milagrosos ou totalmente proibidos. Alguns não sabem nem o que colocar no prato. Mas você já se perguntou o que te falta? Ao invés de insistir no que você erra?
Por vezes reitero que não se deve restringir e sim incluir. E aí muitos relatam que tem receio dessa liberdade pois temem perder o controle. É compreensível, visto que diante do medo queremos segurança, mas é preciso entender que é o contrário. O medo de perder o controle conduz a querer restringir e excluir, no entanto é a restrição que leva a compulsão. Se queremos diminuir o descontrole, a ideia é incluir.
Não existe fórmula mágica para tirar o medo, mas é possível aprender a regular essa emoção. Isso é gradativo, exige paciência e não é de uma hora para outra. Vale lembrar que não é sobre “não sentir” é sobre cuidar dessa emoção que existe, que é real e deste modo, impossível de fugir. No início o desconforto é maior porque você está indo na contramão do que te dá segurança, mas aos poucos você descobre que pode se sentir seguro por outras vias.
Outro desafio é derrubar a crença de que quando chegar no peso x f**ará tudo bem, ao invés de cuidar das emoções que acabam no comer compulsivo. Por essa razão, o objetivo não é trabalhar perda de peso, mas desenvolver uma relação melhor com a comida. Conhecer seus sinais de fome e saciedade e não fazer as coisas no automático sem perceber, nem pensar. Dar nome a emoção para poder cuidar dela, uma vez que a ideia é regular e não controlar. Emagrecer não é o único sentido da vida. Quem é você atrás do seu peso e do seu corpo?

💬 Pode parecer exagero, afinal nem todos tem predisposição a desenvolver um
transtorno alimentar, mas é importante saber que no mínimo, irá contribuir para
desenvolver um autojulgamento negativo. Quanto mais escutar comentários
desse tipo, maior será a probabilidade de criar uma referência incorreta do
tamanho corporal. Por mais que a intenção seja ajudar, pode causar o efeito
contrário aumentando o sentimento de culpa, incapacidade e acentuada
autocrítica.
Vale lembrar que o transtorno alimentar não surge de uma hora para outra,
mas se desenvolve ao longo dos anos a partir de predisposições genéticas,
socioculturais, vulnerabilidades biológicas e psicológicas. A construção da
imagem corporal começa desde que nascemos e continua ao longo do
desenvolvimento da criança. Por isso, muito cuidado ao fazer comentários na
frente dos pequenos como se não fossem ligar. Eles podem internalizar crenças
de que não são capazes e que são os responsáveis por desagradar e frustrar o
adulto. Um sentimento que aprisiona e os tornam suscetíveis a tolerar e aceitar
coisas, mesmo contra sua vontade.
Todo paciente com transtorno alimentar, tem na memória episódios que f**aram marcados pelo impacto que geraram na autoestima. Provavelmente a
pessoa que falou não vai lembrar e não tem ideia do efeito que um simples
comentário causou, mas segundo muitos pacientes, foi a mola propulsora para
adotarem atitudes rígidas e até um o caminho perigoso de medidas extremas.
Ouvir do outro que precisa melhorar sua forma física, pode ser a
confirmação de tudo que a pessoa pensa de negativo sobre seu corpo. Podendo
motivar métodos compensatórios na tentativa de diminuir o desconforto. Essa
busca desenfreada para se sentir confortável, afasta o sujeito da própria
subjetividade, tornando mais difícil reconhecer suas necessidades já que está sempre preocupado com a aprovação do outro.
Lembrete importante:
• Não subestimem a capacidade das pessoas de fazer o óbvio
• É bem provável que já tenham testado suas dicas infalíveis. Acredite, elas tentam coisas que você nem sonha
• Ouvir as dificuldades antes de emitir opinião, podem evitar muito desconforto!

👉Essa regulação se desenvolve na infância e se a criança vive em um ambiente que não acolhe, ou gerencia suas emoções de maneira inadequada, podem aprender a se acalmar através de comportamentos disfuncionais. No caso dos transtornos alimentares pode ser através dos alimentos. Alguns ambientes gerenciam respostas emocionais intensas seguidas de recompensas com alimentos: “se você parar com isso, poderá comer”, ou toda vez que a criança está triste, fazer o prato preferido. Para algumas crianças a única forma de receber atenção é quando recebe comida. Dessa forma, diante de estímulos estressores recorrem a comida, pois foi a maneira que aprendeu para se regular.

🍽 No transtorno alimentar, o comer em excesso, vomitar ou restringir, são comportamentos que exercem um alívio rápido e que apesar de durar alguns segundos, já é suficiente para o cérebro se autorregular. Como acontece um rápido alívio, a pessoa f**a suscetível a ter o mesmo comportamento diante do mesmo agente estressor, pois abre uma urgência em tentar resolver e sair daquela emoção. Isso reforça o cérebro a exigir que tenha esse “comportamento problema” como meio de regular suas emoções. Por ex: o comer compulsivo, onde a comida é vista como solução. 

👉 Diante desse contexto tão complexo e sabendo que o ato de comer envolve aspectos sociais, emocionais e culturais, é imprescindível que os profissionais de saúde abandonem seu olhar reducionista e preconceituoso. Adotar um manejo equacional calculado, cheio de regras e restrições, podem piorar o transtorno alimentar, além de reforçar falsas crenças de que os pacientes são fracassados e não possuem controle. O caminho é outro, estamos diante de uma doença que tem tratamento. Não é simples, nem rápido como gostaríamos, mas após entender todo comportamento, podemos ajudá-lo a se autorregular através de outras vias sem ser através de comportamentos que lhe prejudiquem.  
Psicóloga Danielle Nuernberg