Luciano Lima Psiquiatra

Alerta de spoiler do filme: “A substância”
Uma obra incrível, toda metafórica.
Demi Moore, no papel de Elisabeth Sparkle, numa atuação impecável e corajosa, aceita viver o papel de uma mulher descartada pela TV por ter envelhecido, e estar fora dos padrões hollywoodianos para o programa no qual era protagonista. Precisavam de alguém mais jovem!

Tudo isso f**a claro na trama, e está sendo assunto muito comentado, porém, ainda não vi nada sendo dito a respeito de Harvey, interpretado por Dennis Quaid, algo no mínimo curioso. Ele é um homem rico, poderoso, mais velho que a mulher “fora dos padrões”. É ele quem dita o que deve ou não ser visto. Claro, tudo de acordo com o que o público e os patrocinadores querem. O recurso da câmera grande angular, muitas vezes usado no filme, com um zoom incrivelmente nítido, mostrou uma cena de Harvey comendo camarões de forma grotesca, asquerosa, praticamente um ogro devorando a comida, se lambuzando, e produzindo uma pilha de cascas e restos. É assim que ele trata as mulheres: usa, abusa e descarta! No mesmo momento, com amplif**ação do áudio, ouvimos o intenso barulho da mastigação, algo repugnante. A cena mostra um homem extravagante, com roupas e assessórios brilhantes, com a “permissão” social para ser “o que quiser ser”. É esse “que pode tudo” quem demite a mulher que “já deu pro gasto”. Na cena final, já transformada no “monstro”, “ElisaSue” dizia: “sou eu, ainda sou eu”. E alguém na plateia diz: “o monstro!” Uma cena espelhada, na qual monstros são aqueles que estão recusando enxergar quem está por trás daquela “aparência”. O “monstro” é a mulher cuja aparência não agrada mais; o “monstro” é a rejeição do envelhecimento e da morte.
Para mim, o momento apoteótico do filme é o sangue jorrando na plateia, todos com as “mãos sujas de sangue”, coniventes com essa indústria que descarta pessoas.
É um filme para revirar a gente pelo avesso! (Texto continua dos comentários)

Grande parte do sofrimento humano vem da necessidade de nomear/rotular/definir. Enquanto eram dois garotos, vivendo sua relação, sem se preocupar em definir o que era aquilo, eles curtiam um ao outro, viviam; estavam "sendo".
A partir do momento em que surge, da sociedade, a necessidade de saber o que se passa entre os dois, o problema começa: "vocês são namorados?"
Um filme incrível, sutil e profundo, com uma fotografia irretocável.
Que possamos aprender a viver sem a necessidade de nos encaixar, rotular, enquadrar; que possamos ser aquilo que existe dentro de nós.
Obrigado , por essa indicação preciosa.
Luciano Lima

Nossa vida é cheia de desafios, nossas “estradas” cheias de curvas e obstáculos, nosso dia a dia exige enfrentamentos. Existem os problemas triviais, mas também, aqueles que exigem de nós preparação para seguir adiante, como a mudança de carreira, o planejamento para aposentadoria, a decisão de ter ou não ter filhos ou uma separação. Não é por serem “adiados” que esses problemas deixam de exercer algum efeito maléfico em nós. Muitos pacientes buscam tratamento psiquiátrico no exato momento em que essa falta de atitude cobra seu preço. A cada recuo de enfrentamentos, você desiste um pouco de si mesmo.
Luciano Lima.

Percebo, ao longo dos tratamentos, que muitos dos meus pacientes f**am como que obcecados por seus “sintomas”. Há uma melhora inicial com o uso de medicamentos, e a pessoa sai de um estado muito ruim, para um estado bom ou ótimo. Porém, como a vida não para, os problemas vão acontecendo. A pressão no trabalho, os desentendimentos afetivos, os problemas com os filhos, entre outros, são situações que, quase sempre, irão gerar em nós alguma resposta emocional. Porém, estar diante de um psiquiatra parece ser a oferta de uma vida “sem problemas. Por isso, uma pergunta que repito muitas vezes para os meus pacientes é: “se você não estivesse se tratando com um psiquiatra, você agendaria uma consulta diante do sintoma que você está me relatando?”
Muitas vezes o “sintoma” é apenas uma resposta fisiológica a uma situação da vida.
Luciano Lima.

Costumo comparar os efeitos da psicoterapia com aplicação de dinheiro na bolsa de valores. Na bolsa, você pode, nos primeiros anos, ganhar e perder rendimentos, inclusive chegando a f**ar negativo em relação ao capital investido. Mas, com o passar do tempo, os ganhos acumulados são capazes de mitigar as perdas eventuais e, mesmo com elas, o saldo permanece positivo.
Na psicoterapia também pode ser assim: alguns altos e baixos, mais intensos no início, mas os ganhos ao longo dos anos servem de aprendizado para lidar com situações que antes seriam adoecedoras. Psicoterapia é investimento!
Luciano Lima.

A mesma água que tira a sujeira de uma roupa, mancha a mesa de vidro se f**ar parada e secar; a mesma água que hidrata, pode carrear bactérias letais; a mesma água que refresca, pode queimar.
Da mesma forma, uma positividade “sem limites” pode te levar a não enxergar e não mudar a realidade que, de alguma forma, te faz sofrer. Nenhuma “positividade” deve servir para te fazer aceitar aquilo que você pode e deve mudar.
Luciano Lima

No lançamento do primeiro livro infantil dessa querida que a vida me deu!
Muito sucesso para você
Que livro lindo, tão denso e delicado ao mesmo tempo. ❤️

Ontem foi um dia especial: reencontrar colegas de trabalho do Centro de Saúde que trabalhei por 8 anos como Médico de Família e Comunidade. Alguns, eu não via há 12 anos.
Quantas lembranças me ocorreram. Trabalhar no Programa de Saúde da Família pelo SUS, foi a maior escola que tive na minha vida profissional. Lá, eu aprendi o real signif**ado da palavra humanização. Lá, eu aprendi a potência que há no trabalho em equipe, no qual cada saber se soma, e quem ganha com isso somos nós e os pacientes. Lá, eu aprendi que a mente, em muita situações, é a grande responsável pelos problemas do corpo. Lá, eu pude compreender que as famílias adoecem de conflitos não resolvidos. São tantos aprendizados, que não caberia aqui nesse texto.
Mas o mais importante vem a seguir… ontem, recebi tanto carinho, de pessoas que não tenho contato há tanto tempo, que pude reafirmar que o Centro de Saúde Santa Maria é uma familia muito especial.
Muito obrigado por tudo ❤️

Encarar determinados pontos e fragilidades do nosso psiquismo exige preparação… é comum pacientes desistirem de suas psicoterapias precocemente, dizendo não estarem ajudando. Pode ser verdade, pode ser o método que não é adequado para aquela pessoa, podem haver vários motivos, mas um deles é a necessidade de paciência…
Não se constrói um edifício sem alicerce. Essa parte pode demorar longos anos num processo de terapia. Processos que propõem soluções rápidas estão fadados fracassar futuramente, quando o “castelo de areia cai” na mínima tempestade.
Luciano Lima